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604 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 144

O Sr. Vasco de Campos: - Sr. Presidenta: peço desculpa a V. Ex. ª e à Camará pelo lacto de me ir ocupar do assunto que acaba do focar, com muito mais brilho e proficiência do que eu irei tratá-lo, o meu distinto colega Dr. Santos Bessa. Porém a importância do objectivo em vista justifica a insistência.
A recente inauguração e entrada em funcionamento- no curto espaço de três dias! - dos três Centros de Profilaxia e Diagnóstico da Tuberculose das zonas Sul, Norte e Centro do País obrigam-me a proferir nesta Assembleia algumas palavras de justo reconhecimento.
Como representante da Nação, sobre a qual ainda pesa uma dolorosa taxa de mortalidade por tuberculoso, cumpro o gratíssimo dever de agradecer ao Governo e do um modo especial aos departamentos do Estado que superintendem nestes serviços a louvável prontidão com que estão pondo em execução a lei da luta antituberculosa, aprovada pela Assembleia Nacional nesta legislatura.
Mas é sobretudo como módico - e médico de aldeia -, que traz na alma, por dura experiência do ofício, a lembrança de pungentes infortúnios, que eu mo congratulo e saúdo e agradeço a todos, aqueles que estão empenhados em dar combate decidido e porventura eficaz a um dos maiores flagelos do nosso povo.
A acção que estes centros irão desenvolver na luta contra a tuberculose é das mais esperançosas.
Está no seu programa:
a) Organizar o cadastro microrradiográfico da população ;
b) Proceder à vacinação pelo B. C. G. ou por outros meios de imunização e orientar a aplicação da vacina;
c) Efectuar a propaganda da vacinação antituberculosa e dos preceitos relativos à profilaxia da tuberculose;
d) Enviar aos dispensários antituberculosos da respectiva área, ou na sua falta às delegações de saúdo, os indivíduos cujo exame revele lesões pulmonares de carácter evolutivo;
e) Enviar aos serviços da respectiva especialidade os indivíduos afectados por doenças reveladas pelo exame radiográfico que Dão tenham o carácter das lesões referidas na alínea anterior;
f) Colaborar com os dispensários, brigadas móveis e serviços de saúde, de assistência e de previdência em tudo quanto respeite à luta antituberculosa.
E dentro destas funções avulta a novidade entro nós agora posta em prática em larga escala -, da vacinação pelo B. C. G.
O velho aforismo «mais vale prevenir do que remediar» tem neste caso inteiro cabimento.
Se curar é ainda incerto e assaz dispendioso, prevenir será o ideal.
Tendo o B. C. G. atingido, digamos, a maioridade científica, resistindo a críticas, as mais severas; estando provada a sua inocuidade e demonstrada a sua eficácia preventiva ...
O Sr. Jacinto Ferreira: - V. Ex. ª dá-me licença? Peço desculpa, mas isso não está demonstrado. Discordo, portanto.

O Orador:-Poderia demonstrar a V. Ex. º, e largamente, mas não estamos numa academia médica para entrarmos nesta discussão.
O Sr.- Jacinto Ferreira: - Também poderia demonstrar largamente a V. Ex. ª que o não está.

O Orador:-... urge abraçar o método como arma salvadora, capaz de aliviar a nossa assistência pública de pesados encargos e livrar até certo ponto o povo português duma doença temível.
Na campanha que vão empreender os centros do profilaxia e diagnóstico nas suas respectivas áreas, afigura-se-me de toda a vantagem iniciar a vacinação nos pontos vulneráveis, isto é, nas aldeias mais afastadas dos grandes aglomerados urbanos.
É ai que se encontra um grande número de indivíduos facilmente tuberculizáveis os enérgicos.
lia pois necessidade de defendê-los contra o mal, que também lá aparece. A tuberculose vai até ao mais recôndito lugarejo serrano, quase sempre importada da cidade.
E é exactamente ai, onde a medicina não chega o a higiene é ignorada, que os estragos são desoladores.
O aldeão vem até à cidade na ânsia justificada de ganhar a vida, e aqui encontra muitas vezes a ruína; física, e não poucas a moral.
Quando tem a infelicidade de contrair a tuberculose, regressa ao lar, e, procurando ocultar a doença, lá acaba os últimos dias da sua existência, espalhando a morte à sua volta...
Não fantasio, Sr. Presidente e Srs. Deputados: digo simplesmente uma triste verdade ao declarar a VV. Ex.ªs que tenho visto desaparecer por este processo famílias inteiras!
E é por isso que reputo necessário e urgente imunizar as populações rurais contra a tuberculose.
Como seria interessante imunizá-las, se possível fosse, contra todas as influências nefastas de que a cidade é responsável!
Sr. Presidente: aproveito o ensejo para chamar a atenção dos departamentos do Estado competentes para um outro aspecto do mesmo problema.
Quero referir-me à necessidade que há de imunizar contra a tuberculose os indivíduos enérgicos recrutados para o serviço militar.
Todos os anos a Nação manda para as fileiras das nossas forças armadas grande número de rapazes na pujança da vida e em boas condições físicas.
Nos quartéis vão encontrar hoje, felizmente, higiene, boa alimentação, vida sadia.
Pois apesar disso, é importante o número de baixas por tuberculose.
E neste caso são ainda os habitantes das aldeias os mais atingidos.
O facto tem explicação científica: resulta de estes mancebos não terem sido em determinada altura das suas vidas levemente infectados pelo bacilo de Koch.
São anérgicos; não reagem à tuberculina.
Esta aparente felicidade inferioriza-os, sob o ponto de vista sanitário, perante os seus camaradas da cidade.
Investigações feitas neste sentido por alguns ilustres médicos militares levaram a conclusões muito elucidativas.
O nosso colega Dr. Santos Bessa, nas guarnições militares de Coimbra e Figueira da Foz, em 1:057 recrutas encontrou os seguintes números:
a) Indivíduos provenientes das cidades, 26 por cento
de anérgicos;
b) Indivíduos provenientes das vilas, 28,1 por cento
de anérgicos;
c) Indivíduos provenientes das aldeias, 58 por cento
de anérgicos.
E o médico da Armada Dr. Raul Ribeiro verificou que dos casos de tuberculoso registados na marinha de guerra de 1944 a 1949, entre as idades de 18 a 22 anos, 76,6 por cento deram-se em indivíduos vindos do campo e só 23,3 por cento em oriundos da cidade.
Diferença notável!