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20 DE MARÇO DE 1953 933

semos generalizar, e que só pode tomar-se como desdouro para a classe dos veterinários concluindo do particular para o geral, o que só por erro de lógica e verdadeiro sofisma se pode fazer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quanto à afirmação de que em muitos concelhos a acção do veterinário se limita a vigiar pela higiene da carne servida ao público, é ela a expressão do que tenho ouvido em terras cio Minho a muitos presidentes de câmaras municipais. Delas me fiz eco e porta-voz nesta Câmara, como é meu dever de Deputado pela região minhota.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-O facto dá-se, e não é a mim que compete estudar as causas que o determinam.
Em nada, porém, tais casos podem afectar a dignidade da classe dos veterinários, que têm uma nobre e alta missão a realizar e que em muitos pontos do País a estão realizando com dedicação, sacrifício e brio profissional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não sei mesmo a quem pertence a responsabilidade de a não realizarem em toda a parte. Pode bem suceder até que em alguns concelhos seja por não se darem ao veterinário municipal condições bastantes para um trabalho profícuo e total rendimento da sua acção.
Mas isso já não é comigo nem faz parte da missão de qualquer Deputado.
Termino, Sr. Presidente, afirmando toda a consideração pela classe dos veterinários e pela importância da sua missão, ao mesmo tempo que continuo a estranhar que o Código Administrativo não preveja a existência de um agrónomo ou regente agrícola em cada concelho.
Se lá fora há bulhas ou rivalidades entre agrónomos e veterinários, e essa circunstância pode ter concorrido para dar às minhas palavras e aos apartes dos Srs. Deputados sentido e intenção que não tinham, é preciso afirmar aqui, bem alto, que todos quantos fazem parte da Assembleia Nacional são superiores e estão acima dessas bulhas e rivalidades e não as têm em conta no que afirmam nesta Câmara.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Colares Pereira: - Sr. Presidente: morreu alguém!
E esta palavra "alguém" é por mim proferida como sendo exactamente aquela que é capaz, na sua singeleza, de abarcar o que havia de extraordinariamente grande nesse homem que ontem se despediu da vida.
Efectivamente, era "alguém" no nosso meio - neste de que partiu ontem subitamente - o Prof. Doutor Manuel António Moreira Júnior, e tanto o era, tão grande a sua envergadura e tão justa a sua projecção nacional que, Sr. Presidente, a sua figura não vai ficar diminuída, apesar de ser eu - eu, que vos falo- a pessoa que o evoca hoje nesta sala do Parlamento, a mesma que foi o grande teatro dos seus triunfos, tanta vez recordados e tão poucas vezes excedidos!
É alguém aquele que, em qualquer terra e, especialmente, em certas épocas, consegue -sem ter nascido em berço de ouro e sem ter pergaminhos, que em certos casos dão asas e fazem voar muitos que, sem elas, e apenas por mérito próprio, dificilmente andariam -, consegue, repito, pela sua inteligência e vontade indomável, a altura que todos ambicionam e até onde poucos ascendem.
Há um sexto sentido, espécie de fluido, nunca aprisionado, manifestação estranha de qualquer coisa que existe, se sente, mas que ninguém vê, a que eu chamo - por a não saber definir melhor- um "segredo" que Deus guarda ciosamente, para só o dizer à pequeníssima minoria dos escolhidos para serem aqueles homens que Ele quer, em sua alta sabedoria, que sejam os "maiores" nos seus países.
Assim, e só assim, se explica que nesses homens possa ser tão multiforme a actividade, tão fértil o engenho, tão excepcional a inteligência, que, ao mesmo tempo, eles sejam, como Moreira Júnior foi: grande homem público, excelente Ministro e excepcional parlamentar: professor, cirurgião e clinico dos maiores do seu tempo; culto e estudioso economista, e, na prática, seguríssimo orientador e dirigente do finanças o da indústria, no mais elevado plano das suas realizações.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença?
Há uma particularidade digna de referência: é que a obra do Prof. Moreira Júnior como Ministro da Marinha e do Ultramar é frequentemente apontada como semelhante à do Júlio de Vilhena, que foi das mais notáveis.

O Orador: - Agradeço muito a V. Ex.ª a sua interrupção, tanto mais que por ela a Assembleia tomou conhecimento de comunicação de tanto interesse sobre a consideração em que era tida a obra do Prof. Moreira Júnior como Ministro do Ultramar.
Sr. Presidente: eis porque eu disse: morreu alguém!
Aqui, nesta sala, com o ardor da sua mocidade, só vencida pela rapidez com que fora feita a ascensão aos altos postos da vida pública -juventude de espirito que até ontem não o abandonara!-, e com um vigor e coragem física que a toda a hora lembrava aos outros a certeza de que "os homens não se medem aos palmos", ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-... ele combateu, dissertou e concorreu sempre com o fulgor da sua oratória - esplendorosa e pessoalíssima- para o brilho e eficiência dos trabalhos parlamentares.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Na Lisboa desse tempo - o dos últimos reis de Portugal- corriam céleres e eram recordadas e apreciadas algumas dessas intervenções; quando publicados os seus discursos, essas páginas levavam a quem não tivera oportunidade de os ouvir a certeza de que não exageravam quantos - e eram todos! - o proclamavam, fascinados, um orador de raça!
Mas não foram sempre de louros subsequentes ou de radiosas flores sem espinhos as flores da oratória parlamentar, tão fogosa.
De algumas delas colheu o fruto amargo, que é o prémio certo dos que lutam e se batem por ideias que são próprias, e julgam serem boas, e que, a não se defenderem até com a vida, levariam a que deixasse de valer a pena vivê-la!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, teve duelos o homem público, provocados pela coisa pública - e só por ela. Foram