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596 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 200

cologia praticada no meu serviço, que é um serviço de cirurgia geral, seja de O por cento. E se é de O por cento não é porque se opere melhor no meu serviço do que no do Prof. Freitas Simões, mas é simplesmente porque se opera menos ginecologia do que no serviço que não opera outra coisa.
Bem mais difícil de realizar foi o estudo comparativo da actividade cirúrgica dos dois serviços de cirurgia geral mencionados pelo Sr. Ministro e interpretar as taxas de mortalidade correspondentes.
Durante três dias duas equipas de assistentes e outros colaboradores do meu serviço trabalharam sem parar no meu arquivo e no arquivo central, juntamente com o médico chefe desse arquivo, que se não poupou a esforços. Todos sacrificaram as suas vidas particulares. Se nos encontrássemos numa sociedade científica, faria uma rápida exposição dos números globais e parciais, taxas de mortalidade comentadas, médias de internamento correspondentes a doentes operados e não operados, classificação de mortalidade e média de internamento por afecções por estados gerais e fase de evolução das doenças no momento de internamento, por percentagens comparativas das doenças diversas nos dois serviços, por riscos operatórios, etc.
É evidente que a nada disso tenho de me referir aqui. E se todo este trabalho se realizou foi apenas para eu poder concluir, com base segura, mas sem estabelecer comparações inúteis e deslocadas, que os números apresentados correspondem exactamente ao que se poderia esperar do fundo de doentes dos dois serviços, isto é, que a taxa de mortalidade de 4,6 por cento do serviço de clinica cirúrgica é, vistas as coisas sem favor para ele, pelo menos comparável aos 1,6 por conto do serviço de patologia cirúrgica e que as médias de internamento correspondem à diferente percentagem o natureza dos doentes.
Quando me encontrei perante a comparação do Sr. Ministro pensei logo no prazer com que ele tomaria conhecimento, e como se apressaria a difundi-los, dos números que em 1944 publiquei com a estatística da minha equipa do banco de S. José, onde a mortalidade é sempre elevada. Essa estatística revela uma taxa de mortalidade operatória de 17 por cento. Mas verifica-se que ao dividir as operações em dois grupos, um deles operado por mini, como cirurgião do banco, e o outro pelos meus colaboradores, as taxas de mortalidade são, respectivamente, de 27 por cento e 12 por cento, o que, na conclusão do Sr. Ministro, não poderia deixar de demonstrar que eu só tinha uma coisa o fazer: procurar um posto qualquer através do Comissariado do Desemprego. Simplesmente, nessa estatística tudo está explicado, e assim torna possível uma apreciação crítica do conjunto.
Se atendermos agora a que o serviço de clínica cirúrgica é o único em que os assistentes fazem voluntariamente um serviço de vinte e quatro horas de enfermaria; a que, além da grande cirurgia, onde se realizaram 444 operações, trabalha constantemente uma sala de operações somente para a pequena cirurgia, onde no ano passado se realizaram 219 operações; a que no mesmo ano o número de doentes examinados na consulta externa foi de 8493, ou seja o dobro dos doentes examinados na consulta de patologia cirúrgica e, provavelmente, o número global mais elevado de todas as consultas do Hospital; a que se exige um esforço talvez maior que em' toda a parte para manterem completas e revistas as observações dos doentes; a que existem registos especiais para todas as intervenções, além das observações dos doentes; a que existe um departamento próprio de radiologia especialmente destinado ao prosseguimento do estudo e observação do sistema vascular o a que só em 19-06 se fizeram 74 arteriografias e 448 flebografias, exames que exigem uma técnica muito afinada e ocupam cada um cerca de meia a uma hora ou mais e fixam de três a sete pessoas; a que" todos esses exames são minuciosamente registados, de modo a tornar útil o maior e mais variado arquivo de angiografia do Mundo; a que a equipa de colaboradores que comigo trabalha é grande, não pelo que me é atribuído pelo Hospital, mas pelo número e qualidade dos voluntários que dela fazem parte; a quanto são constantes as operações de casos raros e delicados, que exigem enormes esforços de todos; a que alguns doentes se salvaram devido exclusivamente à qualidade cientifica e esgotaste dedicação da minha equipa; a que todos os anos são várias as sessões de demonstrações cirúrgicas e angiográficas a visitantes, pequenos grupos de cirurgiões ou congressos, o que exige muito esforço e tempo; a que a totalidade do serviço de urgências graves de todo o Hospital, com a natural excepção da obstetrícia, foi feito até hoje voluntariamente e com muita dedicação pelos mais categorizados elementos desta equipa; a que assim evitaram a utilização por esses doentes do serviço permanente de transportes para os conduzir ao serviço adequado, como o Sr. Ministro do Interior descreve em forma de parábola, o que em português corrente significa levar os doentes de maca para S. José - é natural que seja fundo o sentimento de indignação de todos os que foram injustamente visados pela crítica do Sr. Ministro, e, mais que todos, o seu director, que não ocupa o seu lugar com indiferença nem inferioridade profissional.
O que torna o aspecto pessoal que agora encarei particularmente digno de reparo é não ter ele qualquer relação com os grandes problemas encarados no aviso. A sua inclusão no documento do Sr. Ministro só pode ter como finalidade desprestigiar e ferir pessoalmente com acusações injustas um homem que, tendo sido solicitado a exprimir a sua opinião, manifestou o seu desacordo à orientação geral seguida pelo Governo sobre o problema da assistência e do ensino da Medicina e que julga fê-lo feito com justiça, muito trabalho e toda a lealdade.
Se duvido do êxito do Sr. Ministro no campo da critica e no da acusação pessoal, não há dúvida de que a finalidade evidente de me magoar pessoalmente com uma injustiça atingiu o seu fim, porque não há injustiça que não magoe, venha ela donde vier.
Todo o trabalho que produzi, fi-lo pelo meu país. Não estou disso arrependido. Mas este final constituiu para mi uma grande lição.
Se a posição do Sr. Dr. Trigo de Negreiros como Ministro do Interior me permitiu explicar em que consistiu a injustiça da ofensa, o respeito que lhe devo pelo cargo que ocupa inibe-me de o julgar. Mas creio ter fortes razões, neste momento, para declarar o seguinte: tal como há poucos dias encerrei o ciclo da minha actividade no campo da crítica parlamentar, igualmente posso fechar hoje o ciclo das minhas respostas.
Só desejo agora, se isso for possível, paz na minha vida e na minha actividade profissional.

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Urgel Horta: - Sr. Presidenta: peço a palavra para fazer algumas considerações sobre o assunto que acaba de ser tratado pelo Sr. Deputado Cid dos Santos.
O Sr. Presidente:-Não posso dar agora a palavra a V. Ex. ª porque temos de consagrar a maior parte desta sessão à discussão do aviso prévio do Sr. Deputado Daniel Barbosa. Todavia, fica V. Ex. ª inscrito, e na primeira oportunidade conceder-lhe-ei a palavra para falar sobro osso assunto.