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8 DE MARÇO DE 1957 320-(105)

O Zambeze, que é hoje um rio turbulento e tumultuoso e provoca assoreamentos e destruições enormes em tempo de cheias, poderá ser no futuro um rio pacífico, com cheias facilmente domadas. Seria então um instrumento económico altamente produtivo.

Utilizações económicas à vista

Energia

39. Parece não haver dúvidas, depois do que acaba de se escrever, que uma central na garganta de Cahora Bassa, aproveitando o desnível superior a 100 m, pode, de uma assentada, produzir energia em quantidades muito superiores às que se obterão em Kariba, a inaugurar dentro de alguns anos. Uma estimativa preliminar de técnicos de renome fixa a produção possível em Cahora Bassa numa cifra superior a 20 000 milhões (20 biliões) de kilowatts-hora, a preços nitidamente inferiores aos estimados para Kariba, que se avaliam em menos de $10 por unidade. E, na verdade, assim parece, visto Cahora Bassa aproveitar o enorme caudal regularizado em Kariba. Além desta energia, outra se poderia obter nas centrais em cascata até à ponte de Mutarara, que elevariam ainda o potencial obtido do rio para cifras superiores a 30 biliões (30 000 milhões) de unidades.

Domínio de cheias

40. Até Cahora Bassa ficam dominadas as precipitações de cerca de 900 000 km2, com dois reservatórios susceptíveis de armazenar bem mais de 200 000 milhões de metros cúbicos de água. A bacia hidrográfica do rio a jusante é inferior a 300 000 km2. As cheias do Zambeze dependerão no futuro apenas das precipitações nesta área, que, aliás, ainda ficariam parcialmente reguladas pelo lago Niassa no esquema do aproveitamento do Chire, a que se alude noutro lugar.
Assim, parece que o problema das cheias do Zambeze perderia muito da sua acuidade. Seria um problema quase resolvido.

Rega e povoamento

41. O Zambeze, construídas as duas albufeiras, passará a ter o caudal mínimo da ordem dos 2200 m3 a 2000 m3 por segundo.
No seu curso, a cotas abaixo de 100 m, a jusante e até a montante do Chire, há larguíssimas planícies, constituídas por terrenos aluvionares, inundadas agora periodicamente. São terras insuficientemente estudadas nos seus aspectos agrícolas. Mas tudo indica serem próprias para exploração agrícola intensiva do tipo industrial. Por outro lado, a zona alta do distrito de Tete é susceptível de colonização europeia. Já vivem alguns núcleos na Angónia e são conhecidos pela benignidade do seu clima as zonas de Fingoé, Vasco da Gama e outras.
Todos estes factores de clima e de terras na zona alta e aluviões susceptíveis de serem drenados na parte baixa devem ser estudados cuidadosamente, com o objectivo de exploração económica e colonização. E, se estão certos os elementos fornecidos amavelmente ao relator das contas, e tudo indica que o estão, parece haver futuro, tanto para possibilidades de povoamento na zona alta do distrito, dentro do raio de acção das disponibilidades energéticas do rio, como na zona baixa o vale do Zambeze, em matéria de produções agrícolas. O primeiro passo a dar será, pois, o do estudo sistemático e pormenorizado de todos os factores que possam influir no esclarecimento de um dos maiores problemas de Moçambique.

Navegação

42. Esta leve resenha das possibilidades do Zambeze, que atravessa o distrito de Tete e vem desaguar no de Quelimane, não ficaria completa sem uma rápida alusão às suas possibilidades de navegação. O problema da navegação do Zambeze nalguns dos seus troços interessou vivamente no passado e já foi alvo de estudos de diversa natureza.
Mas as suas cheias, os assoreamentos provocados periodicamente pela enorme quantidade de detritos arrastados pela corrente e depositados na zona baixa e outras circunstâncias têm-no dificultado.
A formação do lago de Kariba, com uma área da ordem dos 4000 ha e capacidade que ultrapassa os 120 biliões de metros cúbicos de água, e as probabilidades, ou, antes, já hoje certezas, da viabilidade económica da construção de uma central em Cahora Bassa, com a consequente formação de um vasto reservatório de capacidade idêntica à de Kariba, asseguram ao rio duas condições fundamentais para a navegação: a primeira reside num caudal mínimo, constante e contínuo, até na época da estiagem, superior a 2000 m3 por segundo, sem contar com os escoamentos do troço a jusante de Tete, e a segunda, não menos importante, é a da retenção do material carreado nas albufeiras de Kariba e possivelmente na que será construída, no futuro, no seu afluente Kafué, na albufeira de Canora Bassa, e nas que talvez venham a ser formadas a jusante, para aproveitamento dos desníveis compreendidos entre Tete e a ponte de Maturara.
Assim, aparece como probabilidade, num futuro mais ou menos longínquo, a navegação no Zambeze.
O desenvolvimento da África Central, das regiões agora compreendidas na Federação das Rodésias e Niassalândia, que só tem como saídas a Beira e Lou-renço Marques e um pouco o Lobito, a distâncias bastante grandes, há-de naturalmente concorrer para uma concepção que compreenda o uso do Zambeze como instrumento de transporte. Ë conveniente não esquecer esta possibilidade futura em quaisquer planos ou estudos a fazer no Zambeze, que deve ser considerado como um rio onde pode ser aplicada, com imenso êxito, a teoria altamente frutuosa do aproveitamento para fins múltiplos.
Estes fins seriam, no caso presente, a energia, o domínio das cheias, a rega e a navegação, sem contar com as possibilidades de povoamento nas zonas altas.

Possibilidades mineiras

43. A região de Tete e conhecida de há longos anos como susceptível de conter minérios em condições de exploração económica.
Realizam-se presentemente pesquisas e reconhecimentos de certo vulto e já há resultados satisfatórios em alguns deles, mas não é possível dar, por enquanto, elementos que exprimam certezas da existência em largas quantidades de alguns minérios que possam ser explorados económica e intensivamente.
Os inconvenientes que aparecem à primeira vista no estudo geral da posição mineira do distrito de Tete, apesar dos reconhecimentos efectuados, filiam-se nas dificuldades de comunicações e nas grandes distâncias do litoral.
O caminho de ferro de Tete procurou atenuar esses inconvenientes e já hoje drena uma grande parte dos carvões de Moatize. Mas a inacessibilidade de outros depósitos, de possível grandeza para assegurar exploração remuneradora, impede, por enquanto e em definitivo, que se exponham opiniões optimistas.
Parece que existem reservas importantes de minérios de ferro titanífero, cobre e urânio.