11 DE MARÇO DE 1953 821
De 1939 até à presente data, eleva-se a 19 000 o número dos jovens inspeccionados só no Centro de Medicina Desportiva de Lisboa. A actuação destes centros tem assegurado à prática dos desportos dentro da Mocidade Portuguesa a certeza de não correr o risco de se tornar contraproducente sob o ponto de vista sanitário.
Graças aos centros médico-sociais, a organização pode ufanar-se de haver contribuído, de forma decisiva, pura, a boa solução em Portugal de um dos mais cruciantes problemas do desporto - o das suas relações com a Medicina.
7) Formação moral e nacionalista
Toda a obra da Mocidade Portuguesa visa naturalmente a formação moral dos filiados. Se, porém, nos quisermos referir apenas aos aspectos patriótico e religioso, verificaremos que - embora prejudicada pelo meio ambiente, pela devastação espiritual originada na guerra, e extensiva a quase todos, senão todos, os povos, e ainda pela nossa tradicional brandura de costumes - a Mocidade Portuguesa tem exercido benéfica influência na formação do carácter das novas gerações e tornado possível a criação de um escol; a forma como reagiram, na quase totalidade, durante as campanhas eleitorais posteriores a 1945, os actuais ou antigos graduados e a alta percentagem dos filiados «vanguardistas» e «cadetes» comprova a veracidade daquele asserto.
A formação patriótica da Mocidade Portuguesa exclui por completo a tendência para uma formação partidária, e por isso mesmo não dispensa formação política. A unidade nacional e imperial do povo português, o respeito devido à tradição e à memória dos heróis nacionais e a valorização de tudo quanto no presente possa servir para o futuro engrandecimento português são, em resumo, o travejamento da formação política na Mocidade Portuguesa.
Resultam dessa directriz tanto as habituais comemorações dos grandes feitos históricos como a criação de actividades de ordem prática. Estão neste último caso os centros de estudo e formação imperial, já instituídos em Lisboa, Porto, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Torres Vedras e Seixal, com a colaboração do Ministério do Ultramar (Agência-Geral), colaboração essa que permitiu iniciar-se no Verão de 1950 um ciclo de missões de estudo da Mocidade Portuguesa no ultramar, empreendimento cuja importância é desnecessário encarecer.
No capítulo puramente religioso anota-se que a Mocidade Portuguesa dispõe de um vasto quadro de assistentes religiosos nas delegações, subdelegações e centros escolares e extra-escolares. A filiação na Mocidade Portuguesa, naturalmente extensiva a rapazes que não professem a religião católica (protestantes ou de religiões não cristãs), é incompatível com o ateísmo.
Na metrópole a percentagem dos filiados católicos toca muito de perto os 100 por cento. Os raros filiados não católicos são, como é óbvio, dispensados de todos os actos de culto promovidos pela Mocidade Portuguesa ou nos quais a Mocidade Portuguesa participa.
As actividades da Mocidade Portuguesa condicionam-se, como já se disse, ao princípio de que não poderão de modo algum prejudicar os deveres religiosos, isto na execução de directivas estabelecidas desde o início da Organização.
8) Doutrina e técnica
Mantêm-se em plena actualidade as conclusões do I Congresso Nacional da Mocidade Portuguesa, que a seguir se transcrevem, como síntese dos objectivos, doutrina e técnica da Organização. A luz dos princípios que essas conclusões proclamam e da definição daquilo a que «Mocidade Portuguesa não é» - página do livro A Missão dos Dirigentes, que igualmente se translada para fecho do presente esclarecimento -, será por certo mais fácil compreender o que na realidade significa para o nosso país a existência de Organização Nacional Mocidade Portuguesa. E, tendo-o compreendido, ninguém de boa vontade deixará de lhe prestar a colaboração exigida pelo superior interesse da Nação Portuguesa.
O que a Mocidade Portuguesa não é...
A Mocidade Portuguesa não é secção de um partido político. Organização nacional, vive da Nação, pela Nação e para a Nação. Defende tudo o que fortaleça e estimule a consciência colectiva dos Portugueses e esclareça os seus destinos; guerreia tudo o que possa enfraquecer a nossa unidade, a nossa vontade, a nossa virilidade de povo imperial. Exprime assim a orientação definida pelo Estado Novo de lia anos a esta parte? Não haverá nenhum português digno desse nome que possa condenar por isso n Mocidade. Nenhum pai por esse facto afastará de nós os seus filhos: seria colocar-se a si próprio fora do grémio nacional.
A Mocidade Portuguesa não é uma obra de acção católica. A maioria dos seus filiados é católica, não podemos ignorá-lo. A formação moral que procura fazer é inspirada nos princípios cristãos, porque tal é o sentido da nossa civilização e da nossa cultura e o imperativo da nossa consciência e das nossas leis. Mas a Mocidade Portuguesa não pertence à Igreja: é uma organização do Estado. Nem lhe compete substituir-se à hierarquia docente da Igreja, nem pode integrar-se nela.
Esferas distintas, domínios separados, em perfeito entendimento sim, mas sem confusões.
A Mocidade Portuguesa não é uma organização militar. Embora vá recrutar grande parte dos seus dirigentes no Exército, na Armada e na Legião Portuguesa e possua uma. milícia, não se confunde com qualquer sociedade de instrução militar preparatória.
O seu objectivo não é antecipar a instrução de recrutas, formar pequenos soldados, militarizar o País: limita-se a ir buscar às instituições militares quanto elas tenham de sólidos elementos educativos - aquelas virtudes de sacrifício, de abnegação, de decisão, de disciplina e de aprumo sem as quais não pode compor-se um tipo de homem verdadeiramente viril. As forças armadas do País têm colaborado, cheias de admirável fervor, com a Mocidade Portuguesa, mas fazem-no conscientes de contribuir para o desenvolvimento da maior organização educativa até hoje levada a cabo em Portugal.
A Mocidade Portuguesa não é uma sociedade desportiva ou de educação física. A ginástica e os desportos são para nós um meio, e importantíssimo, por sinal, mas não são o nosso fim. Não existimos para ensinar ginástica, para fomentar a prática dos desportos. Desejamos veementemente melhorar o nível físico da juventude portuguesa, mas não ficamos por aí. Reduzir a actividade da Mocidade a aulas de ginástica e a treinos desportivos é trair o seu espírito.
A Mocidade Portuguesa não é uma disciplina escolar, um tempo nos horários, nova matéria nos programas de ensino. É que a Mocidade não é coisa que se ensine: traduz-se em viva actividade de formação, a decorrer de mãos dadas com a escola, mas à margem da escola. Não queremos estrado, nem professor, nem caderneta, nem ar doutoral. Mas o quente ambiente da colaboração entre o irrequie-