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26 DE JANEIRO DE 1056 341

dições privilegiadas como nenhuma outra parece portuguesa as tem.
O seu clima húmido a regularidade e abundância das chuvas e a fertilidade do seu solo permitem, quase sem o auxílio do homem, o desenvolvimento de pastagens naturais. Aqueles tempos remotos a que eu me referi, e viu que tudo parecia ignorar-se fora e ale mesmo dentro daquelas ilhas, desapareceram, felizmente. Hoje o objectivo do Governo é o engrandecimento de Portugal. E Portugal é, para Salazar o conjunto de todas as parcelas da terra portuguesa.
Assim, aquelas ilhas não deixaram também de ser abrangidas pelos enormes e incalculáveis benefícios que foram espalhados por todo o Portugal de aquém e de além-mar. Novas estradas romperam baldios e ligaram aglomerados populacionais; cultiva-se melhor a terra; enviam-se técnicos e estudam-se os seus problemas.
Sr. Presidente: embora eu reconheça, e todos o reconheçam, que o muito que se tem feito naquelas ilhas nos últimos tempos se pode até considerar como uma nova descoberta, não posso deixar de confessar a V. Ex.ª que há ainda muito por fazer.
Referindo-me apenas aos problemas ligados à matéria, que se encontra em apreciação, posso afirmar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, que três das quatro ilhas que constituem o distrito da Horta vivem ainda entregues a si próprias.
Assim, as ilhas do Pico e Flores, como um efectivo bovino de 17 088 e suíno de 8415 cabeças, para falar apenas das espécies mais importantes, encontram-se por completo desprovidas de assistência veterinária, que a existir seria não só o penhor seguro da defesa sanitária desta enorme - riqueza, como ainda da população destas ilhas, pela consequente, inspecção higiossanitária dos produtos de origem animal destinados ao consumo público.
Deixei para último lugar a ilha do Corvo, embora ela ocupe no meu coração o primeiro. Visitei-a apenas uma vez, e isso bastou para que ela ficasse para sempre gravada no meu espírito.
Esta pequena ilha onde, segundo Garrett Mouzinho da Silveira quis ter a sua sepultura -«porque aquela gente se atreveu a ser-lhe grata» -, continua a sor a mesma que ele descreveu na biografia que fez de Mouzinho da Silveira:

Boa gente! Tudo povo e povo baixo: lavradores e pastores, vestidos de buréis que eles próprios tecem das lãs dos seus rebanhos, são um exemplar, ainda precioso, dos usos patriarcais das eras bíblicas. Nunca ali houve guerra civil, nunca ali houve nobreza, nunca ali houve letras.
A ilustração é proporcional à mediania da posição dos homens. Dai ... a felicidade.

É a mais pequena ilha de todas onde autua a bandeira de Portugal. Tem 17,45 km2 de superfície e 691 habitantes (censo de 1950) e uma única freguesia, que é sede do concelho.

Pelo arrolamento de gados de 1950, feito pela Intendência de Pecuária da Ho H a. existiam naquela ilha 4394 cabeças assim distribuídas: 2 cavalar 3 muar, 67 asinina, 769 bovina, 3240 ovina e 308 suína. O gado muar, cavalar e asinino é destinado ao transporte; o suíno à alimentação auto-abastecedora dos seus habitantes: o ovino apenas para o aproveitamento da sua lã, que trabalhada no antigo tear é aplicada depois em cobertores e nas mais variadas peças de vestuário, para o uso exclusivo da sua população.
Finalmente, o bovino, único que consegue transpor as suas costas alcantilhadas. Do gado que fica naquela ilha merece especial referência o ovino. Criado nos
baldios, à surte, dos temporais o ciclones, tão vulgares naquelas paragens, só vê o homem uma vez por ano, no chamado «dia de fio», o qual recai sempre na segunda-feira imediata ao domingo de Pentecostes, salvo quando isto coincide com o dia da chegada do navio, em que então aquele, e adiado.
Nesse dia de grande festa para aquela gente, só velhos e doentes ficam no povoado. A restante população, devidamente instruída o agrupada pelo «juiz do matou, cerca a ilha u, enxotando o gado, obriga-o a concentrar-se.
Depois de o «juiz do mato» pronunciar algumas palavras, cada um dos possíveis proprietários verifica o número de cabeças que a Providência lhe destinou, número este que é função dos temporais e ciclones que assolaram aquela ilha durante os trezentos e sessenta e cinco dias que antecederam o daquela festa. Para isso prendem as ovelhas e marcam as crias que se lhes juntam.
Procedem então à tosquia o colocam a lá em sacos, e à medida que isto vai sendo feito são soltadas as ovelhas tosquiadas, as quais iniciam de novo a sua vida, em combate permanente com o vento e com a chuva, únicos inimigos da. sua liberdade.
Resta-me fazer uma referência ao gado bovino. Esto gado constitui a maior riqueza daquela ilha, se traduzirmos essa riqueza em moeda. É o único que se transforma em dinheiro, ciado que não só consegue transpor aquela ilha, com valor compensador para os seus proprietários, como ainda o único que em vida fornece produtos nestas condições.
Sr. Presidente: quem um dia tenha assistido ao embarque daquele gado nunca mais poderá esquecer o seu espectáculo. O dia da chegada do navio é também dia da grande festa para aquela gente.
São notícias que chegam de parentes ausentes; são presentes vindos da América, de filhos ou irmãos que lá se encontram e que, não se esquecendo da sua terra nem da sua família, enviam os mais variados artigos, desde o sapato, quo pouco uso lhe dão, até ao casaco de peles, que substitui, mesmo nos dias de trabalho, o típico casaco fabricado na ilha com a lã que é tosquiada dias antes da festa em memória da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos.
Todos acorrem à beira-mar, dirigindo-se para o local onde as condições de tempo ofereçam nesse dia maior segurança para o embarque e desembarque de pessoas e mercadorias. Ali todos assistem ao movimento do improvisado porto, o qual muitas vezes se limita à aproximação do navio que, não tendo tido possibilidade de comunicar com a terra, muda de rumo , afastando-se, leva para longe aquilo que há tanto era esperado e desejado.
No dia em que visitei aquela ilha o tempo era excepcionalmente bom, mas apesar disso estou convencido de que seria classificado de muito mau por todos os que não estejam habituados à vida do mar.
Assisti ao embarque do gado bovino destinado ao consumo de carne do continente. Vi então que cada um dos animais que se destinava ao embarque era acompanhado pelo seu dono, que, pouco antes de chegar ao calhau que constitui o cais acostável, lhe cortou a extremidade da cauda, guardando-a no bolso do seu típico casaco de lã, e o afagou, com as lágrimas nos olhos, como que lhe pedindo perdão de o ter abandonado.
Avançando mais uns passos, entrega-o a homens experimentados naquele serviço, os quais, colorando o bovino à beira do tal calhau que serve de cais acostável, e onde se encontra a embarcação que o levará para o navio, aguardam u momento por eles calculado como o