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6 DE ABRIL DE 1957 592-(3)

pectos fundamentais da economia nacional, incluindo os que se referem aos seus principais recursos económicos e humanos.
Já se expuseram os graves defeitos de que ainda enferma a estrutura económica que impedem, em muitos casos, a aplicação enérgica e metódica dos princípios destinados a assegurar o bom aproveitamento desses recursos e sua gradual utilização no bem-estar do aglomerado nacional.
E não valeria a pena voltar de novo ao assunto se não fossem prenúncios, suspensos no ar alguns, já bem firmados em terra outros, que indicam novos e tremendos desenvolvimentos económicos, sociais e até políticos ainda neste século.
As forças ocultas no átomo, já parcialmente dominadas para produção de energia e outros usos, os progressos recentes na automatização da produção industrial e até agrícola nalguns casos, a investigação do aproveitamento directo da energia solar, o movimento insistentemente prosseguido com o objectivo de transformar a Europa num vasto mercado comum sob a égide de uma autoridade supranacional, o despertar para consumos supérfluos e de bens duráveis de biliões de seres humanos, a própria essência do que se entende por viver no inundo moderno, dão ao momento actual uma acuidade fascinante e delicada, que obriga os homens a dobrarem-se ansiosamente sobre a evidência dos factos e ideias motoras que orientam o Mundo para o dia de amanhã.
Esses factos e essas ideias tornam mais aleatórios os métodos de governo e imprimem maior responsabilidade e peso às decisões agora tomadas.
Para que a unidade nacional possa com maior proveito enfileirar nesta corrida para um equilíbrio futuro, ainda difícil de visualizar, é indispensável conhecer as suas próprias potencialidades. Conhecê-las nos seus aspectos materiais e morais, conhecê-las simultaneamente num sentido objectivo e idealista, porque a vida do futuro, por maiores que sejam os esforços consumidos na utilização dos recursos materiais, não deixará de assentar solidamente em princípios imutáveis, criados na moral da própria essência humana.

O sentido do labor humano

5. As duas grandes actividades do homem desde as épocas primevas até agora firmaram-se na agricultura e na indústria. A agricultura, como angariadora de exigências alimentares, estabeleceu o seu privilégio e predomínio durante milhares de anos e foi, sem dúvida, a fonte inexaurível do gradual progresso da humanidade.
Desde meados do século xviii, depois da aplicação da energia mecânica em escala sensível, a indústria iniciou a sua ascensão vertiginosa e sensacional, até atingir a magnitude do momento presente.
Julgou-se durante largos anos que as próprias forças da natureza se haviam distribuído geograficamente de modo a demarcar com nitidez as zonas industriais e as zonas agrícolas.
O peso das circunstâncias dava, ou deu, durante muitos anos, o privilégio de riquezas acumuladas aquelas regiões que tinham, pelo menos aparentemente, o exclusivo da existência de combustíveis sólidos, nas proximidades de matérias-primas que pudessem assegurar o estabelecimento de indústria de base. Os países agrícolas, sedentos de novos produtos industriais, mantiveram-se tributários, durante longos tempos, de outros que possuíam os meios de satisfazê-los.
Daí atrasos consideráveis, em medias de níveis de vida, nas sociedade agrícolas, perturbações de índole política e efervescências de natureza social, que trouxeram graves danos ao Mundo.
No meio desta complexa agitação de anseios e exigências, que tomou corpo sobretudo nos últimos trinta anos, a comunidade portuguesa soube manter a sua unidade e no entrechocar de paixões em escala mundial o povo português, considerado na sua lata definição de incluir todos os habitantes de territórios nacionais, conseguiu manter o seu rumo orientado para coesão homogénea em aspirações e anseios.
As suas tendências, o seu grau de educação, descurado durante muitos anos, uma espécie de ociosidade intelectual que o atrai para costumes do passado, a estrutura económico-social das suas instituições tradicionais, deram-lhe um carácter de especial devoção pelos misteres da terra, pela exploração agrícola, pela vida rural.
A indústria foi durante muitos anos uma actividade esporádica e complementar, incipientemente conduzida, numa base quase empírica.
As consequências desta sonolenta interpretação dos factores económico-sociais, que determinam, como mostra a experiência dos séculos, a evolução política, ocasionaram as fraquezas de consumos conhecidas de todos e que necessitam de remédio urgente e vigoroso.
Estas fraquezas foram assinaladas neste lugar há muitos anos.

As dificuldades à vista

6. Um estudo aprofundado da estrutura económica indica que a parcela mais numerosa da população trabalha na agricultura, com baixo rendimento. Daí o seu apoucado nível de consumo.
Já o ano passado se determinaram, num exame sumário das condições económicas do País, as causas de insuficiências industriais e agrícolas e se alvitraram os meios de as atenuar, ou até resolver, num plano de conjunto. O que então se escreveu foi apenas um resumo sintético do que se escrevera anteriormente.
Os factos indicam ser possível reduzir, sem prejuízo na produção e no rendimento, uma parte importante da população agrícola activa e que sem essa redução e seu desvio para outras formas de actividade não será possível aumentar o poder de consumo do aglomerado nacional, considerado num conjunto harmónico.
A questão posta no momento presente, tendo em conta as repercussões dos acontecimentos económicos externos, materializados em produtividade cada vez maior e no alargamento do agregado consumidor, na sequência de um mercado comum homogéneo constituído por número de consumidores que pode atingir os 200 milhões, está em escolher os melhores métodos de desviar de misteres agrícolas as populações que neles estiolam em trabalho pouco rendoso e assegurar-lhes, com melhor produtividade, maior remuneração do seu labor. Ë indispensável aplicar os processos de exploração agrícola que, com menos mão-de-obra, permitam maiores rendimentos.
O problema do próximo futuro resume-se, pois em estabelecer relações economicamente harmónicas entre as actividades agrícolas e industriais, sem esquecer os serviços em outras actividades, que por sua vez, poderão, ou absorver mais vultosas levas de mão-de-obra, se a economia se desenvolver em escala adequada, ou, por força de racionalização conveniente, mante-los pouco inflacionados, sem prejuízo da eficiência e produtividade.
Estas simples observações mostram logo que o problema económico português não é fácil de resolver.
Tem diante de si incógnitas de difícil solução. Colide com deslocamentos consideráveis de mão-de-obra, na relatividade do meio, e vai de encontro a mentalidade