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3 DE ABRIL DE 1952 633

Por mim entendo que nunca cessará a necessidade de se promoverem a preparação e a formação de investigadores individuais.

Nunca poderemos ter um trabalho útil e fecundo de equipe sem repararmos as baixas dos seus quadros e ampliarmos estes com elementos novos. Portanto, a tarefa de formação de investigadores deve ser constante.

Por outro lado, julgo dever acrescentar às judiciosas considerações desse relatório e às disposições do diploma a afirmação de um critério pessoal que já por mais de uma vez tenho sustentado nesta Assembleia: a de que existe, por vezes, entre nós uma preocupação quantitativa que exclui a questão, não menos primacial, da qualidade.

Ligo uma importância muito grande não apenas ao número dos que trabalham, mas sobretudo à qualidade dos que trabalham ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -... e entre nós há, frequentemente, uma exclusiva preocupação quantitativa, que supõe tudo resolvido com a existência de certo número de indivíduos numa categoria ou função, tantos noutra categoria ou função, etc. A numerosos funcionários são preferíveis bons funcionários, funcionários competentes. O que interessa acima de tudo é a qualidade dos serventuários das organizações oficiais e privadas. - Um exemplo no que respeita às indústrias: quando aqui se discutiu o condicionamento industrial, houve ocasião de se pôr em evidência um certo número de defeitos da organização industrial privada, como o da carência quase total, nalguns estabelecimentos fabris, não de indivíduos altamente diplomados, mas de indivíduos altamente especializados. Não tenho desdém pelos diplomas, mas não tenho o feiticismo do diploma; estou assim no direito de condenar a primazia frequente dada entre nós ao empirismo, ao prático, pretendendo-se que a experiência pode suprir uma preparação-base e, ao mesmo tempo - e em matéria industrial isto tem uma importância enorme -, pode suprir um conhecimento dos incessantes progressos e aperfeiçoamentos mundiais na ciência e na técnica.

Além disso, devo dizer que estamos lamentavelmente deixando de aproveitar valores especializados em serviços e actividades públicas, com prejuízo da eficiência desses serviços e dessas actividades.

A recente catástrofe da Gibalta, que enlutou o País, evoca no meu espirito as recomendações de um ilustre professor de Geologia, o Sr. Carlos Teixeira, numa conferência notável que fez há meses, no sentido de que fossem chamados geólogos para dar o seu parecer especializado sobre a segurança de fundações em muitas construções. Quem melhor conhece a natureza e disposição dos terrenos do que os geólogos?

Pois temos em Portugal três Faculdades de Ciências, nas quais existe a licenciatura em Ciências Geológicas. E sucede, apesar disso, que nos próprios serviços geológicos, paradoxalmente, não há nenhum geólogo do quadro, mas sim apenas geólogos contratados no Laboratório de Engenharia Civil; e noutros serviços que estão trabalhando para resolver casos dos movimentos de terrenos, como na Gibalta, não há nenhum geólogo!

Para que temos então três licenciaturas em Geologia se, quando chega a altura de serem utilizados os serviços aos seus diplomados, os não empregamos?

Há o caso da auto-estrada, em que tudo se resolveu com elementos técnicos, quando é certo que os geólogos dispensariam a execução de muitas sondagens e revelariam que sob uma camada dura, sólida, pode estar um terreno destituído das condições necessárias para a segurança de fundações ou de suportes.

O geólogo tem competência especial para se pronunciar sobre a disposição de camadas de terrenos.

Um geólogo teria sido útil na solução do caso do desprendimento de terras na estrada de Queluz e noutros casos da mesma natureza. O que se passa neste domínio passa-se noutros. Conheço o facto de licenciados com alta classificação, de valores universitários especializados a distintos, que, vendo-se desaproveitados, recorreram a tarefas completamente diversas das suas especialidades, mas, certamente, mais lucrativas e onde, pelo menos, podem ganhar o suficiente para se manterem, bem como às suas famílias.

Não há muito assumiu a gerência de um estabelecimento industrial de ourivesaria de grandes tradições um licenciado com distinção num curso de Ciências Biológicas, que se aplicava com capacidade e entusiasmo a questões de biologia marítima, especialmente a um sector da zoologia - os briozoários -, o qual, vendo-se totalmente desaproveitado na sua especialidade, foi gerir o estabelecimento de ourivesaria de seu pai, estabelecimento, aliás, aureolado por uma tradição secular de justa fama.

Há perdas inevitáveis no aproveitamento dos investigadores, e é realmente lamentável que isto aconteça. Mas já Ramon y Cajal afirmava que nem todos os candidatos a investigadores se revelavam, afinal, capazes de êxito. Só uma parte deles tinha condições de triunfo. Mas que todos estes se aproveitem, que nenhum seja desperdiçado. Todos são poucos para o bem da cultura e do País.

A vizinha Espanha tem o seu Conselho Superior de Investigações Científicas, com uma dotação enorme, com uma formidável organização, um viveiro fecundo de valores intelectuais, com institutos de primeira ordem, com prémios para estímulo das actividades mais úteis e com a iniciativa da edição de numerosíssimas publicações.

Entendo que, nesta matéria de publicações oficiais, a disposição adoptada pela Assembleia Nacional nas últimas leis de meios sugere reflexões.

Evidentemente as publicações dos estabelecimentos científicos representam um meio de intercâmbio e uma afirmação do seu labor que nos prestigiam e à nossa cultura perante o estrangeiro. O ilustre Ministro das Finanças já assim criteriosamente o entendeu para publicações universitárias ou congéneres.

Não vou estabelecer confrontos noutros pormenores, a alguns dos quais já me referi nesta Assembleia; não vou citar, por exemplo, o caso do carinho manifestado de múltiplas formas em Espanha pelo ensino e investigação sobre a língua, a história e a cultura árabes.

Entre nós esses estudos estão hoje reduzidos à disciplina de Árabe no Instituto de Línguas Africanas e Orientais, anexo à Escola Superior Colonial. Em Espanha há residências para estudantes marroquinos, há dois ou três institutos da especialidade, há a revista Al Andaluz, do Conselho de Investigações, etc.
Eu creio que devemos olhar mais atentamente para as nossas tradições arabísticas, até mesmo no ponto de vista político, nesta hora em que no Mediterrâneo - do qual, apesar da nossa posição atlântica, constituímos um dos pólos espirituais e culturais - arde uma fornalha, que é o movimento árabe.
A Inglaterra, esse país em que a indústria, a técnica e a ciência tem o desenvolvimento que todos VV. Ex.ªs conhecem, não se considerou diminuída por mandar recentemente aos Estados Unidos comissões para averiguarem dos respectivos progressos científicos, pedagógicos e técnicos; os relatórios que estão publicados mostram que a Inglaterra muito ganhou com essas missões.
Não insistirei noutros pontos, e vou terminar formulando alguns votos: em primeiro lugar, que, tanto quanto possível, na regulamentação que se vai lazer do diploma