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20 DE NOVEMBRO DE 1952 1035

poderá partir substancialmente de indivíduos do sexo feminino.
Considero a mentalidade imperial suficientemente máscula para nela poderem ser interessadas directamente, ou nela virem a exercer influência digna de registo, as mulheres.
E, dito isto, passo ao sector masculino.
Mas devo esclarecer que as considerações talvez pouco agradáveis que vou fazer não levam rótulo pessoal, nem para os que estão, nem para os que já estiveram à frente da Obra.
A vida das instituições, sejam elas de que natureza forem, projecta-se para além da actuação de um ou de outro dirigente, e estes são muitas vezes prisioneiros dos regulamentos. Como um grande santo, muitos deles poderiam dizer: «Sou forçado a fazer o que não quero, e não posso fazer o que desejaria».
Repito - porque nunca é de mais - o reparo já feito sobre a obrigatoriedade de inscrição e de contribuição.
Todo o acto compulsivo gera uma reacção instintiva. E daquela, obrigatoriedade resulta que muitos rapazes, cuja captação para os quadros da Mocidade Portuguesa não seria difícil, suportam refilando a obrigatoriedade a que os submetem e à qual procuram furtar-se por todos os meios. Quanto melhor teria sido o voluntariado estimulado, capaz de fazer nascer a ânsia de proselitismo e de criar um escol, ao qual se (pudesse, no futuro, entregar lugares de confiança, cargos de responsabilidade!
O facto de, entre vários concorrentes a um determinado cargo, ser preferido, em igualdade de circunstâncias, o candidato que apresentasse mais um diploma de educação moral e cívica não poderia ser considerado pelos preteridos um acto de favoritismo ou de injustiça. A todos à a, via oportunamente sido oferecida, idêntica habilitação, e os imprevidentes que a desprezaram só teriam de se revoltar contra a sua cegueira.
Assim se impulsionaria a obra e se poderia começar a ter confiança nas élites intelectuais que fossem surgindo para a vida.
A obrigatoriedade actual começa logo a pesar no momento da matrícula dos alunos, a qual só pode ser feita depois da apresentação do documento comprovativo do pagamento da taxa para a Mocidade Portuguesa. E como demora um a dois dias a passar, resulta daí ser necessária nova deslocação às pessoas que nessa época se encontram em legítimo gozo de férias.
Depois, no decurso do ano lectivo, surgem os apelos dos centros para manifestações de camaradagem, invocando-se a exiguidade das receitas, o que não parece aceitável numa obra dotada, só no Orçamento Geral do Estado, com 10:000 contos por ano.
A princípio os apelos eram feitos pelo conselho administrativo do Centro, mas agora, talvez para serem de acção mais premente, passaram a ter a assinatura dos reitores e dos directores dos estabelecimentos de ensino.
E na arte de pedir eles fizeram-se acompanhar de uma novidade, que prova bem quanto os bons exemplos frutificam.
Em tempos já recuados, uma lei eleitoral determinou que as abstenções dos eleitores fossem contadas como votos positivos de apoio aos desígnios do Governo então no Poder. O êxito foi estupendo, como não podia deixar de ser, e houve muita gente que até achou graça a esta habilidade eleitoral, num campo onde sempre tudo foi lícito, mas que nunca havia ocorrido aos democratas de profissão.
Pois os jovens ou os seus dirigentes, como bons aprendizes, acharam a inovação interessante e resolveram que a quota solicitada era de exigir no acto do pagamento das propinas a todas as pessoas que não tivessem declarado previamente o seu desejo de não a pagar.
Acentua-se nas circulares que esta quotização é inteiramente voluntária, mas isso não obsta a que se vá recorrendo a estes processos deselegantes de surpreender os descuidados, a quem não se aceitava a importância da propina sem o pagamento da quota, que, afinal, não haviam subscrito.
Numa instituição educativa todos os cuidados são poucos com as noções teóricas ou práticas que se ministram aos educandos. A sua veste deve ser sempre branca e constantemente renovada, para que ninguém nela possa notar, não digo já nódoas de escândalo, mas até mesmo as simples máculas do inevitável contacto com a impureza humana.
Destinam-se os fundos, obtidos pelo recurso à «generosidade» dos pais dos alunos, ao arranjo de campos de jogos e outras despesas, como seja auxílios a alunos pobres, visitas de estudo, excursões, etc.
Poderia ler aqui algumas cartas recebidas a propósito destas excursões, mas não quero alimentar animosidades contra estas digressões juvenis nem agravar o carácter impolítico de que elas se revestem, assoprado pela propaganda inconveniente que se faz delas.
As deslocações à Galiza, à Andaluzia, etc., dificilmente poderão ser classificadas na categoria de patrióticas, de estudo ou de formação moral.
Tudo isto, porém, são problemas legados à vida interna da instituição, embora repercutindo-se exteriormente, mercê da circunstância de todos os cidadãos serem forçados à curiosidade do que por lá se passa, uma vez também que todos para lá têm de contribuir.
Há outros, porém, mais importantes que não me posso dispensar de apreciar.
Se a iniciativa do Estado, no sector feminino, tinha uma justificação absoluta, no sector masculino a mesma iniciativa só relativamente poderia ser digna de aplauso.
Ao tempo em que foi criada a Mocidade Portuguesa já existiam em Portugal, há muitos anos, outras instituições preocupando-se com a educação moral e cívica da juventude, umas das quais - o Corpo Nacional de Escutas, criado e directamente orientado pela Igreja, a educadora por excelência - não deveria ter carácter suspeito para a ética, do Estado Novo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Viviam, é certo, vida difícil, como aliás tudo o que neste país está dependente da generosidade particular. O Ministro da Instrução, o Prof. Dr. Cordeiro Ramos, que tão boa memória deixou no exercício do seu cargo, procurou muito inteligentemente aproveitar o grupo precioso de educadores, voluntários e devotados, que eram os dirigentes é graduados desta instituição, e criou a Organização Escutista Nacional, à qual concedeu de início facilidades e estímulos que, a manterem-se, não tardariam a produzir frutos apreciáveis.
Mas alguns, pouco esclarecidos, acusaram o escutismo de sofrer de exagerada influência anglófila, o que, naquela época, era, para muita gente, coisa detestável.
Não se pode negar isso, como é inegável ser o jogo do boxe de carácter tipicamente americano e o alpinismo desporto das zonas montanhosas.
Neste mundo cada coisa traz ligada a si, mais ou menos indelevelmente, a marca de origem, que raramente pode ser ocultada.
Contudo, também o futebol tem acentuado cunho inglês, e os mesmos que acharam inconveniente o escutismo pelam-se, talvez, pelo jogo da bola.
O escutismo, embora de origem inglesa, é um método educativo adoptado em todo o Mundo, e por toda a parte tendo dado as suas provas. Em matéria de educação