O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5 DE ABRIL DE 1956 673

esmorecem e se estiolam nas repartições; organize-se ou imponha-se colaboração eficiente entre esses serviços e estude-se e realize-se essa obra grandiosa, por tantos preconizada, da qual advirá grande beneficio para a Nação.
É hoje pura lenda dizer-se que as cheias são um grande benefício para a várzea ribatejana, sobretudo as cheias do Outono e da Primavera.
Sobre o assuntos ocorro-me ainda do Prof. Rui Maier, que diz:
Quanto à objecção relativa à acção benéfica das cheias, tem de ser apreciada sem exagero, para se evitar atribuir-lhe um peso que ela não possui. É um facto incontestável que os nateiros exercem sobre as terras um efeito favorável; mas esse efeito é sobretudo para considerar no que se refere à melhoria das condições físicas do solo, que, com a adição das natas à argila grosseira, se torna mais equilibrado e mais fácil de mobilizar. O aumento de fertilidade que se alcança é muito reduzido, e cada vez o será mais, à medida que progredir a arroteia e a arborização das charnecas na parte mais elevada das bacias hidrográficas, modificando as condições do escoamento; e, de resto, a acção dos nateiros no enriquecimento das terras, que outrora era factor apreciável, tem hoje a sua importância muito diminuída, desde que os adubos químicos vieram proporcionar um método simples e económico de substituir aquela acção.

Este é o parecer de um técnico agrícola dos mais distintos, que bem conhece a região e sobre ela tem feito estudos e observações dignos de acatamento.
Não seria justo terminar estas considerações sem exprimir ao Governo da Nação comovido agradecimento, em nome dos trabalhadores rurais da várzea ribatejana, pelo auxílio imediato que lhes dispensou por intermédio os Ministérios das Obras Públicas, do Interior e Subsecretário da Assistência, traduzido em subsídios que, até esta data atingem 676.000$, distribuídos, por intermédio do Sr. Governador Civil de Santarém, pelas câmaras municipais das regiões inundadas, a fim de estas proporcionarem trabalhos públicos de emergência aos trabalhadores rurais.
Bem hajam os Srs. Ministros do Interior, das Obras Públicas e o Sr. Subsecretário de Estado da Assistência pela compreensão e atenção que dispensaram aos trabalhadores rurais do Ribatejo afectados pelas cheias.
Também aqui cabe uma palavra de justo louvor ao chefe e mais funcionários da 3.ª Secção da Direcção Hidráulica do Tejo, em Santarém, pelo árduo e devotado labor que despenderam dia e noite no decurso das inundações e informações que prestaram solicitamente a quantos delas necessitavam. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ricardo Durão: - Sr. Presidente: pedi a palavra para fazer uma ligeira referência às últimas inundações do Ribatejo.
Não sou Deputado pelo círculo, mas como se trata dum assunto de interesse geral e, além disso, sou natural da província julguei justificada a minha intromissão, sem deixar de pedir vénia aos meus colegas de Santarém.
Sempre me pareceu que o bairrismo ou regionalismo transplantado para a Assembleia Nacional não deve tomar um carácter sistemático. Aqui somos todos Deputados da Nação e é nesta acepção geral que temos de actuar. Em todo o caso é sempre simpática a combatividade que alguns colegas nossos revelam ao defender os interesses dos seus eleitores. Batem-se galhardamente pelo seu circulo e fazem-no com uma solidariedade e um espírito de equipa que se impõem à nossa admiração. São convincentes, persuasivos, incansáveis, voluntariosos.
Somos assim compelidos a acompanhá-los no mesmo entusiasmo e no mesmo amor à grei, sob pena de ficarmos para trás nesta competição de prerrogativas que por vezes se entrechocam.
Mas reatando, Sr. Presidente:
Acabam de ser bloqueadas pelas águas as várzeas do Ribatejo, e bloqueadas em plena produção.
Toda a terra é ainda um lameiro; só por idos de Abril se poderá semear, mas nessa altura nem os trigos ribeiros conseguirão florir.
Praticamente, as searas submersas sofreram perda total. A terceira cheia do ano foi de facto calamitosa.
Desta vez o «cavalo branco» - como lhe chama a gente do Ribatejo -, galgando os diques, no seu galopar apocalíptico, derrubando árvores, demolindo arribanas, destruindo sementeiras, rasgou na gleba da lezíria mártir profundos sulcos de miséria e de dor.
Entretanto a vinha salvou-se; mal ou bem, mas salvou-se, embora reduzida a 50 por cento da produção, minorando um pouco a desdita dos sinistrados.
E, com efeito, perante o problema económico o social do Ribatejo que neste momento se levanta, só a vinha poderia garantir, aos homens que a esperam de braços caídos, o trabalho e o produto.
O produto, sim, porque os vinhos do Ribatejo não são piores do que os outros.
De facto, os vinhos lisos, abertos, da várzea de Alenquer, os vinhos densos e pastosos do Cartaxo, os brancos aveludados e capitosos dos campos de Valada, de Alpiarça e de Almeirim e os tintos carregados e brilhantes das veigas da Chamusca são produtos que, bem trabalhados, não receiam confronto.
É certo que a abundância tem levado por vezes ao fabrico em série, e portanto de inferior qualidade; mas a culpa não é da terra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Em toda a parte do Ribatejo se fabricam ou podem fabricar vinhos de pasto de reconhecidas virtudes organolépticas. Batalha Reis classificava-os entre os melhores - sobretudo se era ele a prepará-los.
Não vejo, portanto, razões de qualquer espécie para condenar o plantio da vinha em terras submergíveis; nem pela qualidade do produto, nem pelas vantagens económicas e sociais que oferece em cataclismos como este. É sempre um elemento compensador.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Acabamos realmente de verificar que, se aquelas cepas torcidas e torturadas não sobrevivessem, emergindo da lama com os seus pâmpanos virentes, outro teria sido o balanço da catástrofe. Não bastariam os socorros de emergência das instancias superiores. Mais e muito mais seria necessário para fazer frente ao chômage.
Entre vários telegramas publicados na imprensa chamou-me a atenção o que passo a ler:

Alpiarça, 31 de Março. - As águas da cheia estão decrescendo tão lentamente que pouco se nota a descida. Os campos continuam alagados e na sua maioria submersos. Mulheres em grupos e alguns homens pedem auxílio nas casas dos lavradores. É necessário, sem perda de tempo, acudir à situação. O que se passa na borda-d'água reveste-se de aspectos do verdadeira catástrofe.