O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

212 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 129

Pois eu afirmo, sem receio de desmentido, que a maior parte desses abastados lavradores, desses ricaços, não foram buscar à cultura do trigo o dinheiro para esses automóveis, para esses passeios, mas sim a outras fontes da agricultura, à cortiça, ao azeite, aos gados, etc.
Talvez não saibam esses críticos que no distrito de Beja, onde havia há poucos anos 1:600 grandes proprietários, havia na mesma data 19:000 pequenos produtores, e que no ano de 1934, ano de excepcional produção, quando esses grandes produtores arrancaram da terra 104 milhões de quilogramas de trigo, arrancaram os pequenos produtores 90 milhões, e são esses pequenos, a quem falta a cortiça, o azeite e muitas vezes os gados, que principalmente sentem neste momento o peso da crise.
Sr. Presidente: vou maçar com os números que apresento; peço, porém, a vossa benevolência, mas eles justificam as considerações que vou fazer e as conclusões a que vou chegar.
Principio, como disse, por apreciar a cultura do trigo no distrito de Beja, pela razão já exposta; e sem a pretensão de considerar essas conclusões indiscutíveis, mas apenas como um trabalho honesto, principio por trazer à vossa consideração umas contas de cultura feitas em fins de 1946, portanto actualizadas num concelho deste distrito, concelho que normalmente figura como segundo produtor de trigo do País, a seguir a Beja.
Este modesto trabalho foi feito por um grupo de produtores de trigo, trabalho que acompanhei com o maior interesse.
Considero-o sério, mas mostra apenas o desejo de alguns lavradores alentejanos em procurar justificação para as suas dificuldades na cultura deste cereal. São mais umas contas de cultura a juntar a muitas já feitas.
Segundo os números apurados na Federação Nacional dos Produtores de Trigo, colheram-se neste concelho no ano de 1946 16.620:707 quilogramas de trigo, apuramento ainda incompleto à data do trabalho.
Tive depois o número certo, 18.131:131 quilogramas.
Como da colheita de 1945 haviam sido destinados à sementeira 1.269:869 quilogramas, deu para esta seara de 1946 13,1 sementes, o que foi arredondado para 14 sementes, pela razão já exposta.
Foi depois repartida a área cultivada pelas diferentes qualidades de terra do concelho e as sementes calculadas por conhecimento directo.
Assim, foram atribuídos aos barros 20 por cento da área total e calculada em dezoito sementes a produção; às terras galegas 50 por cento da área [...] e calculada em dezasseis sementes a produção; e às terras da serra 30 por cento, com a produção de oito sementes.
Uma vez fixados os preços simples para os vários trabalhos agrícolas no decorrer do ano e que foram:

Geira, com jorna, desgaste do material, seguro e licenças......... 70$00
Geira no carrego.................................................. 80$00
Jorna de trabalho, espalhar adubo ................................ 21$00
Jorna de trabalho, semear ........................................ 20$00
Jorna de trabalho, carregar ...................................... 20$00
Jorna de trabalho, ceifar nos barros ............................. 22$00
Jorna de trabalho, ceifar ........................................ 25$00
Jorna de trabalho, mulher na monda ............................... 8$00

encontraram umas contas de cultora de trigo, precedido de grão para a produção das dezoito sementes nos barros (atribuindo à renda da terra um terço de produção, valor tradicional na região, para os barros), de que eu não maço VV. Ex.ªs com a sua leitura e que mando para o Diário das Sessões.

1.º Quota-parte do valor das grandes mobilizações feitas à terra para a cultura anterior, mas aproveitada nesta (1/3 de 700$ por hectare) .............. 233$00
2.º Gradagem, 1/3 de geira de 70$00 e embelgação (1/3 de geira) ......... 46$66
3.º 300 quilogramas de adubo "M. Fernandes" de 380$ e espalhamento (1/3 de jorna) ................................................................. 387$20
4.º 65 quilogramas de trigo seleccionado, com 82 de peso específico, a 2$68(65), desinfecção, distribuição (1/6 de jorna), lavoura de sementeira de 4
geiras ................................................................. 483$12
5.º Gradagem (1/2 geira) - 1.ª monda (32 mulheres), 2.ª monda (16
mulheres) .............................................................. 407$33
6.º Ceifar, atar, enreleirar (12 homens, transporte à eira), 1 geira e 1
homem .................................................................. 364$00
7.º Administração e juros (5 por cento das despesas citadas) ........... 96$07
Seguro contra acidentes no trabalho (4 por cento da mão-de-obra) ....... 27$14
Renda da terra, 1/3 da produção (valor tradicional na região para os barros), ou seja 1/3 X 65 kg X 18 sementes X 1$45(45) ............................... 563$72
Soma das despesas directas e indirectas ................................2.608$24

Receita:

Quota-parte das despesas feitas com a preparação da terra e que aproveita à cultura seguinte, 1/3 de 233$ ........................................... 77$61
Valor dos fertilizantes aplicados ao trigo, que não foram totalmente aproveitados, 1/4 da adubação ........................................... 95$00
Restolho - 2$ por alqueire ............................................. 12$00
65 quilogramas de trigo com dezoito sementes deram 1:170 quilogramas com 80 de peso específico, a 2$55(95) ............................................2.994$61
3.179$22
A deduzir:

6 por cento para maquia de debulha e por 1 cento para seguro da seara .. 209$62
2.969$60
Resultado:

Receita ................................................................2.969$60
Despesa ................................................................2.608$24
Lucro por hectare ...................................................... 361$36

A conta de cultura feita para uma produção de dezasseis sementes em terras galegas, atribuindo à renda da terra um quarto da produção, valor tradicional na região para as terras galegas, tendo em conta esta qualidade de terra e empregando 300 quilogramas de superfosfato de 18 por cento, deu o seguinte resultado:

Receita ................................................................2.644$47
Despesa ................................................................1.852$56
Lucro por hectare ...................................................... 791$91

A conta de cultura para uma produção de oito sementes em terra de serra, atribuindo à renda da terra um quinto da produção, valor tradicional para as terras de