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1204 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º l58

os homens se julgavam livres e independentes encontraram-se apenas isolados, à mercê da concorrência, numa luta pela vida, sem lealdade e sem peias; sujeitos pela acção absorvente do Estado; esmagados pelo capital dos meios operários; algemados e empobrecidos nos meios agrícolas, pelo açambarcamento da propriedade, em consequência da sua pulverização.
E não tardou que à sujeição económica se viesse juntar o desprezo -sujeição moral- votado às classes trabalhadoras.
Para melhorar esta situação deprimente todas as nossas reivindicações públicas e iniciativas particulares visam à organização corporativa da sociedade, não ressuscitando as antigas agremiações medievais, como maldosamente insinuam, mas adaptando-as e criando outras de novo, em harmonia com as modernas condições sociais.

É preciso que levemos ao povo sustento, independência e ensino.
Pelo regime corporativo, adaptado às necessidades de cada região e concretizado em institutos de previdência e socorro mútuo, teremos conseguido a melhoria económica das populações rurais. Mas não podemos esquecer que na base deste plano grandioso é necessária uma larga obra de educação popular, ministrando à ascensão económica o desenvolvimento moral correspondente.
Educação dirigida numa orientação particularista, persistente, que faça odiosa a imprevidência, desenvolva o espirito de iniciativa e confiança mútua que tornam viável um regime associativo.

Nos ensinamentos cristãos encontramos uma parte do remédio para o mal social, pregando ao rico e ao forte que a superioridade moral é a de maior valia e que, se o poderio natural é legitimo, deve-se colocar em face do pequeno como providência, e não como carrasco.
Liberdade e independência que não são fecundadas por Deus moram perto da anarquia. Da doutrina social cristã flui a justiça e a moralidade, que é também um factor de economia; e sai a fé e o entusiasmo com que prosseguimos neste ideal, por cuja virtude esperamos triunfar.
Princípios sãos, cuja realização começou em 1933 com a publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e se completará agora com as duas propostas trazidas à Assembleia.

E pouco tempo depois de nos assaltarem o Centro, mas com a protecção e conivência da polícia, um desses rapazes, hoje brilhante parlamentar, podia dizer no Porto, numa sessão que ficou memorável:
Possuímos e defendemos um programa completo de reivindicações e reabilitação social e - o que é mais - estamos dispostos a praticá-lo, sem questionar regime, nem fórmula, nem partido.
E aqueles que declaram inútil o nosso esforço desconhecem que jamais a semente de uma ideia se perdeu; cedo ou tarde virá florir à luz de uma nova Primavera.
A semente floriu e é já hoje árvore frondosa, cujos ramos cobrem todas as actividades económicas.
E precisamente a actividade que o C. A. D. C. mais defendia e preconizava era a fundação dos círculos de estudos, antecedente seguro do Plano de Formação Social e Corporativa, agora em discussão.

Uma ideia, para se impor, precisa de ser vivida. E se o será quando bem conhecida e melhor compreendida Sendo Portugal uma República unitária e corporativa logo depois de em 1033 ter sido publicado o Estatuir do Trabalho Nacional muitas organizações corporativas lançaram as raízes, e são já hoje muitas as Casas dr Povo e dos Pescadores, os grémios, os sindicatos, algumas federações e uniões.
Mas haveria em todas essas organizações o verdadeiro espírito corporativo ?
A ideia, que tantos aplaudiam, não era vivida. E, assim em grande parte desses organismos mais se vegetava dr que vivia.
Havia-se radicado de mais a doutrina liberal; difícil era fazê-la desaparecer e substituir pelo corporativismo.
Conseguir transformar uma sociedade que única e exclusivamente era orientada e dominada pelo interessa individual e fazê-la convencer de que deveria orientar-se pelo princípio, tão cristão, do bem comum era tarefa ser difícil.
E, por isso, depois dos exageros iconoclastas do liberalismo, de que falava, em 1010, o Protesto dos rã pazes católicos de Coimbra, as organizações corporativa: não poderiam ter aquela eficiência que seria de esperar
Com razão dizia um espírito brilhante, hoje numa aba dia beneditina, que em poucos países só radicou tanto o liberalismo como em Portugal.
Conseguir vencê-lo, fazendo surgir uma reacção forte que o domine, será a principal finalidade da propostas em discussão. E certamente o Sr. Ministro das Corporações, com a sua já conhecida tenacidade, o conseguir, quando em execução puser o seu Plano.
Dele poderemos dizer, com o parecer da Câmara Corporativa, citando uma frase de Salazar, que a única critica a fazer-lhe sé ter vindo tão tarde».
Longo e difícil virá a ser o caminho a percorrer, ma. com persistência, em que deverá haver muita bondade e justiça, chegar-se-á ao fim.
Que todas as classes se convençam, de futuro, que organização encarará no mesmo plano os interesses de todos, dando-lhes como garantia o beneficio de iguais * seguras realizações colectivas.
Se as classes trabalhadoras forem orientadas nesse são princípios, se sentirem que dedicadamente, e sacrificadamente mesmo, se porá, acima de tudo, o seu bem comum; se a classe patronal vier a convencer-se de qu com o trabalho é preciso o sacrifício e a bondade - com seguir-se-ão, com segurança, os alicerces fortes e seguro para as corporações virem a ser o mais sólido elemento de engrandecimento da Pátria.
Merece, para tanto, todo o aplauso a proposta do Sr. Ministro das Corporações.
Queira Deus que para a sua realização possam encontrar-se dirigentes que sejam verdadeiros e dedicado apóstolos, levados pelo ideal de realizar o bem comum dando assim vida e alma às futuras corporações.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

A Sr. D. Maria Leonor Correia Botelho: - Sr. Presidente: sempre me tem trazido a esta tribuna o desejo- sincero de dar a minha colaboração, na medida do qu posso e sei, aos assuntos que o Governo oportunamente tem feito baixar a esta Câmara. Hoje é com espécie interesse, com dobrado entusiasmo e com inteira confiança que o faço.
Vejo, Sr. Presidente, pela primeira vez, em diploma que amanhã será lei o serviço social num lugar perfeitamente enquadrado nos seus fins e objectivos. Regozijando-me que assim seja, é sobre este aspecto que