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96 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 104

Nos onze concelhos do distrito de Castelo Branco houve nove (Covilhã, Fundão, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença, Sertã, Vila de Rei e Ródão) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos dezassete concelhos do distrito fie Coimbra só num (Pampilhosa da Serra) o número de não assistidos foi superior no dos assistidos.
Nos treze concelhos do distrito de Évora também só num (Alandroal) o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos dezasseis concelhos do distrito de Faro houve três (Albufeira, Alcoutim e Tavira) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos catorze concelhos do distrito da Guarda houve sete (Aguiar da Beira, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Meda. Pinhel e Trancoso) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos dezasseis concelhos do distrito de Leiria só num (Bombarral) o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos catorze concelhos do distrito de Lisboa não houve um único em que o número de não assistidos fosse superior ao dos assistidos.
Neste ponto de vista podemos considerar boas as suas condições.
Nos quinze concelhos do distrito de Portalegre só num (Gavião) o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos dezassete concelhos do Porto também só num (Marco de Canaveses) o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos vinte e um concelhos do distrito de Santarém não houve nenhum em que o número de não assistidos fosse superior ao dos assistidos, tal qual como sucede com o de Lisboa.
Nos treze concelhos do distrito de Setúbal só num (Santiago do Cacem) o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos dez concelhos do distrito de Viana do Castelo houve dois (Arcos de Valdevez e Ponte de Lima) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos catorze concelhos do distrito de Vila Real houve seis (Chaves, Momdim de Basto, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Nos vinte e quatro concelhos do distrito de Viseu houve nove (Castro Daire, Moimenta da Beira, Penalva do Castelo, Penedono, Resende, Sátão, Sernancelhe, Tarouca e Vila Nova de Paiva) em que o número de não assistidos foi superior ao dos assistidos.
Os distritos de Bragança, Castelo Branco e Guarda são particularmente desfavorecidos quanto a assistência clínica.
São também dignos de menção pessimista os distritos de Braga, Vila Real e Viseu.
São, portanto, merecedoras de atenção particular dos Poderes Públicos, quanto a assistência clínica rural, as províncias de Trás-os-Montes e das Beiras.
Quanto às Beiras, a linha da Beira Alta foi criada, para as servir e fazer progredir. Mas este último facto só se poderá verificar quando a linha terminar num porto - o da Figueira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Não me é licito duvidar dos esforços do Governo, mas não posso inibir-me de lamentar a demora das experiências e portanto o atraso do projecto.
Entretanto, os Estaleiros Navais do Mondego continuam a fabricar belos barcos, o Sr. Ministro da Marinha continua a olhar pelo Figueira com carinhosa atenção. Compreendo a fé intransigente do Ministro e dos Estaleiros, porque creio que o porto desafrontaria as Beiras e lhes permitiria um certo desafogo.
Com efeito, uma das causas de não assistência clínica é a pobreza, e esta é apanágio das Beiras.
Nos nossos meios rurais talvez ande por 70 por cento o número de pessoas que só podem ter assistência clínica se esta lhes for facultada gratuitamente.
Mas, ao lado da pobreza, que estranhos casos são os que por vezes presenciamos.
Foi bater a uma clínica cirúrgica de Coimbra um casal já entrado em anos. O marido era portador de hérnia estrangulada, sendo necessária uma operação de urgência. Posto o problema dos honorários, a mulher reflectiu e disse para o homem:
«Olha, isto vai ficar mais caro do que pensávamos. Temos bastantes courelas, mas acho um desperdício vender uma; é um roubo que fazemos aos nossos filhos. Estamos velhos, poucos anos cá andaremos: não achas que será melhor morreres?».
«Pois sim, mulher, eu morro», foi a estóica e espantosa resposta do moribundo.
Na medicina reina uma certa confusão: médicos em excesso e mal distribuídos, dificuldades económicas, a Ordem sem estatuto actualizado, os médicos fora da orientação de grandes sectores sanitários, vários Ministérios tendo nas mãos a medicina individual de muitos e importantes aglomerados - às vezes na mesma localidade o médico municipal, o médico da Casa do Povo, o médico das caixas- e não há um elo quo articule todas estas actividades, que se desencontram por modo que em certas localidades não há sequer um médico.
A confusão que reina actualmente há-de agravar-se, e posso garantir que à medida que o tempo passa mais difícil e complicada se tornará a solução.
Fui médico rural durante mais de quatro anos; conheço as qualidades que deve possuir o médico rural; por lá me encontrei com eles na minha labuta, modesta, sem dúvida, mas de que me orgulho e tenho grandes saudades. O médico rural, mais do que o dos centros urbanos, tem de possuir, além da competência profissional, imposta pelo respeito que deve a si próprio, certas qualidades morais: intrepidez, resistência física, bondade e esclarecido cepticismo quanto às novidades terapêuticas.
Ao aliviar o sofrimento o triunfo de curtos médicos de aldeia reside mais na bondade insinuante e na persuasão firme do que nas drogas ministradas. Com efeito, a doença orgânica não é tudo na prática clínica. As notícias publicadas nos grandes quotidianos, nas revistas de ciência recreativa e até nas ilustrações dão ao público a falsa noção de que os progressos da cirurgia permitem abolir mecanicamente a maioria dos males orgânicos e de que, pelos antibióticos, se descobriu um método maravilhoso e infalível de combate às infecções.
As pessoas mais prudentes, mesmo essas, ficam com a impressão de que é esse o caminho que as coisas levam nas ciências médicas.
Neste clima se ajusta bem a observação de Debray, secretário-geral da Ordem dos Médicos de França: «uma tal concepção afasta os médicos de um conhecimento verdadeiramente humano da sua missão».
Está outra vez a pôr-se de pé a medicina psicossomática, depois de aproveitado o que de útil podem dar-nos a era pasteuriana e a era cirúrgica. A minha experiência de médico rural deu-me a exacta medida do grande número de nevrosados que procuram na medicina o alívio para seus males, mais imaginativos que orgânicos.