O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

98 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 104

diferente daquela de que os acusava Ricardo Jorge: «O médico português é, por psicologia própria, um trabalhador isolado, de jeito egotista e egotista nos seus processos interprofissionais».
Quero agora fazer uma referência às caixas da previdência e às companhias de seguros.
A tendência para quem dirige ou orienta estas organizações é de poupar ao máximo e de fazer produzir o máximo com o mínimo de despesa. Da minha observação pessoal deduzo (e isto pode ser verificado em escala nacional, se o Governo entender que vale a pena) que estão em piores condições económicas os médicos que trabalham em zonas rurais industrializadas do que os das zonas rurais propriamente ditas.
As pretensões dos médicos de Paredes correspondem ao desejo da maioria da classe médica:

1.º Que o beneficiário possa escolher livremente o seu médico;
2.º Que a Federação estabeleça uma justa recompensa pela prestação de serviços clínicos, sobretudo no que respeita à assistência domiciliária ;
3.º Que a assistência a prestar pela Federação se limite estritamente aos economicamente débeis;
4.º Que todos os clínicos que queiram trabalhar para a Federação possam ser escolhidos pelos beneficiários.

É digna de registo e merecido louvor esta atitude de sã camaradagem, dentro de uma solidariedade profissional que se conjuga com um honroso interesse cultural, promovendo sessões que denunciam o propósito do seu aperfeiçoamento clínico.
Não parece aconselhável a centralização dos serviços médicos na clínica rural, não só por causa da dispersão das populações como também pelas dificuldades de comunicações.
Se a dotação para os serviços médicos é pequena, que se aumente dentro da medida do possível, porque um médico rural em zona industrializada sem pulso livre não se aguenta sem subsídios das caixas convenientemente ajustados às circunstâncias.
As companhias de seguros, dada a pletora, jogam na lei da oferta e da procura; a tendência de quem está de fora é só olhar para umas dúzias de médicos com bons proventos, sem descortinarem as imensas dificuldades da generalidade dos médicos.
Bem sei que o excesso de médicos traz vantagens, ao lado dos prejuízos. As suas vantagens consistem em contribuir para elevar o nosso nível cultural e ao mesmo tempo estimular a concorrência, melhorando a assistência aos doentes. Mas com o aparecimento de grande número de intelectuais falhados na vida profissional ou assoberbados por inquietações económicas, torna-se evidente um perigo para a Nação e para a própria classe, onde processos condenáveis rio exercício da profissão farão descer o seu nível deontológico.
«Deixem descair os honorários, explorem, envilecendo os preços, a fartura de médicos à busca de situação, não se importem que, no aviltamento do mercado, se rebaixe a profissão, e verão que o resultado final é uma depressão das aptidões e competências. O nível económico e moral a descer, o nível científico seguí-lo-á. Não valerá a pena queimar as pestanas; o consumidor é que paga, que terá cada vez pior medicina e pior higiene». Estas palavras de Ricardo Jorge, ditas em Fevereiro de 1911, permitem concluir que a pletora traz mais inconvenientes que vantagens.
Sobre meios de medicar, haveria muito a dizer, se u ocasião fosse oportuna, mas algumas palavras são necessárias para completar o enquadramento do problema.
Os médicos iniciam a prática clínica nos grandes centros hospitalares, onde todas as novidades científicas e, sobretudo, as terapêuticas são objecto de estudo e experiência.
Esta atitude estratégica no combate às doenças devia ser corrigida,- e nem sempre o é, pelos professores, pois muitos dos seus alunos vão exercer a sua futura actividade em meios rurais muito pobres, onde não há condições para efectivação de alguns desses novos processos de curar.
Assim é que a grande voga dos antibióticos, abrangendo um vasto cenário, que vai desde a blenorragia à febre tifóide, deu ao público e ao estudante, futuro médico, uma atitude de ilimitada confiança nos seus resultados, de mérito indiscutível.
Mas é discutível uma supremacia absoluta dos antibióticos? Sem dúvida. Bem recentemente, o jornal O Médico, numa local com o título «Cuidado com os antibióticos», recolhia, com aplauso, as seguintes afirmações de um jornal francês:
Que os médicos se não deixem levar pelas sugestões dos seus doentes, que estes saibam esperar quarenta e oito horas ou setenta e duas horas pelos efeitos felizes das terapêuticas clínicas antigas, sem perigo, e que os antibióticos sejam reservados para os casos que deles necessitem.
Os estados alérgicos e até intoxicações graves produzidas por alterações sanguíneas com o uso de antibióticos levaram o jornal português a este justificado grito de alarme.
Mesmo com o abaixamento do seu custo, a terapêutica pelos antibióticos é muito dispendiosa para pessoas de modestos recursos.
A farmácia galénica, injustificadamente rejeitada, foi substituída pelas especialidades, mais cómodas de receitar, mas muito mais dispendiosas.
Que as nossas Faculdades olhem para estes factos e lhes prestem a atenção devida, ensinando os seus alunos a formular como se fazia antigamente, parece oportuno e necessário.
Quanto às farmácias, encontram-se por vezes muito longe dos aglomerados rurais, o que é deplorável quando não há boas ligações por caminhos ou estradas municipais razoáveis.
Para citar um exemplo entre muitos, direi que a freguesia de Dornelas do Zêzere, com cerca de quatrocentos fogos, no concelho de Pampilhosa da Serra, não tem estrada nem caminhos apropriados a ligá-la com a sede do concelho, da qual dista cerca de 30 km e onde fica a farmácia mais próxima.
Eis aqui um exemplo de estrada vicinal passar a constituir obra de saneamento.
Nos concelhos serranos alguns médicos fazem o seu giro clínico utilizando jeeps. Mas por tais caminhos de cabras nem de jeep por vezes se pode avançar e até se torna perigoso andar por ali a cavalo. Poderia contar algumas anedotas curiosas acontecidas com médicos e pessoas que os acompanhavam em visitas por aquelas veredas escarpadas, mas não vale a pena. A verdade é que o esforço físico exigido por grandes percursos a cavalo ou de jeep seria muito atenuado com bons caminhos. Serviços destes exigem grandes despesas e brilham pouco.

A estrada nacional n.º 2 foi interrompida exactamente pela aspereza do terreno. Mas a verdade é que, após o que no ano passado disse nesta Câmara, se começou a trabalhar. Seja lícito testemunhar ao Sr. Minis-