O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5 DE DEZEMBRO DE 1952 143

nal dos Produtores de Trigo não resultem numa grande confusão, dei-me ao trabalho de investigar qual a causa psicológica ou, melhor dizendo, qual a sério do causas u que se deve o estado psicológico da aversão do lavrador minhoto em entregar milho aos celeiros da Federação.

Vou apontar essas diversas causas, mas pude já afirmar-se, para dizer tudo do uma vez, que isso se dá porque a lavoura de Alinho nau tem uma organização que a sirva, mas uma burocracia que lhe é pesada e incómoda.

Sr. Presidente: tornou público a Federação Nacional dos Produtores do Trigo que autoriza a criação de celeiros em toda a parto em que as ofertas de milho e justifiquem e isso é de agradecer e louvar. Se não fosse esta intervenção da Federação no caso do milho seria de angústia a situarão dos lavradores minhotos, porque a exploração c o açambarcamento teriam o campo livro e ficariam a vontade no espezinhamento do lavrador sem defesa.

Há. porém, na orgânica da Federação, na sua exigência aos grémios da louvoura e nas condições impostas para a entrega do milho coisas que complicam em extremo a vida simples e difícil do rural minhoto.

Em primeiro lugar a Federação dá ordens aos grémios da lavoura para montarem celeiros onde for preciso. Mas, segundo o testemunho do antigo presidente do grémio da lavoura de uma das cidades do Alinho, o que a Federação abona para aluguer dos celeiros não está do acordo com o preço das rendas na localidade.

Esse presidente referiu-me que procurou uma casa para recolha do milho da Federação mas não a conseguiu. Teve de valer-se para o efeito de um edifício escolar abandonado, porque não havia proprietário que arrendasse um prédio à base do estipulado pura o aluguer dos celeiros.

Isto deu-se, num dos últimos anos, na própria cidade de Braga.

Da circunstância apontada provém que os grémios da lavoura não gostam de se prontificar a arrendar celeiros, porque, fazendo-o, se metem em dificuldades que provêm ainda de outra circunstância: é à sua responsabilidade que os grémios da lavoura recebem o milho.

Só o milho se deteriorar, porque com o tempo de chuva mais intensa lhe chegou a humidade, se não está bem seco quando se recebe, ou se por qualquer forma se deteriora, quem sofro os prejuízos são os grémios da lavoura. Para fugirem destes encargos fogem de estabelecer celeiros e do receber milho.

Teoricamente a Federação estabelece celeiros em toda a parte ou dá ordens aos grémios da lavoura para que os estabeleçam.

Na prática, contudo, por estas e outras razoes, existem poucos celeiros para a entrega fácil do milho pêlos agricultores. Em todo o distrito de Viana do Castelo o único celeiro que recebe actualmente milho é o da sedo do distrito.

Foi o Sr. Engenheiro Quartin Graça quem mo afirmou. como pode o agricultor de Castro Laboreiro. em Melgaço, ou de Riba do Alouro ou Anhões, em Monção. freguesias que já ficam muito distantes du sede do concelho, entregar com facilidade o seu milho tendo o celeiro apenas na sede do distrito.

O Sr. Elisio Pimenta: - Conviria esclarecer que qualquer dessas freguesias fica a mais de 100 km da sede do distrito.

O Orador: - São mais de 100 km de distância. E estamos, de facto, nesta situação, que é um verdadeiro circulo vicioso. Os lavradores não entregam milho porque não têm onde fazer a entrega fácil, o a Federação não monta celeiros porque não há ofertas de milho.

Outra circunstância há ainda que leva os rurais a não entregarem milho aos celeiros da Federação, a não ser em casos extremos: é logo na colheita, pelo S. Miguel, que os lavradores caseiros precisam de dinheiro para liquidar as suas contas com o senhorio, ou porque vão tomar de renda outras terras, ou porque tem necessidade urgente de liquidar contas já atrasadas.

Há, porém, grémios da lavoura que autos de Dezembro, e às vezes mais tarde, não recebem milho da nova colheita, alegando que ainda não está bem seco. que vai fermentar no celeiro e deteriorar-se... E só o milho graúdo é que é recebido, pois a percentagem de milho são, mas pequeno, que agora é de 15 por cento e até aqui era de 10 por cento, é na maior parte dos casos, calculada a olho.

Sucede, por isso. muitas vezes que o lavrador, depois de ter andado muitos quilómetros a pé para fazer a entrega do seu milho no celeiro, volta com uma parte dele para casa rejeitado.

É um pouco mais pequeno, dá mais casca, e o celeiro não o aceita porque a Federação só quer milho muito bom.

O Sr. Elísio Pimenta: - Aparentemente, porque isso não devo ser assim; a Federação preocupa-se mais com o lucro próprio do que com o interesse do produtor. Há um aspecto comercial que não estaria certo.

O Orador:- O milheto, do terras secas e leves, tem o lavrador de o consumir em casa ou de o consumir ao desbarato. E por tudo isto se consome e sofre o pobre agricultor, pois, não tendo uma máquina separadora, é-lhe difícil calcular qual o critério do funcionário que recebe o milho e se terá do voltar com ele casa.

Estas e outras circunstâncias essenciais na análise o estudo do problema do milho explicam a relutância do lavrador em entregar milho à Federação Nacional dos Produtores de Trigo.

Por isso os celeiros da Federação não têm procura. É que, tendo sido este ano de abundância, dois fenómenos económicos-sociais se verificam nas terras do Minho.

Nas localidades em que abundam os operários fabris e é grande o consumo do milho os intermediários e regatões pagam-no um pouco acima da tabela, mas nas regiões onde não há fábricas o preço foi muito para baixo do estipulado pelo Governo. São as queixas que tenho ouvido.

O Sr. Elísio Pimenta: - Devo esclarecer que de há oito dias para cá, em Santo Tirso o milho baixou 550 em arroba, e nesse concelho ó a moagem que o compra.

O Orador: - Isso só vem confirmar a minha tese. E ainda se dá a circunstância de Santo Tirso ser uma região fabril em quo há procura de milho.

Nas regiões puramente agrárias pode calcular-se o que seja.

É o que já em 6 de Novembro, sob o titulo «Caso muito grave», publicava o Diário do Minho. de Braga, em local da primeira página. São dessa local estes períodos: «Acontece que devido às necessidades forçadas da lavoura, os preços do milho têm baixado de tal forma que só por favor o pagam a 2$ ou 1$90 o quilograma. O que isto representa de gravidade para a lavoura nem é bom pensar.

Em nome dos prejudicados, que são todos os lavradores, rogamos a quem de direito quo se tomem imediatas providências».

A local é assinada pelas iniciais J.G.S o embora publicada num diário de Braga, refere-se ao que se passa no distrito de Viana du Castelo, onde vive J.G.S.. colaborador do Diário do Minho.