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17 BE MAIO DE 1945
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de vidas, cidades de maravilha, palácios de sonho, monumentos grandiosos, populações inermes, inculpadas e inculpáveis, exércitos sem conta, sagrados templos de Deus, preciosos e poli-seculares refúgios da arte, majestosos alcáceres da ciência e das letras, imponentes cidadelas da justiça, assombrosos prodígios de milionários engenhos e de uma portentosa engenharia, ofuscantes fulgurações, em suma, de magnífico e deslumbrante progresso e de requintada civilização.
E na hora inconcebivelmente trágica da apocalíptica hecatombe mundial, que, por nosso mal, não findou ainda, nesta crise esmagadora do inenarráveis sofrimentos e suprema dor que tem atormentado e dilacera ainda a humanidade, bem merece, em verdade, todas e as nossas maiores homenagens, o mais rendido preito do nosso imarcessível reconhecimento, o Maior dos portugueses de hoje, e Grande em todos os tempos, cujo nome a posteridade agradecida, no seu incorruptível julgamento e no seu imperturbável veredictum, há-de cinzelar imperecìvelmente no bronze da celebridade histórica, imortalizando lhe, na memória das gerações vindouras, a gigantesca figura do chefe e de estadista, que, como hábil timoneiro, duramente experimentado por muitas provações, conhecidas umas, outras ainda ignoradas, tem segurado, nas suas mãos firmes e incansáveis, o leme da nau portuguesa, e, com rasgos de génio, lampejos de perícia, uma coragem sem colapsos, uma tenacidade sem soluções de continuïdade, um saber e uma prudência sem lacunas, uma fé sem eclipses, uma vontade e uma energia sem entibiamentos, quis, soube e pôde conduzi-la a pôrto de salvamento através das alterosas ondas do revolto mar da política e das dificuldades internacionais, safando-a de todos os escolhos e baixios, defendendo-a de todos os perigos, protejendo-a contra todas as procelas, que poderiam tê-la despedaçado em fragoroso naufrágio.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O Orador: — Em pobres, rápidas e largas pinceladas, eis o que nós, os portugueses, devemos ao Chefe, que nos dois pelos da sua alma — Deus e a Pátria — concentra, pela dominadora fôrça centrípeta da mística do seu absorvente culto de Um e de Outra, todos os seus excelsos talentos e todas as suas preclaras virtudes, a sua vida, numa palavra, em toda a sua fecunda e omnímoda plenitude.
Sr. Presidente: vai o País pagar uma grande dívida de admiração e reconhecimento a quem o ergueu a tal altitude, que, no plano nacional, pôde sair da caliginosa noite da sua decadência para a ascensional aleluia de uma ressurreição, e que, no plano internacional, pela clarividente concepção de uma honrada, nobilíssima, perseverante e patriótica política externa, caracteristicamente atlântica, que em boa hora gerou a nossa providencial neutralidade perante a conflagração mundial, o fortalecimento da velha aliança anglo-lusa, o abençoado bloco peninsular da paz ocidental e o vigoroso estreitamento dos laços luso-brasileiros, conseguiu manter-se fora da zona dos violentos tufões da guerra e recuperar o perdido lugar de alto relêvo e prestígio que, por direito de conquista, justamente lhe cabe na geografia e na história universal.
E tal é hoje, Sr. Presidente, a culminante eminência dêsse relêvo o prestígio de Portugal, que, sôbre o granítico e indestrutível pedestal das suas glórias passadas e do renascimento das suas viris energias étnicas e da sua vocação universalista, o seu nome se avista de toda a parte e fere a retina de todo o mundo.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Tenho para mim, Sr. Presidente, que a Assemblea, órgão da soberania, em que pulsa fortemente o coração da Pátria e se repercutem reflexa e profundamente as vibrações da alma e da vida nacional, dá, desde já, toda a sua quente solidariedade, todo o ardor do seu júbilo, e todo o apoio do seu entusiástico aplauso, a essa oportuna, magnífica e bela parada demonstrativa dos nobres sentimentos cívicos dos portugueses, a essa desbordante preamar de justiça e gratidão colectiva que vai espraiar-se por todo o País, do Minho ao Algarve, desde a fronteira luso-hispânica até ao mare nostrum, como se um contagioso e febril frémito de consagração galvanizasse, em perfeito e admirável sincronismo, a inteligência, a sensibilidade e a vontade de toda a lusa grei.
E, ao afirmá-lo, bem certo estou, Sr. Presidente, de que interpreto fielmente o pensamento e os sentimentos unânimes da Assemblea Nacional, em palavras, seguramente descoloridas, mas aquecidas pela chama viva, crepitante e pura duma fé inextinguível nos altos destinos da Pátria, guiada na sua marcha ascensional pela mão firme e hábil de Carmona e Salazar, seus eminentes, incontestados e incontestáveis condutores.
Tenho dito.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Linhares de Lima: — Sr. Presidente: pelos jornais da manhã de hoje tive conhecimento de que vão realizar-se no próximo sábado manifestações de aprêço e respeito a S. Ex.ª o Sr. Presidente da República e ao Sr. Doutor Oliveira Salazar, como testemunho de agradecimento público pela firme e sábia direcção com que conduziram a nau do Estado através dos perigos e tempestades da guerra que vem de findar na Europa, esta nau do Estado, que durante mais de um século andou à deriva, mesmo em mar calmo e bonançoso, sem bússola e sem previsão das tormentas.
Cada um de nós terá lugar, certamente, na manifestação que se projecta, mas antes e desde já parece oportuno que a Assemblea Nacional signifique o seu caloroso aplauso à idea, porquanto, se traduz em si um acto de alevantada justiça, afirma igualmente que se mantém aquele espírito de solidariedade da Nação com o Chefe do Estado e com o do Govêrno, que a um e outro permitiu vencer com honra, dignidade e raro aprumo moral as dificuldades e embaraços de uma situação que não podia deixar de trazer consigo as exigências de calma, inteligente, corajosa e vigilante atenção.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Mas, Sr. Presidente, outro dever nos cumpre.
Há poucos dias a Assemblea, pela voz autorizada de V. Ex.ª e de alguns dos seus mais brilhantes oradores, numa sessão memorável, a que quis associar-se com a sua palavra de clara e impressionante clareza, de justo e superior conceito, S. Ex.ª o Sr. Presidente do Ministério, assinalou aqui o têrmo da guerra na Europa, com a solenidade que a transcendência do acontecimento valia para todo o mundo civilizado.
Outro dever nos cumpre agora, no ensejo que nos oferece a notícia da projectada homenagem a S. Ex.ª o Sr. Presidente da República e ao Sr. Doutor Salazar: o dever de celebrar a nossa paz, a paz interna, de que foram guarda e garantia, pelo prestígio da sua obra, pelo exemplo do seu sacrifício, pela imposição do seu talento, pela nobreza da sua conduta em todos os transes. Pela paz interna, sem a qual a paz externa não teria sido possível para Portugal.