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6 DE FEVEREIRO DE 1941 169

Chocantes e eloquentes, a favor das crianças vítimas da guerra.
É que, horas decorridas, esse formosíssimo apelo estava convertido em alguma coisa mais do que numa iniciativa feliz dum grande cotidiano. Transformava-se
num autêntico movimento nacional, logo anunciado em todo o mundo, deste tranquilo recanto da Europa, pela força serena dos mais altos sentimentos de justiça de solidariedade humana.
A Assembleia, Sr. Presidente, não pode desconhecer este facto. Pela sua, natureza essencialmente política, lógico é que nela se repercutam todos os sentimentos, todos os anseios, todos as vibrações da alma nacional.
Por isso pedi me fosse concedida a palavra para registar aqui, Sr. Presidente, com legítimo desvanecimento e orgulho, este acontecimento verdadeiramente admirável: a comovedora solidariedade com que, do norte ao sul do País, se respondeu prestamente a esse lado de caridade cristã, oferecendo-se-lhe não somente uma adesão entusiasta, mas honrando-se cada um em prazer dele o próprio eco da sua consciência, o próprio lado do seu coração.
Extraordinária desígnio da providência este, quo admite que, na hora de luta temerosa que o inundo atravessa, entregue a um pensamento de desgaste e de devastação, uma nação se destaque e manifeste, para formar, a uma voz, em torno de um ideia salvadora e construtiva, em volta de uma obra de beleza e de emoção!
Portugal marca esta atitude singular na altura em que vem de rememorar, em condições inolvidáveis, na simples evocação da sua história oito vezes centenária, a serviços prestados, através dos séculos, à humanidade e à civilização. Firme na sua trajectória, fiel à voz do sangue, Portugal, com este seu gesto de agora, demonstra que, hoje como ontem, amanhã como sempre, não faz mais, afinal, do que continuar a desempenhar no mundo a missão civilizadora e cristã que está na raiz da sua formação histórica.
É uma nova cruzada que se anuncia e cria corpo, estas bandas do ocidente. Ela vai também, como na idade média, em defesa das causas sagradas. As crianças são mimos de Deus espalhados sobre a terra, são portadoras de uma missão divina que as misérias, do mundo ainda não maculavam. Salvá-las é salvar a semente da criação providencial que um dia, sobre a terra ensopada em sangue e caída em ruínas, há-de terminar e florescer, como promessa de um mundo melhor, de maior pureza no ideal e na acção.
Por isso, quando atento ao rumor desta nova cruzada que se forma com um pensamento tão alto, parece-me ouvir o mesmo brado aliciante de há oito
séculos: «Deus o querei».
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Pinheiro Torres : - Sr. Presidente: também quero secundar, com o mais vivo aplauso, o brado comovido e enternecido que o Diário de Noticias lançou em defesa das crianças de todo o mundo que sofrem de horrores da guerra e as suas trágicas consequências.
O ilustre director daquele periódico, num feliz momento de intuição psicológica colectiva, interpretou eloquentemente o que andava no coração e na alma de todos os portugueses.
E até de além fronteiras começam já a chegar os aplausos por tão feliz a generosa iniciativa. Com efeito, a situação das crianças dos países beligerantes confrange, entristece e horroriza.
Tudo que se empreenda para suavizar a sua sorte fazer unia grande obra, que não só se reflecte no momento, pela caridade imediatamente exercida, como se projecta no futuro, pela salvaguarda daqueles que hão-de ser os, homens de amanhã.
Portugal tomando esta atitude mais uma vez faz política universal. Portugal, zona de paz, que tem escrupulosamente mantido a sua neutralidade, tomando a posição de protector das crianças de todo o mundo defende, mais uma vez, a humanidade e dá, ainda, provas dos seus sentimentos cristãos!
Pode o mundo inteiro ficar ciente de que a esta hora, em toda a terra portuguesa, as nossas crianças anseiam manifestar-se como irmãos aos pequeninos estrangeiros que ao nosso País se acolherem!
Tenho dito.

Vozes: - 'Muito bem!

O Sr. Angelo César: - Sr. Presidente: li o artigo de fundo de há dias do jornal Diário de Noticias, em que se tratava superiormente da situação das crianças a quem a guerra atingiu ou poderá ainda fazê-lo.
Esse apelo teve já uma compreensível repercussão interna e externa.
E provável é que não fique na floração das palavras e que tenha de projectar-se em realidade próxima.
Creio que a melhor forma de aplaudir esse apelo é secundá-lo por outro dirigido ao Governo, miais modesto, mas mais nosso, para que sem delongas burocráticas se enfrente o dramático problema da situação da nossa infância desprotegida.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Os asilos têm as lotações excedidas e pode dizer-se que às suas portas as crianças esperam em bicha, o momento sonhado da sua admissão.
Nas tutorias de infância e noutros estabelecimentos públicos os números dão-nos angustiosa e suficiente notícia do abandono a que milhares de crianças estão votadas.
O crime é cada vez mais precoce.
Nas raparigas - a prostituição.
Nos rapazes - o furto.
Basta ver, à noite, no Porto e mais ainda em Lisboa esse enxame de criancitas, vestidas precàriamente de ganga, a apreciar os jornais, a vender cautelas e objectos diversos, para, sem literatura e sem ilusões, ter do problema e da sua gravidade uma noção objectiva.
Sem pretender de qualquer forma diminuir o alcance daquele generoso apelo, do Diário de Notícias, eu peço, como Deputado e como cidadão, ao Governo da Nação que, ao atendê-lo, decida, como questão prévia que se não compadece com dilações, nem delongas, o resolver antes, eficientemente, praticamente, a dramática, a trágica situação da infância portuguesa desprotegida.
Disse.

Vozes:- Muito bem!

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente: Almeida Garrett, nas Viagens da minha terra, dizia «que fazer dar trigo aqui aos nateiros do Tejo, que é como quem semeia em manteiga, é uma lavoura que a faz Deus por sua mão regar e adubar e tudo»
Quão distantes estamos, Sr. Presidente, destas bucólicas e literárias afirmações!
O ribatejano sofre novamente este ano uma crise angustiansíssima. Nada mais, nada menos, do que 60:000 hectares foram na cheia do ano passado cober-