592-(2) DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 199
foi possível inserir este ano, no fim do volume do relatório sobre as contas da metrópole, uma lista dos apêndices publicados desde o início, incluindo os relativos aos volumes das contas do ultramar.
Julga-se que essa publicação facilitará, de qualquer modo, a consulta dos vinte e três volumes dos pareceres pelo menos na parte em que se estudam alguns dos problemas fundamentais, de natureza económica, financeira e social, que respeitam ao bem-estar e ao futuro da Nação.
O Futuro
2. A primeira grande guerra exerceu no Mundo uma influência que os tempos mostraram ter consideráveis repercussões na vida futura. Quatro anos de esforço contínuo para resolver problemas angustiosos relacionados com o conflito operaram uma revolução mental que se traduziu, no decorrer dos anos; em acontecimentos de grande transcendência.
A segunda grande guerra acelerou o ritmo do movimento de ideias e princípios gerados no ardor do esforço intelectual imposto aos homens por necessidades prementes de um fim de guerra vitorioso.
Durante o segundo conflito aplicaram-se em escala prática os resultados de investigações levadas a efeito vinte anos antes e prosseguidas no silêncio dos laboratórios durante o período intermédio. E os resultados de todo o longo trabalho reflectiram-se no pós-guerra, em efeitos que em dez anos vieram modificar a fácies política e social de todos os continentes.
Ninguém poderá negar a base em que assenta a tremenda revolução operada nos últimos anos, e que é ainda apenas o prenúncio de acontecimentos que se desenrolarão nas próximas décadas.
Essa base consiste essencialmente na descoberta de novos meios de utilizar as forças da natureza, postos à disposição dos homens e na ânsia de imensas populações em compartilharem os benefícios de civilizações mais progressivas.
A revolução em que agora se debate o Mundo foi em grande parte engendrada no silêncio dos laboratórios: provém do esforço colectivo de milhares de investigadores e da aplicação de novos conhecimentos ao domínio de recursos materiais em estado latente, muitos deles insuspeitados até há poucos anos.
Não é fácil, hoje, fazer prognósticos sobre os efeitos da tremenda revolução que continua a sua devastadora obra sobre o modo de ser e o modo de viver do passado, nem agora interessam lucubrações meramente especulativas sobre o futuro.
O homem de hoje tem de debruçar-se sobre os acontecimentos de hoje e tentar adaptá-los aos acontecimentos de amanhã. Ninguém poderá diagnosticar o impacto desses acontecimentos sobre a felicidade dos povos - se foi para seu bem ou para seu mal que se realizou todo o longo trabalho de domínio das forças da natureza tendente a dar-lhe maior somatório de bens materiais.
Mas estabeleceu-se a corrida para melhor bem-estar - e já agora não pode ser quebrada a sólida corrente que tende a ligar o homem, em todas as latitudes, a melhores níveis de vida ainda que o quebrá-la representasse um bem para a vida humana.
A unidade nacional
3. Em simultaneidade, ou talvez em sequência desta indomável inclinação ou anseio para melhores níveis de vida, eclodiram nos continentes subdesenvolvidos indícios de abalos nacionalistas que trouxeram novas complicações ao caos político originado na rapidez com que novas descobertas científicas se pretendem aplicar ao domínio e posse de recursos naturais. O equilíbrio das sociedades afro-asiáticas, que hoje clamorosamente pretendem exercer uma acção decisiva e alarmante no concerto mundial, está ainda longe de poder ser realizado.
E as nações com responsabilidades de orientação ou meios de fazer evoluir gradualmente essas sociedades até níveis de consumos ou de civilizações compatíveis com a calma evolução do Mundo encontram-se perplexas em frente do vigor, agressividade e violência clamorosa de povos até há pouco indiferentes à solidariedade colectiva.
As comunidades, como a portuguesa, constituídas por parcelas dispersas pelo Mundo e formadas por indivíduos de raças e origens diferentes estão sujeitas a influências que podem abalar a homogeneidade de atracção e de apego ao sentimento ancestral de amor pela velha pátria que as moldou.
Essas influências só podem ser combatidas pelo estreitamento dos relações entre os povos que constituem a unidade nacional, e, de forma mais lata, por mais compreensíveis e íntimas ligações entre os que fazem parte da grande comunidade lusitana.
Um dos meios mais eficazes para obter esse objectivo é, indubitavelmente, o estudo e vigoroso aproveitamento dos recursos naturais, de potencialidade económica reconhecida, existentes nos territórios metropolitanos e ultramarinos. A gradual melhoria do bem-estar da gente que habita os territórios portugueses, a sua progressiva ascensão para nível de vida mais aperfeiçoado, só podem tomar corpo na criação de novos rendimentos, que, por sua vez, derivam de novas empresas económicas.
A potencialidade económica e o futuro
4. Foi seguindo esta linha de pensamento que o parecer das contas desde o início da sua elaboração se preocupou com o estudo dos recursos potenciais, primeiro na metrópole e ultimamente no ultramar. Recomendou insistentemente, durante longos anos, a investigação cuidadosa e pormenorizada das potencialidades nacionais nesta matéria, segundo um plano de conjunto que assegurasse a maior produtividade e procurasse reparti-las o mais equitativamente possível pelas diversas camadas sociais.
Nos apêndices e no texto deu-se conta do que gradualmente ia sendo posto a nu, em forma incipiente muitas vezes, mas em moldes suficientemente claros que mostrassem a vantagem de aprofundar estudos, de modo a trazer à superfície o valor económico dos recursos apontados.
Grandes dificuldades se opuseram a esta linha de conduta, que foi sempre mantida imperturbavelmente. E parece que o decorrer dos acontecimentos e a verificação das realidades justificaram plenamente o esforço feito neste sentido no decurso dos últimos vinte anos.
Considerando os diversos aspectos da vida nacional e comparando os conhecimentos de hoje com os de há duas ou três dezenas de anos, parece que já se perde nas brumas do passado a ideia perturbadora e depressiva da pobreza do País - pobreza de recursos materiais, susceptíveis de melhores rendimentos, pobreza em possibilidades de recursos financeiros e humanos para os desenvolver e aproveitar.
As razões que justificam esta peremptória afirmação de o território nacional não ser pobre em recursos materiais, no continente europeu e no ultramar, já foram largamente enumeradas em pareceres anteriores. Já se descreveram com largueza e objectividade alguns as-