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19 DE MARÇO DE 1952 541

A cultora da batata já não pode hoje ser considerada como ama simples cultora hortícola, dada a enorme extensão que atingia e as imensas possibilidades que promete.
É uma autêntica cultura arvense, de quase tanta, senão tanta, importância como a do trigo.
Dela podemos autobastar-nos, como se verificou na campanha do ano transacto, e até, se assim o entendermos e se tornar necessário, obtermos largos excedentes.
A ela me vou referir sumariamente.
Mas antes, Sr. Presidente, seja-me permitido, em nome da lavoura nortenha, testemunhar o seu profundo reconhecimento, e também pessoalmente o meu, a 8. Ex.ªs os Srs. Ministro da Economia e Subsecretário da Agricultura, pela forma pronta, decidida e carinhosa com que enfrentaram e resolveram, na medida do humanamente possível, o problema da sobre produção que este ano se verificou e que ameaçava arruinar irremediavelmente a sua já combalida economia.
Estávamos em frente de volumosos excedentes. No mínimo cerca de 2:000 vagões.
O mercado nacional não era capaz de os absorver no consumo normal ou no seu aproveitamento industrial.
E porque o produto, com os meios de que dispomos, não é susceptível de larga conservação e perde todo o seu valor comercial ao fim de certo tempo, estava-se na contingêniia de o vermos inutilizar-se irremediavelmente. Era a ruína.
Foram momentos de dolorosa ansiedade.
O Sr. Carlos Moreira: - V. Ex.ª podia fazer o favor de me informar do estado de adiantamento em que se encontra a construção dos silos que estavam projectados para zonas produtoras da batata?
O Orador:-Que eu saiba, estão construídos os da Guarda e Bragança e parece que se vão construir os de Vila Pouca de Aguiar, Chaves e outras regiões.
O Sr. Carlos Moreira: mações de V. Ex.ª

Muito obrigado pelas informações.

O Orador:- E então a lavoura do Norte veio ao Terreiro do Paço, expôs a sua situação com clareza aos referidos membros do Governo e nossos ilustres colegas.
E teve a consolação de constatar que a sua ansiedade era amplamente compreendida e de verificar, com os seus olhos, que eles estavam dispostos a dissipá-la, atenuando, na medida do possível, a crise que quase se afigurava insolúvel.
E as medidas não se fizeram esperar - rápidas, enérgicas, decididas.
E ter-se-ia, em virtude delas, debelado a crise sem perdas sensíveis, que ainda assim devem ter orçado em mais de 300:000 contos, se à rapidez e decisão com que
foram tomadas correspondesse igual rapidez e decisão da execução por parte dos serviços.

Em todo o caso, é força reconhecer que estes fizeram o melhor que lhes foi possível na solução de um problema para que não estavam de antemão preparados e para o qual não dispunham, no momento, de um maquinismo adequado e devidamente montado.

Fizeram o que puderam.

Esta justiça lhes deve ser feita.

Por isso, a lavoura do Norte, cuja economia assenta, por necessidade geográfica, essencialmente na produção da batata, lhes testemunha aqui o seu reconhecimento num simples, mas sincero e agradecido: bem hajam.

Estamos, Sr. Presidente, em plena campanha da plantação da batata.

As lições da experiência deste ano, as lições da experiência dos anos passados mostram-nos, em síntese, que alguns e todos eles intermediários- enriqueceram, enquanto os produtores vão empobrecendo gradualmente, devendo aproveitar a todos, porque, se nos mais anos só a lavoura perdeu, este ano todos perderam somas consideráveis.

Mas há uma diferença: enquanto os intermediários dispunham -ou podiam dispor, se o tivessem querido - de largas reservas dos anos antecedentes, a lavoura nacional, que tradicionalmente sempre viveu pobre, mais pobre ficou.

E possível que este ano, impressionada ainda pelas angustiantes preocupações que sofreu, a lavoura nacional se tenha desencorajado e a produção, só por esse facto, diminua bastante.

É natural, por isso, que as plantações sejam menos extensas, que os cuidados a consagrar-lhes sejam menos esmerados, até porque o sulfato de cobre, indispensável nos respectivos tratamentos, subiu excessivamente, e que o volume total da produção seja, em virtude destes factores, muito menor, porventura insuficiente para as necessidades normais do consumo nacional.
O Sr. Melo Machado: -Se V. ex.ª me dá licença, direi que isso não é verdade.

O Orador:-Gostava que V. Ex.ª me desse a justificação.

O Sr. Melo Machado: - Fiz há pouco tempo nesta Câmara uma justificação tão completa quanto possível.

O Orador:-Mas tenho informações de que se pode abastecer o mercado com sulfato de cobre inglês, mais barato do que o nacional.

O Sr. Melo Machado: - Isso não é verdade. Poderá ser abastecido de quantidades mínimas, mas ninguém pode tomar a responsabilidade de abastecer o País com as quantidades necessárias.

O Orador:-Seja com quantidades mínimas ou máximas, o que é verdade é que se pode fornecer sulfato de cobre mais barato do que o nacional.

O Sr. Melo Machado: - Mas a importação não está proibida.

O Orador:-Mas é como se estivesse. As grandes empresas às vezes influenciam a economia do País.

O Sr. Melo Machado: - Km todo o caso ninguém os proíbe de importar.

O Orador:-Eu, felizmente, não sou importador. O Sr. Melo Machado: - Eu digo os interessados.

O Sr. Manuel Lourinho: - Pode V. Ex.ª informar-me quais terão sido as razões que deram lugar a que a batata fosse vendida pelo produtor a 1$ cada quilograma e comprada pelo mesmo produtor a £30?
O Orador:-Essa explicação só os serviços respectivos poderão dá-la.
O Sr. Melo Machado:- Se se procedesse como V. Ex.ª deseja, tinha-se o protesto dos lavradores, que a certa altura queriam batata para cultivar e não a tinham. Quem sabe as quantidades que vêm a ser necessárias?