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280 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 181

É evidente que a evolução do mundo moderno, e mais particularmente da sua economia, se está verificando a um ritmo tal que, para enfrentar os problemas actuais, se torna indispensável da parte dos dirigentes das empresas possuírem em alto grau qualidades de previsão, verdadeira presciência do sentido em que a evolução económica e social deve ser encaminhada.
Na hora presente todos os países de alta civilização se encontram votados a um esforço evidente, e mesmo, em certos casos, gigantesco, para conseguirem multiplicar o número dos seus técnicos, dos engenheiros de investigação e dos que, nas várias especialidades, directamente se ocupam da produção.
Sem esse aumento considerável do número dos técnicos não se julga possível manter um ritmo elevado e regular do desenvolvimento económico e do progresso social. Não nos basta já, como há algumas décadas, para obter progressos rápidos na produção, conseguir de cada unidade humana de trabalho um aumento quantitativo da sua produção individual; todos os esforços da ciência económica incidem principalmente agora sobre a qualidade do trabalho, sobre o nível da produtividade, tanto geral como individual.
Verifica-se que em todas as empresas a percentagem dos quadros técnicos tende a subir continuadamente em relação ao número total do pessoal empregado, e, por isso mesmo, todas as nações que aspiram a desenvolver a sua economia e, consequentemente, a progredir socialmente têm absoluta necessidade de ampliar o sector do ensino técnico e o da pesquisa científica.
Esta noção generalizada da importância da preparação de técnicos em toda a hierarquia do trabalho, preparação que deve iniciar-se pela formação escolar, vimo-la nos últimos tempos adoptada também no nosso país, onde, principalmente sob o influxo do actual Ministro da Educação Nacional, Prof. Eng. Francisco de Paula Leite Pinto, bastante se tem feito já pelo ensino técnico. A verdade, reconhecida geralmente nos países de nível elevado, é que a indústria cada dia carece mais que seja posto à sua disposição um número sempre maior de novos engenheiros, auxiliares e operários de formação técnica tão adiantada quanto possível.
Se do aspecto, digamos, do ensino passarmos ao âmbito geral dos vários elementos da economia, verificamos que entre os factores essenciais que influem na produtividade poucos são tão importantes como as medidas tendentes a tornar os meios de formação profissional de que disponha um país ajustados às necessidades das suas indústrias basilares, presentes e futuras. Referimo-nos, neste caso, aos meios de formação de pessoal de todas as categorias, desde os altos cargos directivos às funções subalternas. Evidentemente, é mais necessária a formação de pessoal de direcção e científico, engenheiros e técnicos, para a obtenção dos quais a indústria depende mais de instituições do exterior.
Em muitos países a preparação sistemática para o desempenho de altos postos directivos é relativamente recente, apesar da sua importância. A experiência tem demonstrado, como era de esperar, que não é provável que tenham êxito os esforços tendentes a elevar a produtividade despendidos por operários e empregados se não puderem contar com a compreensão, estímulo e apoio da alta direcção. É importante que esta conheça a fundo e compreenda, não apenas os melhores métodos para organizar a produção, mas também as repercussões exercidas por tais métodos sobre os técnicos e operários nos seus postos de trabalho.
Parece estar demonstrado que o conhecimento, habilidade e entusiasmo característico dos corpos directivos das empresas dos Estados Unidos são factores importantes que contribuíram para o elevado nível de produtividade daquele país. Apesar de estas qualidades dos elementos directivos se deverem em parte ao meio e forma de vida daquela nação, parece que se devem também imputar à importância atribuída nos Estados Unidos u formação de pessoal directivo.
Tanto nas Universidades e escolas técnicas como no meio da própria indústria se equacionam os problemas relacionados com o dito pessoal de direcção. Enquanto em muitos países os estudantes que terminam os seus cursos se dedicam, em grande parte, a profissões liberais, verifica-se nos Estados Unidos, mais do que em outras nações, uma crescente tendência para empregar os universitários na indústria. Parece indubitável que este método tem prestado valiosos serviços à indústria nos Estados Unidos e que é um exemplo a seguir.
Porquê encaminhar tantos jovens para os estudos e carreiras técnicas, perguntar-se-á?
Não é difícil explicar. Esta evolução resulta de uma série de fenómenos, alguns de ordem económica, cujas consequências alteram literalmente as condições de existência de toda a indústria. São, para não citar senão alguns: o crescimento demográfico, o aumento das necessidades, a mecanização do trabalho e o aumento de produtividade, a limitação do tempo de trabalho, a intensificação da técnica de produção, a aparição de uma série de países subdesenvolvidos no mercado das necessidades mundiais, etc.
Tudo isto constitui um ciclo que não pode evolucionar harmoniosamente senão pela intervenção de homens possuidores de preparação técnica, cada vez mais adiantada e capazes de dominarem e dirigirem esta transformação rápida do processo industrial.
Há meses que a imprensa americana reclama o aperfeiçoamento do ensino secundário e a reforma dos programas, condições indispensáveis para o número crescente de engenheiros e técnicos exigidos pela expansão industrial. Em Novembro de 1955, o almirante Strauss, presidente da Comissão de Energia Atómica, alertou a opinião pública afirmando que a Rússia produz anualmente mais engenheiros e técnicos que os Estados Unidos. Esta penúria de técnicos e engenheiros neste país é de tal forma premente que existem aí agências especializadas que têm por missão descobrir, com todas as garantias de discrição necessárias, bons técnicos ao serviço duma sociedade para os fazerem contratar por outra, em condições mais vantajosas.
Há já algum tempo, também, que poderosas sociedades americanas enviam regularmente comissões à Europa para aí recrutarem elementos, senhores de uma formação e experiência técnicas suficientes e desejosos de emigrar. Recentemente, podia ler-se no jornal Le Monde, em primeira página, um grande anúncio convidando engenheiros franceses a oferecerem os seus serviços aos delegados duma importante empresa americana que, para esse fim, estavam instalados num dos mais luxuosos hotéis de Paris.
M. Lemaire, Secretário de Estado francês da Indústria e Comércio, declarava há pouco a um jornal parisiense: «Um obstáculo se apresenta hoje perante nós: a falta de pessoal científico e técnico. O caso é tão importante que tenho de lançar um grito de alarme em nome da indústria francesa. O nosso futuro está em perigo se investigadores, engenheiros e técnicos nos vierem a faltar. Quero esperar que os esforços empreendidos especialmente pelo Ministério da Educação Nacional e pelo Conselho Superior de Pesquisas Científicas possam remediar a tempo a situação».
Na Alemanha os engenheiros e técnicos são alvo de incessantes solicitações, tanto da parte dos industriais da República Federal como das autoridades da zona