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3 DE ABRIL DE 1957 523

de problemas em relação aos quais se gasta depois muito mais dinheiro sem a eficiência que se poderia ter tido em determinada ocasião.
Já não basta hoje querer chegar ao fim, visto haver como que uma corrida no tempo para ver quem primeiro chega lá.
O que se impõe é situarmo-nos entusiástica e convictamente à escala dos nossos territórios e das suas possibilidades dentro das realidades mundiais e deixar o romantismo das soluções piegas aos vagares dos homens contemplativos para os cancioneiros e para os folcloristas que vivam no domínio dos sonhos dos tempos que já lá vão.
Um dos primeiros passos, imediatos e firmes, é o de levar o País a estruturar a sua produção dentro da organização científica do trabalho, visto que desse modo e enquanto se reorganiza a produção em novos moldes se conseguirá em pouco tempo um primeiro e importante ajustamento à base de melhores salários e baixo preço de custo daquilo que se produz.
A organização do trabalho investiga, executa, anima, coordena e controla, com vista ao aumento da produtividade pela melhor harmonia dos meios de produção.
Não faltam a sobreporem-se à teoria exemplos flagrantíssimos do sucesso da aplicação desses processos, que hoje dominam dentro da extensão imensa das explorações industriais; referir-me-ei simplesmente a alguns tipos de actividades onde, pela organização racional de trabalho, é possível citar médias para referenciação em instalações industriais relativamente modernas, mas que não tiveram - como é o nosso caso geral- qualquer controle científico à laboração individual no momento das suas instalações.

a) Indústria metalomecânica. - Aumento da produtividade entre os 50 e 150 por cento, com melhoria da qualidade; alimento possível dos salários da ordem dos 20 a 50 por cento; redução do custo do fabrico entre 20 e 40 por cento;
b) Indústria têxtil. - Redução de 30 por cento na mão-de-obra por unidade produzida, o que se pode traduzir em cerca de 10 por cento no custo total de transformação; aumento possível de nível de salários entre os 15 e 70 por cento;
c) Indústria química em certos campos. - Aumento da produtividade entre 30 e 100 por cento; redução de 20 a 50 por cento de encargos da mão-de-obra; aumento possível do nível dos salários entre 20 e 40 por cento.

Uma afirmação desejo fazer ainda antes de terminar este capítulo: a de que através duma melhor organização da produção como a que referi se podem conseguir neste campo situações de particular alcance para o equilíbrio da produção-consumo.
De facto, em muitos países onde a produtividade de há muito constitui preocupação dominante dos produtores e dos governos as pressões de carácter sindical contribuíram frequentemente para que os índices relativos aos aumentos dos salários, consequentes de aumentos da produtividade, excedessem aqueles que se devem considerar em relação a estes; desta forma, e em certos casos, não se conseguiu obter uma contribuição total e perfeita para a baixa do custo de vida. Pelo contrário até.
Acresce, aliás, que onde a produtividade já alcançou o máximo de momento os aumentos contínuos de salários continuam a contribuir para a sua alta, numa espiral de acréscimos a que, em parte, o mercado comum procura ser um novo e ousado travão.
Em Portugal o problema é, porém, bem diferente, dado que se podem obter, de um modo geral, no sector da indústria aumentos substanciais de salários pelo aumento da produtividade ainda tão baixa que, em grande parte por deficiência de organização e de técnica, notamos pelo País fora.
E bastará um governo atento para evitar que os aumentos possíveis para a retribuição do trabalho não excedam os valores que lhe correspondem num aumento da produtividade; assim conseguiremos que se mudo o sentido da evolução ao ciclo vicioso que ainda caracteriza as relações da produção-consumo.
Porque se há-de esperar mais tempo ainda por esse trabalho de reorganização e de coordenação, que se impõe como indispensável para conseguir, a par dos investimentos possíveis, levantar o nível do País, transformando o sentido do ciclo vicioso em que vivemos, de forma a que cada vez mais, pelo aumento do poder de compra, se vá alargando o nosso próprio mercado, e por causa deste alargamento continuem baixando os custos da produção, em benefício, sempre positivo, do nível da vida social?
Eu sei que há uma observação de peso que não poderia esquecer-se na formulação dos meios que preconizei: há que empregar ano a ano um acréscimo importante da população activa, e a reorganização da produção, a par da organização científica do trabalho, com vista ao aumento de produtividade, não poderá deixar de ter por consequência uma diminuição de emprego, que só poderia vir dificultar outro problema que igualmente se põe, e que é o de garantir colocação a quantos a agricultura vá amanhã- dispensando em face da sua reorganização lambem.
Devo afirmar, desde já, que a observação me não convence, e por duas razões, das quais a primeira ó a seguinte: todo o trabalho de reconstituição económica que é preciso tem de estar rigidamente subordinado a uma coordenação; e dentro desta caberá conjugar reorganização com novos investimentos, de forma a garantir, tanto quanto possível, a ocupação daqueles que possam perder trabalho pelo aumento da produtividade da produção nacional.
Caberá a essa coordenação evitar que tenda a diminuir o subemprego, provocando-se o desemprego, e tudo irá de saber escalonar as novas produções no tempo e no espaço, de forma a evitar um mal que económica e socialmente nos poderia trazer uma grave perturbação, dado admitir como princípio que a emigração para o estrangeiro não seria por si só meio capaz de trazer a tão delicado problema a solução que se impõe.
A segunda razão surge imediatamente quando olhamos com a atenção que é precisa para os nossos territórios do ultramar; é consequência, portanto, de uma questão de escala para essa coordenação e merece, pela importância da contribuição que traz para a solução do problema económico português, uma referência muito especial.
Disse no último congresso da União Nacional que a solução do nosso problema económico se deveria situar a uma escala incompatível com as limitações dos problemas minhotos ou alente j anos, para se estender por todo o vasto território português, no aproveitamento integral das suas reais possibilidades; deveríamos situá-la, portanto, naquela escala dentro da qual o Sr. Presidente do Conselho nos habituou a raciocinar e a trabalhar: à escala nacional; só assim se poderão efectivamente criar -e a nossa actual política demonstra-o no seu interesse- ligações cada vez mais fortes entre as parcelas que integram a Nação Portuguesa.
O problema situar-se-á desde logo, portanto, em novos moldes, quer encarando o nosso território como es-