8 DE MARÇO DE 1957 320 103
da empresa do Limpopo já construído - o da margem direita - descarrega para a lagoa de Fucua, que, no dizer de peritos, pode servir de base a futuros esquemas no vale do Limpopo, se houver água na estiagem.
Também se aludiu acima ao rio dos Elefantes, com largas disponibilidades aquíferas. Os escoamentos estirais do Limpopo no local das obras são pequenos o parecem provir quase inteiramente deste afluente.
Foram estudadas as possibilidades do rio dos Elefantes, que desagua no Limpopo, a cerca de 50 km acima da ponte barragem já construída. Um anteprojecto prevê o aproveitamento hidroeléctrico daquele rio em Massingire.
Julga-se que, com o custo da ordem dos 250 000 contos, seria possível produzir 220x 10º de unidades de energia.
O transporte desta energia para Lourenço Marques importaria em cerca de 70 000 contos (a distância é um pouco superior a 220 km e o custo por quilómetro de 300 contos).
Se estes números estão certos, e parece que o estão no momento actual, Lourenço Marques tem à vista, no futuro, uma fonte de energia abundante e de interesse e a preço relativamente baixo.
Acresce que o armazenamento de cerca de 6OO milhões de metros cúbicos de água destinados a assegurar a energia na época seca asseguraria condições excelentes para rega de uma parle importante do vale do Limpopo, a jusante e a montante da obra agora realizada.
O vale continua para montante da actual obra numa distância de 50 km com a largura média de cerca do 3 km de boas terras. Haverá, assim, a possibilidade do implantar rega em mais 15 000 ha, logo a seguir à confluência do rio dos Elefantes com o Limpopo.
Para jusante estende-se o vale, numa larga área. computada em 100 000 ha ou mais, que vem até à foz, e passa por Xai-Xai (Vila João Belo).
34. Três objectivos se poderiam atingir com a construção da barragem de Massingire, no rio dos Elefantes: atenuar as pontas das cheias do Limpopo, que em certos anos são catastróficas; produzir mais de 200 milhões de unidades de energia em circunstâncias económicas razoáveis, com fito ao abastecimento de Lourenço Marques e zonas vizinhas, e melhorar as condições da actual obra do Limpopo alargando-a e consolidando-a. Para esse efeito seriam aproveitados os escoamentos da central de Massingire, através do leito do rio, se possível, os quais, desviados na obra já executada e conduzidos pelo canal da margem direita para a lagoa de Fucua, poderiam aumentar apreciavelmente a rega no baixo Limpopo.
Estes elementos foram recolhidos pelo relator das contas na visita que fez, embora rápida, ao vale do Limpopo, e por ele cerzidos, e são baseados em estudos já efectuados no rio dos Elefantes.
Demonstram uma vez mais que num rio é essencial o estudo das suas possibilidades em conjunto, e neste caso o domínio de cheias, a roga e a energia podem ter grande influência. O uso das lagoas e da albufeira para criação de peixe é também uma possibilidade que convém não descurar.
Se for possível, por acordo com o país vizinho, elevar a barragem de Massingire para -10 m, o que parece não aumentar grandemente o seu custo, que para 26 m se orçou em pouco mais de 50 000 contos, as possibilidades energéticas seriam muito maiores, por se ter aumentado a altura da queda e se poder contar com o armazenamento de 900 milhões de metros cúbicos de água, em vez de 6OO milhões, que é o calculado para a altura da barragem de 26 m.
se o estudo coordenado deste esquema com os objectivos mencionados e que se repetem: energia para a zona de Lourenço Marques, água para a rega dos terrenos a jusante e a montante da actual barragem ponte, domínio das cheias do Limpopo, no que for possível, e, acessoriamente, utilização das diversas lagoas e reservatórios para piscicultura.
Parece já haver elementos necessários para um estudo definitivo que deve ter em consideração as necessidades energéticas da capital da província e as condições inerentes a climas em que a evaporação é alta e baixos os escoamentos. Se se confirmarem os números acima indicados, ficará muito simplificado o problema de Lourenço Marques e a obra do Limpopo, onde já se despenderam elevados capitais, será consideravelmente realçada no seu aspecto económico e até de povoamento.
Zona de Tete
35. O actual distrito de Tete, na fronteira da província de Moçambique, é limitado pelos territórios da Federação das Rodésias e Niassalândia. As circunstâncias da política deram-lhe uma configuração heterogénea. As comunicações mais rápidas entre a Niassalândia, a leste, e a Rodésia, a oeste, já hoje são feitas através deste distrito, pela estrada de Zobué-Tete-Changara. fronteira da Rodésia.
A estranha e ilógica configuração do distrito de Tete, derivada do profundo enclave da Niassalândia na direcção do mar no vale do Chire não impede, porém, que um dos maiores rios da África tenha nele um grande e, como se verá adiante, frutuoso desenvolvimento.
O rio Zambeze
36. O Zambeze entra em Moçambique no Zumbo, na confluência de um dos seus maiores afluentes, o Luangwva; desce quase uniformemente até Chicoa e passa junto de Tete. Depois de receber em território português, na sua margem esquerda, o Chire, que drena as águas do lago Niassa, divide-se em braços, que formam uma espécie de delta na época das cheias, para se lançar no Indico, na região do Chinde depois de ter percorrido cerca de 870 km em terra portuguesa. Ë um rio portentoso. As suas cheias são proverbiais e apavorantes. Por biliões de anos arrastou para a larga zona do litoral as terras da África Central, desde Angola, onde nasce, e das Rodésias, Niassalândia e Tanganhica, que atravessa, até à província de Moçambique, onde morre.
Este enorme rio, com a extensão total da ordem dos milhares de quilómetros, tão cheio e variado de características, ora despenhando-se em cataratas, como na Victoria Falls, em Livingstone, ora espraiando-se em vastas planícies, como em Moçambique, pode representar um papel decisivo na economia da África Oriental.
Enquanto o Nilo é a base em que se apoia a economia do Nordeste da África - uma economia agrícola que assenta nas suas águas e nas terras que transportou durante milénios -, o Zambeze pode ser pedra fundamental na estrutura agrícola e industrial de grande parte dos territórios do Sul da África Central e de uma parcela importante do Leste africano.
Os problemas que ressumam do gradual conhecimento das possibilidades económicas do Zambeze dão-lhe um carácter de grandeza quase incomparável na estrutura actual das relações económicas da África com a Europa. A sua influência num futuro que parece não estar a grande distância poderá transformar profundamente as ideias actuais sobre a exploração de vastos territórios e contribuir eficazmente para o vigor dos povos de origem europeia que, nos últimos tempos, assinalaram a sua presença em África por desenvolvi-