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272 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 180

ou outras circunstâncias internacionais, ao condicionalismo e progresso da nossa indústria, sobretudo daquela que se pode dizer em projecto ou incipiente.
Já não falo agora no reflexo possível do mercado comum ou doutras iniciativas análogas no volume das receitas públicas e portanto de investimentos estatais tornados possíveis com base naquelas receitas.
Enfim, mesmo sem abandonarmos o optimismo necessário perante o que vai pelo Mundo, não podemos deixar de considerar o desenvolvimento industrial do País como um objectivo que, para ser satisfatoriamente atingido, exige de nós os sacrifícios e esforços a que já aludi, mas sacrifícios e esforços que não devem ser feitos à toa, à sorte, indiscriminadamente, antes não podem deixar de ter como ponto de partida estudos e planos, que a política económica nacional, sob a orientação de Salazar, entende -e muito bem- deverem estar na base de toda a acção renovadora e progressiva a empreender.
É essa linha de pensamento que conduziu às tarefas já levadas a efeito, ao Plano de Fomento em curso de execução, à constituição de alguns organismos de planificação, à concessão de bolsas de estudo a técnicos e especialistas em matéria económica, etc.
Mas a tarefa planificadora, a formação de pessoal científico e técnico, os esforços preliminares de vária ordem que se requerem para aquela tarefa e para a sua execução, não atingiram, evidentemente, o grau e amplitude que são indispensáveis para o desejado êxito da grandiosa intenção que preside a este movimento.
O Instituto de Alta Cultura, a Junta de Investigações do Ultramar, a Estação Agronónica Nacional, as Universidades e outros organismos que o parecer da Camará Corporativa cita não tem podido dispor dos recursos suficientes para levar até onde é necessário o seu papel nesta matéria.
O parecer indica as magras possibilidades orçamentais daquelas organizações e entidades. Não pretendo que se devam abandonar quaisquer outras actividades culturais, como as da ciência pura, das letras ou das artes, canalizando as magras verbas na sua pobre totalidade para a investigação aplicada, para a formação de pessoal e para as actividades que incumbem ao organismo em projecto.
Mas, como tem sobejamente salientado o Sr. Engenheiro Araújo Correia no parecer das contas públicas, são em ínfima quantidade as bolsas de estudo para investigadores no estrangeiro em assuntos económicos, técnicos, etc.
Não se diminuam as, também escassas, de outras disciplinas, mas dotem-se as organizações existentes ou a nova com verbas orçamentais bastantes para aumentar o número de bolseiros em assuntos económicos, industriais, etc., segundo as exigências das tarefas nacionais definidas ou em vista, numa criteriosa selecção dessas exigências.
Os países de mais desenvolvidas e especializadas actividades técnicas no Mundo, como os Estados Unidos e a Inglaterra, estão proclamando a todos os ventos a necessidade de formar mais cientistas.
Já aqui em tempos aludi ao facto e citei que, na competição que se estabeleceu na matéria, aqueles países receiam abertamente uma primazia soviética na intensidade desses esforços de formação de pessoal apto para a investigação científica, pura e aplicada.
Alguns números são interessantes. Há dez anos, em 1947, havia em Inglaterra 45 000 pessoas directamente empregadas na investigação e desenvolvimento industriais -10000 das quais mais altamente qualificadas- e a indústria inglesa gastava anualmente na investigação e desenvolvimento referidos cerca de 30 milhões de libras.
Pois achava-se pouco, achava-se necessário mais, e, em revistas científicas, em reuniões de congressos, em conferências, no próprio Parlamento, ecoavam os apelos para uma melhoria, cujo ritmo, aliás, ainda é considerado insuficiente para a grandiosa tarefa. Pessoal, instalações, equipamentos, investimentos, pede-se mais, sempre mais.
Apela-se para os particulares, para as Universidades, para os industriais, para o Estado. Fazem-se comparações estimulantes, especialmente com os Estados Unidos.
Na mesma reunião da British Association - a de 1951 em Shoftield, em que Sir CLaude Gibbs, num discurso presidencial da secção de engenharia, falava de "Dois mil anos do engenharia" e das perspectivas futuras desta- o Duque de Edimburgo, presidente da Associação, ocupava-se, no discurso inaugural de toda o assembleia, da contribuição inglesa para a Ciência e para a Tecnologia nos cem anos anteriores àquela reunião.
Não reproduzo aqui o que ele disse da revolução industrial, da acção desenvolvida, dos benefícios recebidos (como o da passagem da taxa da mortalidade infantil de 150 por mil nado-vivos para 25 por mil actualmente), das inúmeras mudanças operadas nas condições de vida da população, do enorme aumento desta.
E fazendo um balanço impressionante das aquisições e progressos científicos o técnicos, concluía:
O progresso em quase todas as formas da actividade humana depende dos esforços perseverantes dos cientistas. A riqueza e a prosperidade da Nação são governadas pela rápida aplicação da ciência as suas indústrias e comércio.
Os trabalhadores da Nação dependem da Ciência no que respeita à manutenção e aumento nos seus padrões de saúde, habitação e alimento.
Finalmente, a superioridade ou a nossa capacidade de sobrevivência na guerra está na razão directa da excelência e da capacidade do pessoal científico. Este, a equipa de investigadores e engenheiros, tem uma dupla responsabilidade: a da sua obra e a que, como cidadãos esclarecidos, lhe cabe; e o cumprimento das suas funções próprias só pode efectivar-se se os seus membros têm uma sólida educação geral e, ao mesmo tempo, um perfeito treino científico.
Mas não é menos importante que as pessoas que regulam a máquina científica, sejam elas leigos ou cientistas, tenham uma compreensão e juízo do que a Ciência se tem enriquecido de aquisições e do seu lugar entre as grandes forças do Mundo. É evidente dever nosso procurar que a Ciência seja empregada em beneficio da humanidade. Se o homem não sobrevivesse, de que serviria ela então?
Mas nos Estados Unidos os apelos à Ciência e aos cientistas não eram menos fervorosos, apesar dos seus maiores recursos em material, em verbas, em pessoal.
Precisamos de mais cientistas, estão saturadas as disponibilidades nos melhores, precisamos deles para nós e para outros países - são os clamores gerais no grande país.
E, como disse, afirma-se que os quantitativos de cientistas e técnicos são ainda ali consideráveis, mas, se o ritmo da sua formação se não acelerar, correr-se-á o risco de uma ultrapassagem pelos sovietes.
Ora os Estados Unidos gastam biliões de dólares com a investigação pura e aplicada, dispõem de milhares de cientistas nessas actividades.
A defesa nacional absorve hoje ali uma proporção enorme dessas verbas e desse pessoal, como pode ver-se no recente relatório sobre a organização do governo federal para as actividades científicas.
O excelente parecer da Câmara Corporativa sobre a proposta que estamos discutindo faz referência cabida à pequenez das verbas orçamentais atribuídas u investigação pura e aplicada no nosso país.