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934 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 221

romanticamente aceites todos, mas, para os meus olhos de hoje, aparecem-me romanticamente, não só os aguerridos contendores, como também a ténue razão da ofensa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Era próprio do batalhador batalhar, e não lhe permitiam as circunstâncias e o meio a possibilidade de escolha de outro combate; e, cinquenta anos depois, muita vez lhe ouvi dizer, sorrindo - num jeito de rir que a velhice, enternecidamente, só dá ao rosto dos velhos que souberam ser novos: "Sim, sim; mas, apesar de tudo e de explicada a ofensa -logo esquecida!-, ainda hoje não consigo zangar-me, a sério, com o Moreirinha dessa época!".
Risos.
E eu acrescento que ele fazia muito bem!
Foi precisamente o treino da luta (menino e moço, na instrução primária; depois - e com que custo! - nas aulas de Humanidades e a seguir, na Politécnica, onde logo - e era o mais novo de todos! - recebeu das mãos de um grande professor o prémio correspondente aos 20 valores que alcançara) o que lhe deu as possibilidades de atingir tão invulgar e marcada personalidade.
Essa classificação de valores que recebeu tão novo influiu em toda a sua vida, pois foi durante ela merecendo outras iguais em tudo a que se dedicou ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- ... com uma tão grande prodigalidade e uma tal justiça que o tornou a ele, e nos deu a nós - ao País -, o que eu comecei por dizer que ele era, e repito, com emoção e respeito: alguém!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: a voz pública, para todo o homem e em qualquer profissão, só existe e só tem a força incomensurável e perigosíssima que é própria dos movimentos incontroláveis quando esse homem atingir determinado patamar da escada, sempre aliciante e tão perigosa, da celebridade, que, afinal, nem sempre quer dizer glória.
Mas a voz pública também só repara na escada e em quem a sobe quando alguma coisa misteriosamente lhe diz, e raro se descortina o que a levou à descoberta de que esse homem vai, efectivamente, no caminho da consagração.
É ela quem a prepara, e, depois, é ainda ela quem a mantém, e até tão mais viva quanto tenha sido mais cedo adivinhada.
Ora tudo fadou o Prof. Moreira Júnior para a notoriedade, que é, afinal, o reconhecimento popular do prestígio, quer quando ele nasce da mais hermética das ciências ou do maior recolhimento, e não só, como poderia parecer, do contacto político com as massas, que seria o natural, mas às vezes, embora seja estranho, não o provoca.
Na Faculdade de Medicina, antiga Escola Médica, assim se chamava quando a frequentou como aluno - o mais novo e também o mais classificado -, foi depois, e por muitos anos, mestre ilustre e seu director.
Nos Hospitais Civis, para onde entrou muito jovem - não se fizera até então contrato com alguém de tão pouca idade -, breve deu provas do sou valor como cirurgião, clínico e organizador, pois de longe vêm os louvores e citações, que se sucedem e formam um justo galardão, de que muito especialmente se orgulhava.
Entretanto, atraído pela política, ei-lo, primeiro, Deputado - também novíssimo quando da primeira eleição -, sempre repetido até ao fim da Monarquia; depois, Ministro da Marinha, do Ultramar e das Obras Públicas.
Dessa actuação ficaram, felizmente, provas que atestam o valor real das medidas do Ministro e demonstram o seu muito mérito e competência.
Recordo apenas o grande interesse que lhe mereceram, entre outros, e foram objecto de propostas que constituem separata digna de estudo, os problemas dos caminhos de ferro na metrópole e no ultramar, o crédito agrícola, os seguros e os acidentes de trabalho.
Finalmente, lembro mais - e foi das maiores - a sua inteligente e patriótica providência: a criação da Escola Superior Colonial.
Sr. Presidente: do Prof. Doutor Moreira Júnior pode pois dizer-se que os seus 86 anos foram vividos, durante setenta, em justo e indiscutível prestígio como aluno, como mestre, como cirurgião, como Deputado e como Ministro, e, por último, como presidente de todas as altas agremiações que o disputavam para o seu grémio.
Sr. Presidente: não vou, para cada uma das facetas da sua extraordinária actividade, fazer a resenha dos triunfos ou a história biográfica e cronológica dos sucessos.
Há nesta sala, para cada uma dessas modalidades, crítico mais competente. Não vou, portanto, conscientemente, invadir esferas alheias.
O País, através da sua imprensa - jornais da tarde de ontem e da manhã de hoje -, conheceu, pois todos o disseram, o que foi a vida do Prof. Manuel António Moreira Júnior.
Todos, sem excepção, e bem hajam, mostraram com relevo e justiça - e não posso esquecer em referência especial O Século - que a Nação perdeu um seu alto e indiscutível valor.
Recordaram os jornais a sua actuação como professor, mestre de várias gerações dos que são hoje ilustres médicos como ele; falaram da sua prestimosa passagem pelo Governo; recordaram que, como escritor, como homem de ciência, de espírito e de cultura, lhe abriu as suas portas a Academia das Ciências, e que nesta lhe deram os seus pares o que de mais valor lhe podiam oferecer: a presidência.
Felizes os que em vida lhe mereceram alguma vez, Sr. Presidente, o título de amigo, nunca por ele desperdiçado e nunca também esquecido.
Dos seus amigos, devo ser o que está mais triste: é que eu dava-lhe uma amizade de quase filho e dele recebia, em troca, um carinho de avô.
Termino.
Desculpem se não soube dizer-vos, com as minhas palavras de evocação, a justiça do meu desejo: deixar aqui, na Assembleia Nacional, o público testemunho de consideração por quem, em tão alto grau, a mereceu.
Ficou-me no coração uma dor e nos lábios um travo, que são, como disse o poeta,

- pungir de acerbo espinho; gosto amargo de infelizes,
- saudado que ou já sinto, o ... não morre.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi multo cumprimentado.

O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: não é um acontecimento banal do noticiário a morte, na manhã de ontem, do Prof. Moreira Júnior.
Muitas são as razões que, a meu ver, justificam as palavras de saudade e de homenagem que sejam con-