8 DE MARÇO DE 1957 320-(99)
mais), outras obras de interesse, como nitreiras, silos, armazéns, casas de habitação e o que for preciso para tornar a região salubre e habitável por europeus e indígenas.
A barragem, já em funcionamento, serve de ponte ao caminho de ferro do Limpopo, que liga Lourenço Marques com a fronteira da Rodésia.
A obra do Limpopo foi concebida em 1925 e sofreu modificações no inicio da construção, de modo a adapta--la a novas condições que resultaram de terem sido desviados do Limpopo, em território estrangeiro, caudais destinados a rega e a outros fins.
O vale do Limpopo
20. O vale do Limpopo, na província de Moçambique, é conhecido de longa data pela grande fertilidade dos seus ricos solos aluvionares. Ocupa uma vasta área desde a foz, bem superior a 100 000 ha. As observações feitas num posto de culturas regadas, criado em 1936, mostraram, porém, que a irregularidade, a escassez e a evaporação das chuvas prejudicam em alto grau a produtividade do vale, reduzindo-a a ponto de mais de metade dos anos observados se poderem considerar famintos, cerca de um quarto lerem colheitas escassas o só num quinto as colheitas se poderem considerar boas. O vale necessita, pois, de água para poder produzir o máximo das suas possibilidades.
Aliás, as condições do Limpopo repetem-se em outros vales de rios, extremamente férteis nalguns casos, mas sujeitos aos caprichos de climas erráticos ou que necessitam de ser suplementados pelo esforço do homem - e já o ano passado, no apêndice ao parecer das contas, se descreveram as condições do vale do Cuanza, em Angola.
O primeiro ponto a esclarecer no Limpopo era e é o das possibilidades de água disponível para rega.
O rio é torrencial. Em certos anos, como aconteceu ainda recentemente, as cheias alagaram quase todo o vale. Atingem caudais enormes. Por outro lado, durante períodos seguidos, os caudais são diminutos.
Em 1924 foram medidos os caudais do estiagem, que somaram médias, em Setembro e Outubro, da ordem dos 27 m3 por segundo. No começo da actual obra esses caudais reduziram-se a 2 m3. Durante o intervalo os territórios vizinhos haviam utilizado em pequenas barragens escoamentos que antigamente alimentavam o rio. De modo que a obra de 1953 já não tinha as condições propícias da de 1925. Na verdade, apenas 19 por cento da bacia hidrográfica do rio estilo situados em território nacional e dos 1300 km do seu desenvolvimento até ao mar apenas 450 km suo portugueses.
Assim, o problema do vale do Limpopo, à parte o aproveitamento da parcela que agora está era vias de execução, terá de ser totalmente revisto, no sentido de o apreciar num plano de conjunto que considere n possibilidade de reduzir o impacto das cheias, de aumentar na medida do possível as disponibilidades de água na estiagem e, finalmente, de adaptar o que não puder ser regado a culturas de sequeiro. Estes problemas são de futuro, o que não quer dizer que imediatamente se não iniciem estudos no sentido de procurar o melhor meio de aproveitar uma zona rica, atravessada por um caminho de ferro internacional (Lourenço Marques-Rodésia) e situada relativamente perlo de um dos maiores portos da costa oriental.
Soluções
21. Diversas soluções aparecem para o futuro que conviria examinar. Fina delas é a do rio dos Elefantes. Estudos preliminares parecem demonstrar a possibilidade da construção de uma pequena barragem, de pouco mais de 20 m acima do leito do rio, que poderia armazenar quantidades de água superiores a 500 milhões de metros cúbicos. E se fosse possível chegar a acordo com o país vizinho (a África do Sul) no sentido de ser elevado o nível da barragem de retenção para 30 m, a capacidade do reservatório em território nacional aumentaria considerável m ente - para cifras superiores a 900 milhões de metros cúbicos de água. Parece que o país vizinho teria também vantagem na obra. por necessitar de água para abastecimento do Kruger Park, que fica situado na zona do rio dos Elefantes, e não ter qualquer interesse económico a pequena zona do vale inundada.
A hipótese deste aproveitamento leria ainda a vantagem da produção de energia, com características de segurança, dadas as possibilidades reais oferecidas pelo grande armazenamento. As perspectivas de produção energética estimam-se em 220 000 000 kWh, a uma distância de 226 km de Lourenço Marques.
Em linhas gerais, são estes os elementos à vista que definem, por agora, as condições económicas do aproveitamento do vale do Limpopo: utilização das possibilidades aquíferas da sua bacia hidrográfica e das do rio dos Elefantes, estudo de métodos de cultura do sequeiro, também com vista à criação de gados, o cuidadoso exame das disponibilidades energéticas, num esquema de fins múltiplos, oferecidas pelo rio dos Elefantes, que incluiria rega, energia e domínio de cheias, possivelmente em acordo com o país vizinho.
É este conjunto de obras, coordenado, que precisa de ser visto em pormenor e analisado, tendo em conta, os grandes recursos económicos que pareço conter o valo.
A obra da produção de energia, parece não atingir os 250 000 contos e o custo da linha de transmissão para Lourenço Marques seria da ordem dos 70 000 contos.
A rega e o povoamento
22. Procura-se adaptar a regadio, actualmente, cerca de 30 000 ha e povoar a região com colonos do origem europeia e africana. Construíram-se aldeias, duas das quais, a da Barragem e a de Guijá, já tom núcleos europeus.
As aldeias contêm moradias para funcionários e colonos, estabelecimentos e outros edifício. O caminho de ferro do Limpopo, que atravessa a região, instalou também moradias para os seus empregados. Diversos particulares, atraídos pela actividade local, iniciaram também algumas obras de interesse.
O posto de culturas regadas, proficientemente orientado, ensaiou nos últimos anos uma sério de culturas de interesse, de entre as quais merece referência especial a de algodão de fibra longa, que, cultivado desde 1952, registou já produções da ordem dos 2000 kg por hectare, com médias de 1000 kg. Do mesmo modo, as experiências de trigo acusam médias de 1400 kg.
Parece que, no aspecto de possibilidades económicas, os terrenos que vão ser sujeitos a regadio permitem augurar boas colheitas, pelo menos as suficientes para assegurar uma exploração razoável, além de que a proximidade do caminho de ferro e de núcleos populacionais, como Lourenço Marques e talvez ato a Rodésia, do Sul, hão-de assegurar a produção de hortaliças n frutos, de rendimento unitário maior.
Uma visita ao local, ainda que rápida, permite avaliar da grandeza do empreendimento e da actividade que ali reina.
23. Obras desta natureza não asseguram, em geral, rendimento imediato. A adaptação do colono leva tempo, a preparação dos terrenos nem sempre é feita