17 DE MAIO DE 1945
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timentos, que tem hoje em cada português, sem distinção de classes ou ideologias, um admirador e em cada coração um amigo.
São estes os homens que vão ser homenageados, mais uma vez, pelos portugueses de boa vontade. São estes os homens que do Portugal vencido pela desordem e pelo desalento fizeram o Portugal ufano da sua fé e da sua grandeza cívica e moral. São estes os homens a quem a Assemblea Nacional, interpretando o sentir da Nação e associando-se à homenagem em preparação, presta neste momento tributo de veneração, de estima e de caloroso aprêço, reconhecendo na concordância sempre fiel das palavras com os actos praticados a virtude dos grandes reformadores e a visão e sinceridade dos altos espíritos.
Dêles esperamos confiadamente que nesta paz aventurada em que vivemos se façam as revisões e ajustamentos que a evolução e o progresso aconselharem na estrutura política e social da Nação.
Bemdita seja a paz, sim, mas bemdita seja a Providência, que à frente dos destinos do País, numa hora de terríveis convulsões e de esmagadoras perspectivas, colocou os homens que souberam inspirar-se nos seus preclaros desígnios.
E, porque esta paz interna de que disfrutamos, sendo de inspiração divina, não deixa de ser de realização humana, por Portugal inteiro façamos os nossos votos:
Deus guarde S. Ex.ª o Sr. Presidente da República!
Deus guarde Salazar!
Disse.
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. João Ameal: — Sr. Presidente: pode parecer inteiramente inútil que me levante para falar, depois das palavras tam autorizadas e tam calorosas que ouvimos. De facto, os ilustres oradores que me antecederam disseram — o melhor possível — muito do que havia a dizer sôbre a feliz o oportuníssima iniciativa da manifestação nacional do próximo sábado.
Disseram muito. Não disseram tudo, porque, mesmo que todos quantos aqui estamos falássemos, um por um, nem assim tudo seria dito. Isto porque não há um português que não tenha as suas razões próprias do agradecer aos governantes; não há um português que não tenha, para com êles, a sua própria dívida.
Também tenho as minhas razões a expor e a minha dívida a confessar. Só por isso me resolvi a pronunciar, hoje, algumas breves palavras.
Pertenço a uma geração que tem, pouco mais ou menos, a idade dêste século. Quando em 1923, 1924, 1925, terminada a sua vida escolar, essa geração olhou à volta e só viu desorientação, incompetência, instabilidade, corrupção, anarquia, preguntou a si própria em que bases havia de assentar a vida que queria viver e principiou lògicamente a reagir contra a atmosfera caótica e ameaçadora, que lhe negava todo o estímulo e toda a segurança. Lògicamente, a sua reacção cristalizou em torno de uma doutrina tam completa quanto possível de integral reconstrução portuguesa, apoiada nas verdades essenciais da existência colectiva através dos séculos: imperativos da Fé, claras lições da História, características irredutíveis e constantes da Terra e da Gente. Mas tudo quanto nos cercava era hostil ao pregão que trazíamos. E às vezes supúnhamos que não passávamos de vozes a clamar no deserto.
A intervenção salvadora do Exército, em 28 de Maio de 1926, veio desfazer o pesadelo, desafrontar a consciência nacional, estabelecer uma ordem em que logo sentimos que podíamos firmar uma promessa de vida nova. De um momento para o outro tudo se transformou e abriram-se amplas estradas à nossa marcha. Portugal tornava a encontrar os seus caminhos — e nós víamo-nos chamados às tarefas viris da reconstrução.
Eis o que devemos aos soldados que iniciaram há dezanove anos a Revolução Nacional e assim nos permitiram viver uma vida normal e fecunda, na dignidade, no trabalho e na paz. Eis o que iremos agradecer, em especial, ao Sr. general Carmona, que com tam raras virtudes pessoais e militares, no pôsto de maior responsabilidade do Estado, é o símbolo da presença e da missão do Exército.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Ao Sr. Presidente do Conselho, os homens da minha geração irão sobretudo agradecer o facto de ter dado àquela doutrina a que há vinte e tantos anos confiámos todo o nosso fervor e toda a nossa esperança a sólida arquitectura, a harmonia de proporções, a viabilidade decisiva que lhe permitiu obter o triunfo, projectar-se nos factos, presidir a uma obra extraordinária, encher o País de novo prestígio além fronteiras. Mais ainda: temos a agradecer-lhe que a tivesse defendido de perigosos contágios e de graves adulterações, numa época tam confusa da evolução das ideas políticas, a não deixasse influenciar ou transviar por quaisquer factores estranhos e a mantivesse dêsse modo dentro da pura linha de fidelidade às tradições espirituais e cívicas da Nação, como testemunho inconfundível da nossa personalidade moral e histórica.
Salazar foi assim o intérprete e o executor de um mandato que vinha de trás, das raízes da própria nacionalidade, dêsse mandato que a minha geração escutara, mas que só graças ao seu providencial aparecimento veio a transformar-se na vitoriosa directriz do ressurgimento português.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Sr. Presidente: não se trata porém apenas, no próximo sábado, de exprimir o nosso reconhecimento aos governantes; trata-se também, como se diz no comunicado publicado hoje nos jornais, de «reafirmar perante o Mundo a íntegra certeza da unidade nacional». Seria pouco agradecer apenas o que foi feito até agora; cumpre-nos manifestar a decisão inabalável de concorrer para que possa ser continuada a obra que deu já tam excelentes frutos.
E creio ser a ocasião de sublinhar o seguinte: a unidade nacional constituiu a base imprescindível dessa obra; sem ela não teria podido ser conduzida com tanto acerto, tanta felicidade, tanto equilíbrio e tanta independência a nossa política externa. As vitórias dessa política são, antes de mais nada, vitórias da unidade nacional.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — No entanto, a unidade nacional pôde formar-se, consolidar-se, persistir, porque os governantes, por seu lado, souberam criá-la, mantê-la, orientá-la para os largos horizontes que a subentendiam, mas, ao mesmo tempo, lhe imprimiam consciência e fôrça. A unidade não se alterou durante estes anos trágicos de guerra universal — de uma guerra imensa e transcendente, agora terminada na Europa, mas que continua nos campos de batalha da Ásia e do Pacifico — porque sempre se viu solicitada em nome de objectivos inequivocamente nacionais também: a defesa e garantia dos nossos interêsses nas diversas partes do mundo; a conservação de uma neutralidade digna, fiel às velhas amizades e aos velhos compromissos, leal e honesta, que