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2 DE ABRIL DE 1948 411

A nove anos de distância, recordo a frase do Presidente do Conselho, ao celebrar a derrota vermelha em 1 de Abril de 1939: «Vencemos. Mas não temos factura a apresentar!».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isto significava que a Espanha, com o seu sacrifício, defendera Portugal, defendera o Mundo, defendera a civilização ocidental. Era credora, não devedora.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Realmente os portugueses nem como graduados militares cobraram soldo do exército espanhol, nem como vizinhos, amigos, aliados ou irmãos pediram materialmente fosse o que fosse em troca.
Seguiram a tradição do bravo Afonso IV no Salado. E, em vez de aceitarem remuneração, nunca perderam ocasiões de colaborarem na justa defesa internacional da Espanha.
Subsiste por esse Mundo fora muito orgulho e muita teimosia política. Apesar da evidência, ainda há quem não queira reconhecer nem os erros do passado nem as inoportunidades de certas atitudes presentes. Seria impiedoso relembrar uns e outras se as suas consequências não persistissem.
Que triste paradoxo diplomático é o isolamento da Espanha, primeiro baluarte anticomunista, mantido por nações ontem iludidas e transigentes, mas já hoje reunidas contra o perigo oriental! As circunstâncias provam que o réu condenado pela UNO não merece sómente absolvição: merece louvor!
Já pensaram os nossos opositores no que teria sucedido às Nações Unidas se o Governo Espanhol de 1939 fosse comunista ou afim? Na primeira fase da guerra, em que Hitler e Estaline foram cúmplices e aliados, a Espanha comunizante atacaria a França ou, pelo menos, ajudaria a Alemanha.
O partido comunista francos, que por ordem da Rússia era então resistente contra a própria França, teria aquém-Pirenéus magnífico campo de operações.
Na segunda fase da guerra Hitler e Estaline entraram em conflito de apetites. Logo, a Espanha vermelha teria sido invadida pela Alemanha, Gibraltar cairia ou ficaria militarmente neutralizado e, com o Norte de África nas mãos de alemães e italianos, o Mediterrâneo tornar-se-ia inacessível às Nações Unidas.
Em vez disso, que poderia representar a derrota dos verdadeiros franceses e dos anglo-saxões, ou uma paz de compromisso, que sucedeu?
Por força do pacto de amizade e não agressão luso-espanhol e da constituição do bloco peninsular, conjugados com a aliança luso-britânica, foi possível neutralizar, a Península ou, com mais justeza de dizeres, equilibrar ou evitar as fortes pressões de alemães e italianos sobre a Espanha.
- O Mediterrâneo continuou mar britânico, a África do Norte constituiu a base de partida para o ataque anglo-americano e a vitória, que a partir de então foi esmagadora, rápida e decisiva, pertenceu às Nações Unidas.
Ainda a guerra não terminara e já alguns estadistas norte-americanos tinham tido a coragem de enunciar estas verdades. Foram então os precursores da atitude actual da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América do Norte. E a atmosfera mundial chegou quase a ser de gratidão para a Espanha. Ao chegar essa ilusão chamada paz, tudo mudou subitamente. Porquê?
Porque a Rússia, os países satélites e as «quintas colunas» soviéticas em muitas nações começaram tremenda campanha contra o Governo nacionalista espanhol, classificando-o de último reduto do fascismo e do nazismo.
O Mundo, ou, mais propriamente, as Nações Unidas, estavam animados de grande transigência com a Rússia. Julgavam aplacar o urso dando-lhe mais» alguma coisa a comer.
Em nome da liberdade, da democracia, da Carta do Atlântico e do direito que os povos têm de decidir dos seus destinos - disse-se à Espanha que ou mudava de regime ou seria excluída do convívio internacional.
O grande Churchill, que não tem papas na língua, verificou o erro e censurou-o asperamente. Soube prever. Estão na memória de todos as eloquentes manifestações espontâneas do povo espanhol contra a intervenção estrangeira. A reacção atingiu o delírio patriótico e aquilo que políticos imprevidentes julgavam ser um golpe contra Franco consolidou internamente o Governo nacionalista espanhol.
Um emigrado, adversário irredutível de Franco, mas mais arguto que os outros, por melhor conhecedor da sua própria raça, disse a alguém, logo que apareceu o primeiro relato telegráfico da UNO: «Ahora lo estropearan todo!»
Foi errada a táctica dos inimigos políticos de Franco. Nem acalmaram a Rússia, nem conseguiram modificar o regime espanhol.
Entretanto, vejamos se foi justa. Em resposta àqueles que classificam a Espanha de reduto fascista ou nazista, eu, que conheço intimamente o pais irmão, posso dizer que isso nunca foi nem poderia ser verdade.
Em primeiro lugar, a Espanha é profundamente católica; portanto, abomina os regimes totalitários. Em segundo lugar, a Espanha é altivamente patriota; por consequência, não aceitou, nem aceitaria nunca, comandos de países ou de doutrinas estrangeiras. Em terceiro lugar, os espanhóis distinguem-se de tantos outros povos pela sua inteligência subtil e viva; reconheceram que, ao invés de Portugal, havia duas nações que, apesar de terem chegado tarde e de terem jogado pela certa, pretendiam apresentar facturas. E os preços estavam sobrecarregados com juros exorbitantes.
A frase de Salazar encerrava um exemplo precioso que essas duas nações não souberam seguir. Teve o condão de pôr em confronto as atitudes do pequeno amigo e dos grandes amigos da Espanha.
Não existe dúvida de que havia espanhóis simpatizantes com a causa alemã ou italiana. Mas ninguém nega que a Espanha soube manter-se neutral, apesar da incómoda vizinhança alemã; e a sua política externa foi a que veio a ter expressão no bloco peninsular. A existência duma forte corrente Ítalo-alemã não pode constituir motivo de censura contra o Governo nacionalista espanhol; pelo contrário, torna ainda mais meritória a sua acção em prol da neutralidade.
E, mesmo quando a vitória parecia sorrir a Hitler e Mussolini, esse Governo manteve-se fiel ao tratado de amizade feito com Portugal. Porque o desejara? Precisamente para não se deixar envolver na aventura duma nova guerra internacional. Já lhe bastava ter sido teatro do ensino geral...
Sr. Presidente: vou terminar objectivamente, isto é, pelo relato de um facto que pouca gente conhece.
Depois do que direi: quem quiser entrar no subjectivo, tire as ilações possíveis:
Terminada a guerra, no dia da grande parada da vitória em Madrid, os portugueses, cuja designação de «Viriatos» simbolizava a defesa da Península Ibérica contra toda a invasão estrangeira, desfilaram com o pavilhão militar verde-rubro flutuando ao vento! Foi a única bandeira estrangeira admitida no destile, é essa excepção gloriosa parece o prenúncio da escolha da Espanha e da política que o bloco ibérico manteria durante a grande guerra mundial.