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1 DE JUNHO DE 1945
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Mas há mais! É que nesses admiráveis casais minhotos vivem outras tantas famílias, que constituem o grande mercado de consumo dos seus vinhos verdes e precioso alfobre de bons portugueses.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Há dias, quando atravessei o Alentejo para visitar Vila Viçosa, onde agora se eleva o interessante monumento a D. João IV e se verificam trabalhos de bem orientada urbanização, com velhos edifícios e valiosos monumentos bem restaurados e tudo muito asseado (o que, aliás, se aprecia também em Borba, Estremoz e noutras características e encantadoras povoações alentejanas), notei em certos pontos extensas vinhas a perder de vista e, paralelamente, ausência completa de casas e, portanto, de habitantes.
O expoente demográfico é baixíssimo em toda aquela vastíssima zona.
Produz-se muito, mas consome-se relativamente pouco, o que constitue mal que importa remediar. (Apoiados).
Contudo verifiquei com prazer, mas ùnicamente longe a longe, a nota fresca de casinhas caiadas e cercadas de hortas viçosas e de bons pomares, apresentando os respectivos habitantes fisionomias de saúde e alegria.
Mesmo na zona do plioceno, surge, embora raramente, essa nota alegre e animadora a desmentir afirmações acêrca da inviabilidade do respectivo povoamento.
Quanto se pode esperar da política hidroagrícola, se ela fôr bem orientada!
E quantos benefícios há a esperar da electricidade! E dos transportes!
Vozes: — Muito bem, muito bem!
O Orador: — Quando passei em Vendas Novas examinei muito de passagem a grande feira, que ali reünia imenso gado, e tive o desgôsto de verificar que, salvo um ou outro exemplar, era flagrante a magreza, a que nesta Assemblea se referira o nosso ilustre colega e distinto lavrador Sr. engenheiro Nunes Mexia.
Sr. Presidente: não é de temer a produção de vinho, duma maneira geral, no nosso País, em face da nossa baixa capitação, a que há dias aludi, bem como da manifesta irregularidade de colheitas.
Sobretudo em regiões como o Minho, cortas zonas das Beiras e outros pontos onde a cultura vitivinícola não sacrifica zonas capazes de produzirem econòmicamente outros géneros indispensáveis à nossa economia.
A região do Douro, claro é, está fora de toda a discussão, não só porque nos socalcos onde se cultiva a vinha mal iriam outras culturas, mas porque a excelência dos vinhos ali produzidos justifica tudo quanto se faça para a respectiva protecção.
Mas no que respeita à região dos vinhos verdes, cujos produtores, como já disse aqui, desejam que lhes permitam conservar o Jaguez e outros produtores directos como porta-enxertos, que êles julgam os mais vigorosos e resistentes à filoxera, a irregularidade de colheitas é manifesta.
Socorrendo-me do arquivo da respectiva Comissão de Viticultura, verifico que à colheita regular de 1934, com cêrca de 340:000 pipas, se seguiram duas pequenas — 80:000 pipas em 1935 e 167:000 em 1936; no ano de 1937 colheram-se 350:000 e 371:000 em 1938. Seguiram-se depois quatro anos em que as colheitas andaram à volta de 200:000 pipas. Finalmente, em 1943 subiu para 601:000 e em 1944 atingiu 614:000 pipas, que é o número mais alto que se tem registado.
Tam grande irregularidade é altamente nociva para os produtores, para o comércio e para os apreciadores do muito procurado vinho verde.
Assim, as colheitas pequenas, além de prejudicarem os produtores, porque, embora os preços subam, remuneram mal aquela cultura, que exige trabalho assíduo e a aplicação de adubos e outros produtos sempre caros, não correspondem «às necessidades do mercado, do que resulta perder-se parte da clientela nacional e, sobretudo, da estrangeira.
A exemplo do que se verifica noutras regiões, destacadamente na duriense há que providenciar no sentido de a Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes intervir, por meio de financiamentos e de compras, para regularizar o mercado.
Todos sabem que o problema é, no caso particular dos vinhos verdes, mais difícil que nas regiões cujos vinhos se conservam fàcilmente, e até melhoram, não perdendo com os anos, como se dá com os vinhos verdes, suas qualidades características.
Tendo as devidas cautelas nas lagaradas, conforme os conselhos das repartições técnicas competentes, já se defendem os vinhos de moléstias a que são atreitos, como a acetificação, a casse e a volta, e, mercê do tratamento das vasilhas, também se lhes aumenta a vida.
Mas parece que as pipas, balseiros e tonéis de madeira, sendo esplêndidos para os conservar durante um e até dois anos, não estão indicados para maiores períodos.
O ideal seria o engarrafamento, mas o alto preço das garrafas torna inviável êste recurso para grandes quantidades. Oxalá o Govêrno ordene providências para melhorar e baratear aquele artigo, tam fundamental para uma das nossas principais culturas!
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — Ùltimamente tem-se recorrido a depósitos em cimento armado, forrados de vidro ou pincelados com silicato de potássio.
Mas são caros e não podem depois deslocar-se.
Na última colheita eu e o nosso distinto colega Sr. Jaime de Pinho fizemos a experiência da conservação do vinho verde, branco e tinto, em depósitos de ardósia (lousa de Valongo), com uma ligeira inclinação para facilitar a precipitação de bôrras e evitar a acumulação de bôlhas no tampo.
De preço consideràvelmente mais reduzido que as outras vasilhas de madeira ou cimento armado, os resultados obtidos são de animar, porque a conservação do vinho é perfeita e poupa desposas e trabalhos com sucessivos atestos.
Êsses depósitos de lousa carecem de revestimento interno por meio de pincelagem com soluto de silicato de potássio ou de ácido tartárico.
Para fazer face aos encargos da intervenção financeira na região duriense, cobra a Casa do Douro $10 por litro de vinho beneficiado e $07 por litro de vinho de pasto.
Na zona da Junta Nacional do Vinho e região do Dão os encargos não incidem directamente sôbre a produção, pois são pagos pelo comércio, correspondentes a $05 por litro de vinho vendido.
Na região dos vinhos verdes é devido pelos produtores $00(5) por litro e pelo comprador $02, também por litro, correspondentes ao vinho adquirido.
No presente ano, que é o primeiro da referida cobrança na região dos vinhos verdes, a intervenção da respectiva comissão limita-se à destilação até 50:000 pipas, como fica dito.
Mas é de esperar que aquele organismo, dirigido por pessoas competentes e que se têm esforçado por defender os avultados e fundamentais interêsses ligados aos