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15 DE JANEIRO DE 1955 329

deixem que lhes diga, lá são mais comodistas que entre nós, porque se não afastam facilmente os pastores alpestres ou aquelas ovelhas do Sul e do Centro da França, produtoras do queijo de Roquefort e Camembert.
E, com respeito a porcos, já se meteu na cabeça de alguém dividir varas aos grupinhos e mantê-los divididos durante uma viagem um pouco longa?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Gostaria que tivessem assistido, por exemplo, ao que aconteceu em Madrid, na estacão do Norte, quando do concurso português «á la Feria del Campo» com o nosso tão apreciado gado suíno alentejano preto. Foi uma verdadeira tourada, com correrias e pegas, com ferozes combates entre animais e feridos, com a invasão da própria estacão de passageiros daquela capital. Porcos não se levam assim aos grupitos! Mas quantos terão sido os automobilistas incomodados com varas de porcos nas estradas de asfalto? O pastor foge dessas estradas - só na absoluta proximidade dos campos das feiras é que se metem à estrada asfaltada, por necessidade. Os porcos nas estradas marcham pelo fundo das valetas.
E, agora, quanto a gado bravo! Então este gado leva-se de um lado a outro como as ovelhas ou gado bovino leiteiro, que ainda é pior pela sua lentidão? Olhem, senhores que o não conhecem, que o gado bravo tem à frente duas pontas com que se não brinca porque ... com elas não seria nada cómodo encontrar-se.
Quem é que pode levar um touro só com cinco cabrestos? Não é sabido que um jogo de cabrestos é só por si de sete? E com um touro o grupo é logo de oito. E se se trata de uma corrida, o número sobe logo a dezasseis, em qualquer caso, com, pelo menos, quatro a seis criados a cavalo. E se é da uma manada de vacas que se trata, elas terão de ser repartidas aos grupelhos? Quem as aguenta, quando todas juntas é já tão difícil?
Mas, de resto, onde é que se leva gado bravo ao longo de estradas de alcatrão, onde se não pode ter de pé, onde escorrega e tenta fugir?
O gado bravo está geralmente nos salgados de Vila Franca, onde tem seus raminhos de campo, e se por acaso entra na estrada do Cabo tem um espaço especial reservado ao lado da estrada, onde não incomoda, os automobilistas e até diverte quem passa e vê os campinos entretidos com eles; é um número de turismo apetecido, e além do Porto Alto este gado tem para transitar, fora de estradas, a charneca, do Infantado e dali a Vendas Novas e além tem o espaço imenso dos campos do sul do Tejo. Nunca, ninguém viu gado bravo em estradas asfaltadas; isso não convém a ninguém. E na travessia de povoações? Quais as que são atravessadas por gado bravo que utilize a estrada de alcatrão? E o tal aviso de vinte e quatro horas sabem em que resulta? Em que o povoléu, com foguetes, se prepare para fazer tresmalhar o gado!
O código não prevê isto. Não proíbo foguetes e brincadeiras, prepara-as!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É bom que saibam que quando se leva gado deste é fora de caminhos e longe do povoados e de noite e secretamente, se possível! Qual estradas alcatraodas!
O gado que incomoda é o gado manso das feiras entre Vila Franca e Lisboa, mas para isso há remédio como já disse.
Mas voltemos às ovelhas.

Então aquela gente da Golegã, da Azinhaga, da Chamusca, de Alpiarça, de todo o Ribatejo, que recolhe seus gados nos estábulos dentro das terras, não poderá depois disto levá-los todas as manhãs a pastar e recolhê-los à noite sem regimentos de criados, lamparinas, holofotes e bandeiras?
E aquela gentinha da Estremadura ou da Beira, que tem as suas casas ao longo das estradas, não poderá mandar um filhito com o seu rebanhito para as pastagens, às vezes a 100 ou 200 m de casa, até sair de entre muros, sem catafogos, lampiões e auriflamas? Não senhores! Isto é ridículo, é impraticável, é caro e é cruel!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E enquanto assim se estão apertando as possibilidades de respiro a quem produz, o que resulta sempre em carestia na produção ou miséria, porque se não pune a Companhia Portuguesa, que ainda não resolveu as passagens de nível, que em vez de atrasar de um ou dois minutos a marcha do automobilista, como o trânsito de rebanhos, o retém nas passagens de nível trinta, quarenta, e, como me sucedeu ainda há poucos dias em Muge, cinquenta e cinco minutos!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E também porque se não impõe que as nossas estradas sejam lisas e sem aqueles ressaltos que partem mulas, suportes de motores, amortecedores e pneumáticos e não as constróem como as de França e da Itália, da Suíça e da Alemanha, etc., sem aqueles inconvenientes que custam, a cada um dos utilizadores das nossas estradas, contos e contos de réis todos os anos, em reparação e ruína dos carros?
Sei bem que avançamos na melhoria das estradas, que antigamente nos colocavam no primeiro lugar dos atrasados e impediam qualquer turismo; mas ouso, ainda no dia de hoje, recomendar uma viagenzita de Coruche a Salvaterra, de Coruche a Santo Estêvão, de Coruche ao Lavre, de Coruche a Vendas Novas, de Coruche a Mora, Pavis e Vimieiro, de Mora a Montargil e dali à Chamusca ou a Ponte de Sor, de Ponte de Sor a Alter, de Alter a Monforte e Barbacena e Elvas, de Santa Eulália a Vila Fernando e à Terrugem, de S. Miguel de Machede a Évora Monte, etc., para falar só das que percorri desde este Natal ato hoje. Quantas faltas de comunicações, quantas estradas más e horríveis!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não quero maçar mais os meus colegas, porque o discurso é já longo, com outros exemplos que poderia referir, tanto mais que sei que diversos dos meus ilustres colegas apresentarão outras imperfeições do código em discussão, mas já com estes que citei parece-me que haverá matéria bastante para se ver a necessidade de melhorar este regulamento com uma revisão cuidadosa das imperfeições que lhe achamos, tirar coisas inúteis e aliviar o sistema, porque tem de se reconhecer que muitas boas medidas foram introduzidas neste novo diploma, mas existem ainda bastantes deficiências.
Uma das mais graves é a que se refere aos meios de iluminação. A intensidade, a posição, os abaixamentos. Por exemplo, seria conveniente admitir um farol que iluminasse a margem direita da estrada com a luz dirigida de modo a não incomodar os automóveis que venham em sentido oposto e outra luz que iluminasse para trás o caminho ao que fica encadeado. Esta disposição facilitaria a solução do perigo dos ciclistas e