320-(104) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 184
mentos e progressos materiais em escala cada Tez mais intensa.
A área total da bacia do Zambeze atinge cerca de l 200 000 km2 e fica situada em Angola, nas Rodésias do Norte e do Sul, na Niassalândia e em Moçambique, além de uma pequena extensão na Tanganica. Drena, pois, para o Indico as águas de uma parcela importante do Sul da África Central. A extensão da sua bacia hidrográfica em território português é de cerca de 140 000 km2 em cada uma das províncias de Angola e Moçambique, no total aproximado da ordem dos 280 000 km2. Quer dizer, a bacia hidrográfica do Zambeze em território nacional africano é superior a três vezes a área de Portugal metropolitano.
Com tão larga bacia hidrográfica, ligeiramente inferior a 1 200 000 km2, o rio recebe águas de regiões montanhosas s de planícies e tem afluentes de grande interesse, como o Kafué, o Chire, em território português, que drena o lago Niassa, o Luangwva e outros.
A Federação das Rodésios e da Niassalândia promoveu o seu aproveitamento hidroeléctrico em larga escala na garganta de Kariba e está construindo, no presente momento, um dos mau produtivos empreendimentos hidroeléctricos conhecidos. A barragem de Kariba terá a altura de 120 m e permitirá a formação de um lago com a capacidade astronómica de 123 000 milhões (123 biliões) de metros cúbicos de água. A produção garantida de energia eléctrica nas duas centrais subterrâneas agora em construção será da ordem dos 6000 milhões de unidades de energia, uma das maiores, se não a maior, do Mundo.
37. Deram-se estes sucintos pormenores sobre o Zambeze e seu aproveitamento em Kariba para fazer sobressair a importância das suas possibilidades hidroeléctricas em território português a jusante daquele empreendimento.
Com efeito, a enorme capacidade da barragem de Kariba permite uma regularização específica elevada. Parece que pode regularizar integralmente os caudais do Zambeze até ao local onde está situada.
O rio entra em território português no Zumbo, na confluência com o Luangwva, que é o seu terceiro afluente em importância, e corre suavemente até à vila de Chicoa, situada a pouco mais de 200 km da fronteira. A seguir a Chicoa o rio cai quase abruptamente. Enquanto do Zumbo até Chicoa a queda é um pouco superior a 70 m, nos 90 km a 95 km seguintes o rio desce 95 m, quase i razão de cerca de 1 m por quilómetro. Do Taulo Novo até à foz o rio continua a descer, mais suavemente, porém. Mas o desnível deste ponto até ao Chinde ainda é da ordem dos 100 m ou 160 m, sendo mais pronunciado na zona alta, depois de Tete, onde existe a garganta de Lupata, até provavelmente à confluência com o Chire.
Os números para as distâncias e desníveis são aproximados, mas suficientes para o fim em vista nesta leve anotação das possibilidades do distrito de Tete.
Cahora Bassa
38. Logo a seguir a Chicoa está a garganta de Cahora Bassa, que, na linguagem gentílica, parece significar «acabou o trabalho». É que a velocidade da corrente impedia e impede a navegação, e os indígenas, chegados à parte mais baixa da garganta, cessavam de remar. Não era possível conduzir o barco mais além; acabara o trabalho - cahora bassa.
Se for construída uma barragem no começo da garganta, de altura certamente inferior a 100 m, ou até da ordem dos 90 m ou menos, formar-se-á um lago de extensão horizontal bem superior a 200 km.
Há já alguns levantamentos fotogramétricos de certas nonas da região, mas não é ainda possível dar números definitivos para a capacidade de tão vasta albufeira.
Contudo, podem medir-se, em primeira aproximação, nas cartas que existem; e estimativas aproximadas dão a possibilidade de armazenar numa albufeira entre Chicoa, ou, antes, entre a barragem no Zambeze, a jusante desta povoação, e o Zumbo, na fronteira, cerca de 110 000 milhões (110 biliões) de metros cúbicos de água. Seria mais um vasto lago na África, perto da zona dos Grandes Lagos, idêntico ao de Kariba, a montante, que, como se notou acima, tem a capacidade de 123 000 milhões de metros cúbicos. Construída esta obra, o rio Zambeze teria a regularizá-lo duas enormes albufeiras. A primeira, em Kariba, na Rodésia do Sul, está em realização. Procede-se activamente à construção da barragem. A sua capacidade, repete-se, é da ordem dos 123 000 milhões de metros cúbicos de água e produzirá cerca de 6000 milhões de kilowatts-hora, mais de três vezes o consumo de Portugal metropolitano; a segunda, em Chicoa, em território português, teria capacidade superior a 100 000 milhões (100 biliões) de metros cúbicos de água, muito próxima da de Kariba.
As vantagens oferecidas pela albufeira de Cahora Bassa, ou Chicoa, em Moçambique, considerando a regularização do rio a montante, efectuada pela albufeira de Kariba, ultrapassam todas as expectativas.
O relator das contas examinou, num reconhecimento aéreo, o rio Zambeze e voou sobre a garganta de Cahora Bassa, a montante de Tete. O espectáculo do enorme rio a cair em cachões depois de Chicoa, entre margens quase a pique, de rochedos pontiagudos formados de enormes massas, é dos que se conservam permanentemente na memória dos homens. O rio corre no fundo de um estreito vale de ribas altas e rochosas, quase abruptas em certos sítios, desfazendo-se em espuma na solidão de vasta zona pouco habitada. Desce, numa extensão horizontal de menos de 100 km, perto de 100 m, mas a parte de montante parece ser a de declive mais acentuado.
Da fronteira até à foz do rio, em Chinde, são 870 km, com a queda total de 323 m.
Mas nem todo este desnível se pode aproveitar, porque o rio, abaixo da foz do Chire, que vem do lago Niassa, desce lentamente. Se fosse possível o aproveitamento de toda a energia do Zambeze desde a fronteira até à foz, obter-se-ia a cifra enorme de cerca de 50 000 milhões de kilowatts-hora, tendo em conta as regularizações de Kariba e Cahora Bassa, que dominariam totalmente as cheias do rio, retendo as suas águas, e permitiriam o módulo regularizado de cerca de 2300 m3 por segundo, conforme elementos recentemente calculados por especialistas idóneos, a quem se devem algumas das mais valiosas informações contidas neste estudo.
Não é possível com os elementos conhecidos até agora calcular a parcela de energia susceptível de ser recuperada economicamente dos 50 biliões potenciais acima mencionados; mas tudo indica que, dada a sua concentração nas gargantas de Cahora Bassa e, mais a jusante, na de Lupata, a energia produtível atinge cifras que ultrapassam as duas ou mesmo as três dezenas de biliões de unidades.
Dado que Kariba e Cahora Bassa regularizam o rio a montante desta última, ou mais de 900 000 km2 da sua bacia hidrográfica - avaliada, como se indicou, em l 200 000 km2 -, e que se obtém um módulo da ordem dos 2300 m3 por segundo, o Zambeze, a jusante da primeira grande central em Cahora Bassa, pode ser aproveitado em centrais a fio de água, construídas na medida das necessidades dos consumos, sem precisão de volumosas capacidades.