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11 DE DEZEMBRO DE 1952 261

de gosto tão popular: «coda terra com seu uso. rada roca com seu fuso».

E todo esto arrazoado para dizer que não me preocupa muito n citação, feita no preâmbulo do Plano de Fomento, de Portugal ocupar, quanto ao rendimento nacional, o degrau dez, situado abaixo de nove países mais felizardos e com 134 dólares por habitante.

E isto pelo que ficou dito e ainda porque me lembro de que se a comparação fosse feita de sentido de apurar qual desses dez países teria mais contribuído para o bem-estar da, humanidade com o uso dessa mesma soma de moeda e sentindo, por isso, maior felicidade espiritual de dever cumprido, seria capaz, sem muitos malabarismos, de inverter posições e levar Portugal a ocupar uni honroso lugar entre os primeiros.

E mesmo, se desejar fazei- ura jogo unais franco de números, e por isso com maior interesse, procuraria contendores do mesmo peso, como de resto é uso em luta leais, e então o nosso pouco evoluído país, conforme alguns o classificam, ao lado dos que o mesmo céu azul recobre, teria, decerto, posição mais invejável.

E, sem alterar o sentido do que disse, poderia aceitar então que os kilowatts, as calorias e os índices de rendimento nacional já poderiam ter qualquer significado económico-social. E, se não fosse assim permitam então os meus ilustres ouvintes que eu, em face dos números apresentados pelo nosso muito ilustre colega Deputado Nunes Mexi-a, coloque na posição do país muito evoluído o nosso Portugal.

Os números 28,2. 11,1 e 60,6 porcento, referentes às actividades primária, secundária e terciárias da população activa, podiam-nos dizer, de facto, que correspondiam a uma, nação com uma agricultura c uma indústria intensivas e com uma população activa, numerosa nos domínios da distribuição e de outros serviços mais leves.

Não se julgue destas considerações que seja hostil às matemáticas e, consequentemente, às estatísticas, mas confesso que temo o profissional do número, que é capaz de tirar deste material tão dócil mais do que uni célebre prestidigitador teria engenho para extrair de um pequeno chapéu alto.

Por isso apenas direi, quanto a níveis de existência p tantos outros níveis de vido económica e social, que, por merco de Deus, embora não privilegiados quanto à riqueza em energia e em minérios ricos, mesmo assim, com o que temos lá iremos continuando a viver, uma vida modesta é certo, e a formar, cada vez mais forte, este grande Império de almas que, em pleno século do carvão e do ferro, teve força paru criar à sua imagem uma grande nação americana.

E ainda diremos também que o continente negro é hoje excelente repositório de bons exemplos para demonstrar o elevado nível da civilização do povo que há muitos séculos habita este extremo do velho continente europeu.

E isto quanto a níveis de existência e outros níveis.

Sumos hoje porém, na realidade, mais do que o território 'pode fisicamente albergar em espaço tão reduzido. Em maior espaço e mais rico, outros povos não saberiam viver com tão elevada concentração demográfica.

Mas as cores são ainda mais carregadas.

Este formigueiro humano pulula na realidade numa nesga que apenas cobre um dez avos do todo. E os restantes nove dez avos são medíocres ou mesmo muito maus. E idêntica imagem se repete em diversas paisagens insulares.

Mas, mesmo assim, temos constituído um saudável viveiro de gentes, verdadeiro prodígio da criação. A terra, cultivada em parcelas que mal deixam em algumas glebas virar gados no labor da dobragem da leiva, tem chegado, à custa de um milagre de multiplicação, para o seu sustento. Lá mais para o Sul, onde a aridez gerou o latifúndio, a gente é também de mais nas épocas em que sossega o trabalho do campo.

E por isso saldos demográficos apreciáveis alimentam sem cessar caudalosa torrente para terras cuja história é a nossa própria história, torrente que migra mas não emigra, porque apenas se deslocam os corpos, ficando sempre presas as almas.

Portugueses da América, da África, da, Ásia ou da Oceânia, tezes de várias cures, são todos elo. como dizia notável orador angolano em terras de Santa Cruz, da mesma cor - o branco puro das suas almas. Por isso é de aplaudir a criação de novos centros em pontos afastados do território que de todos fui berço, nos trópicos ou aquém ou além deles, que sejam novos núcleos do irradiação da, raça. E para que não falte nada do que é necessário para continuarmos iguais a nós próprios, terá de ser árduo o labor a realizar.

Será o actual ritmo de migração, mais de 30 milheiros no ano que vai a findar, susceptível do se manter? Difícil é arriscar nina previsão. Digamos, porém, que o progresso evidente dos misteres industriais será também dentro de poucos lustros grande consumidor dos saldos da nossa gente.

E até levará, como de resto será conveniente, a um maior uso da máquina na lavoura para melhor aproveitamento dos ensejos e redução dos custos. E para tal, como está previno, o ritmo de crescimento das disponibilidades de energia fluvial acompanhará esta evolução, prolongando-a a tempo. E há que ler confiança no rumo que seguimos pois já se começou a olhar a sério para os nossos ruis como principais agentes do fomento da terra.

Enquanto não tivemos tempo para olhar pelo que era nosso, na ânsia de trazer mais e mais para o império das grandes verdade, derrotou-se, é uni facto, muita mata para lenha ou para semear o trigo, o centeio ou plantar a batata. Veio depois a enxurrada e levou a turra paru o vale e de lá foi andando, em triste caminhada, até à foz. Arearam-se glebas férteis, geraram-se sapais, entulharam-se portos, o os rios, cheios de meandros, envelheceram precocemente.

A recuperação de tudo isto pelo menos do que for recuperável terá de ser lenta Esta grande escada desce - se, na realidade, com rapidez, mas a sua subida exige que se tome fôlego. Mas de qualquer forma teremos de o fazer, pois é neles, e só neles que está a energia, que é o verdadeiro viço da Nação.

Prospecção, sinónimo de reconhecimento prévio, é hoje uma palavra que anila muito em voga c que muitas vezes terei agora de pronunciar.

Faz-se do subsolo, do solo agrícola e florestal, da propriedade que os homens acordaram em delimitar, e até o fisco faz prospecção em busca de uma base mais justa para distribuir, entre todos, as despesas da Nação.

Pois hoje, mais do que nunca, e isto só para colher o pão isso de cada dia. é necessário fazer segura prospecção, única forma de evitar irreparáveis desastres na economia e vida social dos povos.

Se tivesse havido a devida prospecção por essas bacias hidrográficas do País, não se teriam deixado esterilizar, possivelmente. 500 000 ha das serranias do Algarve e Baixo Alentejo, desfeitos em palha e pouco grão, ao som do clarim de uma bela campanha de criação de riqueza, em pouco mais de duas décadas. E também não estariam quase exangues outro um dezasseis avos do território - areal pliocénico que se estende desde Vendas Novas a Algezur - ou ainda as encostas policromas da Estremadura antigos domínios dos monges de Alcobaça.

E decerto, também, o vale do Mondego ainda seria hoje o celeiro e o açougue do centro do País, e não terra