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29 DE JANEIRO DE 1948 207

O Sr. Froilano de Melo: - Sr. Presidente: no decurso da última soma na têm ocorrido eventos de vida política que merecem ser sublinhados nesta Casa com o devido relevo, pela larga repercussão que tiveram nos meios políticos e nos círculos intelectuais nacionais e estrangeiros.
Em primeiro lugar, o plano do bloco ocidental euro-africano, delineado pelo Ministro inglês Sr. Bevin, que, apoiado por quase todas as correntes de opinião das democracias ocidentais, conta com Portugal e seus territórios ultramarinos para um dos seus mais prestantes e activos componentes.
Não devo ocultar-vos que para o meu espírito de português e de patriota é motivo de particular orgulho que a primeira e mais nítida visão dessa coligação de esforços, de que poderá depender o bem-estar económico e a paz do Mundo, tenha sido claramente concebida por um cérebro português, e folgo de ver que a nossa imprensa tenha reproduzido, para a documentação dessa evidência, as próprias palavras do Sr. Prof. Salazar concernentes u defesa e valorização económica com que o arroteamento do continente africano - ao mesmo tempo que fomentará o amanho e o progresso do solo indígena - poderá contribuir para pôr à disposição do Ocidente empobrecido e desnorteado valores incalculáveis para a garantia da (paz e da fraternidade humana, ameaçados hoje em dia por conflitos de ideologias e pelas incertezas do Destino.
Em segundo lugar, o justo enlevo com que todo o português deverá certamente acolher esse dinamismo, através do qual o Ministro Sr. engenheiro Daniel Barbosa expôs o seu plano de fomento industrial desta bela terra, fazendo-o depender primariamente da energia miraculosa que, extraída das nossas fontes naturais, possa transformar Portugal em uma oficina de laboração altamente especializada, que se transmude em riqueza para o seu bom povo.
Bem haja esse homem, que vem infundir novos alentos de energia e fé em milhares de corações de tíbios e de timoratos. Porque se há alguma coisa que dolorosamente tocou a minha alma neste meu contacto, mais ou menos íntimo, de dois anos com o amorável e hospitaleiro povo da metrópole, foi o slogan derrotista tão espalhado, tantas vezes repetido, de que somos um país pobre, que, pela fatalidade da pobreza, poderia, quando muito, aspirar a uma resignada mediania.
Pobre um país como Portugal, cujas entranhas contêm tantas riquezas inexploradas, que a visão de um homem acaba subitamente de desvendar ao seu povo atónito e deslumbrado! Um país cujas águas encerram energias encobertas de lâmpadas maravilhosas! Pobre uni país como Portugal, que possui no ultramar uma extensão tão .grandiosa de selvas virgens e de ubérrimos solos tropicais!
Que desapareça, pois, para sempre do nosso vocabulário esse slogan enervante, que só serviu para acobertar a inércia e a rotina que empobreceram este País, e seja o dinamismo contagioso do Sr. engenheiro Daniel Barbosa a lâmpada encantada que extraia luz, força e ouro do úbere fecundo das terras de Portugal.
Sr. Presidente: não é, porém, somente para cantar louvores - a quem, de resto, tão justamente os merece - que ousei tomar o tempo a esta Câmara. O trabalho colossal que Portugal está chamado a desenvolver para o seu fomento interno, tão admiravelmente exposto pelo Ministro Sr. engenheiro Daniel Barbosa e para o arroteamento do nosso ultramar, absolutamente necessário para efectivar a nossa cooperação económica com o bloco ocidental euro-africano, que, entrevisto pelo espírito clarividente do Sr. Prof. Salazar, conferirá a Portugal mo plano Bevin - e à solicitação das nações mais interessadas - um lugar de primeiro plano no
concerto internacional, não se pode levar a cabo somente com .palavras sonoras de idealismos exaltados. Esse trabalho comporta, seja no continente, seja, sobretudo, no ubérrimo e misterioso solo africano, realizações técnicas de elevado acabamento que se não podem confiar a mãos de diletantes ou de agentes com uma preparação técnica insuficiente. E é dever de todos nós colaborar com .o nosso esforço para que essas magníficas aspirações se transformem em realidades que tragam honra e prosperidade para o nosso País.
Foi na lúcida exposição do Sr. Ministro da Economia que o meu espírito pôde aprender o que já era uma impressão colhida em conversas com os nossos melhores e mais consumados intelectuais e com a quase totalidade da geração nova, tão ciosa da grandeza da sua Pátria: que a cultura técnica em Portugal não havia ainda atingido aquele grau de perfeição de que se reveste entre nós o cultivo da educação humanística.
No campo da técnica e da experimentação as manifestações da nossa actividade têm-se reduzido, por ora, a esforços isolados, que, por serem desajudados e incompreendidos, não têm conseguido criar o ambiente de trabalho e de técnica com que as nações avançam para a conquista do bem-estar e para a elevação do seu nível de vida. Ainda mais: essa falta de ambiente tem relegado a um plano de inferioridade social e económica os diplomados que, presos ao trabalho manual, envergam a ganga de artífice que nos laboratórios e oficinas revolucionam, em outros países, os destinos do Mundo. Cérebros potentes de cientistas estiolam-se entre nós em revoltas de resignada passividade, por insuficiência de meios práticos para exercerem as suas faculdades criadoras. E a carência de laboratórios e oficinas em alguns dos nossos estabelecimentos de instrução e a limitada acessibilidade de outros porventura já montados, e que com tão larga perspectivas foram criados, transformaram em parte o nosso ensino em teórico e livresco em que o silogismo e a especulação filosófica são incapazes de enfrentar as realidades do mundo físico.
De onde esse paradoxo de alguns dos nossos jovens diplomados poderem discorrer com brilho e primoroso saber altos problemas transcendentes de - Ciências Físico-Químicas ou Naturais - que mostra à evidência a formosura do seu talento - e verem-se, por vezes, embaraçados para construir um motor eléctrico ou reparar a avaria de uma grande máquina geradora de energia ! Porque ninguém os levou a uma oficina de electricidade, porque ninguém os familiarizou com as altas técnicas que criam e transformam as energias maravilhosas que se resolvem nas entranhas do Mundo!
É daí certamente que resulta que as pesquisas para o fomento desse plano industrial fossem confiadas a técnicos estrangeiros -americanos e suecos - para o estudo da região petrolífera de Torres Vedras, técnicos estrangeiros para a intensificação e aperfeiçoamento dos estaleiros navais e da grande indústria metalomecânica, técnicos estrangeiros para a instalação eficiente de máquinas de escrever, estrangeiros ainda para-o plano da electrificação do País.
Quanto seria para todos nós motivo de legítimo orgulho que a renovação da nossa vida industrial fosse levada a cabo pelo esforço da nossa própria gente, que a há com talento, energia e patriotismo, pronta a ajudar os chefes a cumprir a sua obra, desde que lhes seja dada a preparação necessária para desempenharem a sua missão com dignidade e saber.
Sr. Presidente: é dever de todos nós colaborar nessa grandiosa obra de renovação social. Como Deputado da Nação e como português- venho trazer hoje o meu contributo para essa obra: tem por mira valorizar rapidamente o nosso próprio capital humano, que não haverá