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524 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 196

paço, quer encarando-o como alfobre de potencialidade populacional.

Racionar, como é corrente ainda às vezes, sobre os 92 000 km 2 de território metropolitano, afirmar a pequenez duma nação que é grande, será, desde logo, inferiorizando-nos sem qualquer razão perante o Mundo; para além, portanto, do erro do sistema há qualquer coisa de incompreensível, no teimar numa pequenez que se não tem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - As distâncias, a necessidade de ligações, as dificuldades de meios de trabalho, os problemas da saúde, da higiene, do conforto, não chegam, de facto, para defender tão ultrapassado critério numa altura em que se vai daqui a Luanda ou a Lourenço Marques em menos tempo, e muito mais comodamente, do que no Sul de Lisboa a Paris ou em que as possibilidades de aproveitamento e de fomento se estribam em novos moldes e em que valiosas fontes de energia se espalham largamente pelos nossos territórios do ultramar, dando-nos escravos mecânicos sem conta - que se chamam kilowatt-hora! - e que docilmente actuam quaisquer das exigências do trabalho humano.
Disse um dia o Sr. Presidente do Conselho que Portugal podia ser, se nós quiséssemos, uma grande e próspera nação; grande já o é, no sentido da extensão do território e das possibilidades que a técnica actual trouxe para o pé de nós; mas verdadeiramente próspera só poderá sê-lo se considerarmos os 92 000 km 2 do continente e das ilhas adjacentes como uma parte dum todo que se mede por um pedaço de mais de 2 milhões de quilómetros quadrados.
É evidente que as possibilidades de fontes naturais de produção não são proporcionais às áreas consideradas na delimitação daquele espaço; mas do mesmo modo que a técnica actual ajudou a suprir dificuldades, que as distâncias a vencer e a necessidade de aplicação do trabalho impuseram ao aproveitamento hoje possível de todo o território português - e mostra-o o progresso que nele estamos impulsionando-, também nas suas mutações sucessivas ajudou a descobrir, dentro dele, uma potencialidade de riqueza aproveitável que ontem seria, muitas vezes, difícil de conceber.
Surgiram-nos, assim, incontestáveis facilidades para marcharmos na direcção da posição de relevo que desejamos e poderemos ter no conjunto da economia mundial; e até porque a nossa actual estruturação política, a tranquilidade interna de que gozamos, o prestígio exterior que se recuperou, a reforma financeira que se fez, revertem em benefício da aceitação do princípio de que o momento chegou para tirar dum grande território o maior proveito em vantagens das condições económico-sociais do povo português.
Quando, há tempos, ouvia num relato, pela rádio, acerca da visita da rainha da Inglaterra a Portugal, uma referência particularmente entusiástica à forma como ela foi recebida por esta e «pequena mas gloriosa Nação», senti que outros povos pecam muito menos do que nós no desconhecimento da geografia, visto que, se desconhecem a que respeita aos outros, decerto não desconhecem a que respeita a eles próprios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A alteração de todos esses conceitos, decrépitos e sem sentido, as possibilidades político-económicas reais de aproveitar essa riqueza em potencial que a técnica dia a dia valoriza, a função, reconhecida hoje em dia por todos, da potencialidade africana para a solução do próprio problema económico-europeu, levaram a alterar, também, dentro da geoeconomia moderna, o próprio conceito da nossa posição de possibilidades perante a Europa e perante o Mundo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ontem, ainda, a contribuição económica que poderíamos dar ao conjunto mundial resultava da situação difícil dum pequeno e pobre país na Europa, com territórios vários por várias partes do Mundo; mas hoje em dia, e olhando ao valor real das suas possibilidades materiais, à potencialidade da riqueza que as circunstâncias actuais nos oferecem e aos meios que dispomos para a poder aproveitar, Portugal, na sua unidade perfeita, na sua comunhão indestrutível de interesses, é, sobretudo, e em relação à Europa e ao Mundo, um país vigorosamente ultramarino, com uma testa de ponte - valiosíssima para a valorização do conjunto, coordenação do todo, detenção da condução política, formação de mentalidade e preparação de elites- no continente europeu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, e dentro deste sentido, se tem de definir a escala daquela coordenação que já referi.
A concentração, ou densidade aritmética, de 88 hab./km 2 no continente e quase 190 hab./km 2 nos arquipélagos da Madeira e dos Açores oferece-se o valor de menos de 5 hab./km 3 de população civilizada em todo o território português.
Não creio que uma coordenação que procurasse emprego para os novos que vão surgindo e garantias de actividade para aqueles que uma reorganização da produção possa, libertar na indústria e na agricultura da metrópole tenha falta de possibilidades perante uma política de largos investimentos, e bem aberta, à escala do ultramar português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E o problema que se nos porá, talvez e então, neste campo, já não será unicamente o de procurar os meios necessários para fornecer condições de vida própria a excedentes populacionais, mas sim o de criar, por adição, os meios - indispensáveis para que se não sinta escassa a mão-de-obra que o aproveitamento de tão vastos territórios impõe.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É ainda a técnica que bem aproveitada e considerada, ajudará a resolver este magno problema: quando, num esforço notabilíssimo, procuramos aproveitar as possibilidades hidroeléctricas do continente português, dentro de uma margem já de utilização que ultrapasso os 2 biliões de kilowatts-hora, ou seja de 1/5 ou de 1/6 das possibilidades continentais totais, as possibilidades hidroeléctricas de Angola orçam pelos 30 biliões de kilowatts-hora/ano, dos quais cerca de 16 biliões- parece poderem caber, segundo os estudos mais recentes, só ao médio Cuanza.
Por seu lado, o conjunto em Moçambique do Revuè, do Incomati, do Zambeze, acerca-se daquela possibilidade que o nosso ilustre colega Araújo Correia tão brilhantemente destacou no seu valioso e recente parecer sobre as Contas Gerais do Estado, na parte em que se refere às províncias ultramarinas; tudo isto mostra que o vasto e prestimoso trabalho que neste campo e em tantos outros se está realizando já no ultramar deixa ainda à sua frente possibilidades de monta para a solução integral do problema económico português.