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12 DE DEZEMBRO DE 1958 115

e amigos usufruem, pela razão única de terem enveredado pela actividade industrial.
E não pode, como é lógico, deixar de comparar esforços, competência e situações.
Desta comparação, por inexacta que seja nalguns casos, nasce o compreensível desejo de melhoria de vida. É, pouco a pouco, um a um, lugar a lugar, ei-los que partem em busca de melhores dias, de mais fartos rendimentos para os seus braços - única base de que dispõem para garantia de um futuro mais próspero.
O trabalhador rural é solicitado para os grandes aglomerados, e a concentração é já um facto palpável, que não admite dúvidas a ninguém.
Quanto ao proprietário, o problema da falta de mão-de-obra coloca-o em situação embaraçosa: contratar sem olhar a preços, ou deixar de cultivar.
A primeira solução é incompatível com a já precária margem de lucro que os produtos da terra lhe deixam, e, por isso, quando o factor de ordem moral se sobrepõe ao material, o lavrador inicia a passos lestos a descida ao abismo do enfraquecimento financeiro; recorre ao crédito, começa por hipotecar e acaba, quase sempre, por vender o que recebera dos pais, regado pelo suor de algumas gerações.
Desprezada aquela maneira de reagir perante as dificuldades que são hoje o dia a dia na lavoura, resta-lhe a suspensão das culturas durante anos ou o recurso à venda.
Julgo supérfluo acrescentar que as soluções expostas conduzem ao mesmo fim: a cada vez maior extensão dos terrenos de pousio, desde que o actual êxodo das populações rurais se mantenha.
Quer-me parecer que nada se ganhará em persistir no combate aos efeitos desprezando as suas causas. Aniquilem-se estas portanto, antes que o alastramento atinja tal grandeza que não haja depois meios de o extermina.
O problema é difícil; difícil, porém, nunca, foi sinónimo de impossível. Moroso, concordamos; mas a morosidade não é incompatível com a execução.
Não esqueço que o Governo se situa no vértice da grande pirâmide em cuja base está a Nação. Enquanto esta aprecia os problemas observando-os apenas sob reduzido número de ângulos e aspectos - nem sempre rigorosos -, o Governo tem deles a visão de conjunto.
Contudo, não evitarei a afirmação de que a política rural carece de ser activada com a maior urgência, pondo-se em prática medidas da máxima amplitude e eficácia. Não bastará dedicar-lhe interesse imediato; é indispensável que esse interesse se traduza no mais elevado escalão das disponibilidades financeiras orçamentais.
Urge que à lavoura sejam dadas garantias, de modo a ser-lhe possível cultivar sem receios. Que sejam estabelecidos os preços dos produtos para períodos de tempo mais longos; que esses preços venham a ser devidamente protegidos, quer nas eventuais emergências de escassez, quer nas de superprodução. E deverá atender-se a que a formação daqueles preços entre em linha de conta com o justo salário a pagar aos trabalhadores e a decente compensação para o dono da terra.
Urge que a política rural se acelere, procurando atingir, no mais curto espaço de tempo, a plena satisfação das reais e legítimas aspirações do povo que trabalha a terra, regando-a com o esforço do seu braço, regando-a com o suor do rosto ou nela enterrando o muito ou pouco dos seus haveres.
Simultâneamente com o encorajamento que é preciso dar ao proprietário, há necessidade imperiosa, urgente, inadiável, de levar a todos os meios rurais os melhoramentos o comodidades que são inerentes ao actual conceito de vida e dignidade humana.
O Governo não descura a política rural e estou certo de que lhe continuará a dedicar o seu máximo carinho. Os antecedentes são garantia bastante da sua acção futura. Importa, porém - mais uma vez insisto -, atacar o mal com uma urgência que não admite delongas e em escala muito maior do que até agora se tem feito.
Sr. Presidente: de entre as muitas faltas observadas nos pequenos meios populacionais, a das vias de comunicação ocupa a linha da frente.
Há poucas estradas e caminhos municipais. Há necessidade de rasgar muitas mais vias de comunicação que ponham as populações em contacto e sirvam o necessário escoamento dos géneros e produtos.
O reduzido número de estradas e caminhos encontra-se, para mais, inferiorizado pelo estado lamentável da sua quase totalidade. As câmaras não podem desviar dos seus apertados orçamentos mais do que as magras verbas para as chamadas pequenas reparações; a boa vontade das populações interessadas, por muita que seja, nada é, porém, em confronto com a exigência de avultadas quantias para as grandes obras. É oportuno referir - o que faço com o maior desvanecimento - que tem sido digna de apreço e realce a colaboração dispensada às câmaras por muitas das populações dos meios rurais; sem o contributo delas, algumas obras consideradas essenciais não estariam ainda hoje realizadas. Logo, à impossibilidade de abertura de novas vias há a acrescentar a qualidade regressiva proporcionada pelas actuais.
Este óbice das dificuldades quanto às comunicações por estrada dos meios rurais entre si e destes com os maiores aglomerados populacionais não é independente do caso das estradas nacionais, motivo que nos forra a breve incidência.
Também estas vias carecem de reparações de vulto que lhes modifiquem o traçado (supressão de passagens de nível, já condenadas há muito, mas, apesar de tudo, em abundância ainda, e corte de muitas curvas cuja existência nada há que justifique), além da necessidade de algumas serem reperfiladas e alargadas, senão em todo o traçado, pelo menos nos troços de maior tráfego. Os contantes desastres não podem filiar-se todos nos excessos cometidos pelos condutores. Há que buscar-lhes também as origens no estado deficiente ou impróprio dos pavimentos e na exuberância de curvas que contêm.
Numa altura em que o turismo começa a constituir apreciável fonte de receita que muito convém ao País, julgo condição sine qua non para o seu fomento e bom estado das estradas nacionais.
A interligação com as estradas camarárias que servem, ou deveriam servir, os meios rurais é factor apreciável na valorização que aqueles meios podem vir a ter num futuro próximo, desde que os pontos dignos da visita de turistas sejam não só assinalados, como já se vem fazendo, mas atingíveis facilmente pelos que pretendem conhecê-los.
O abastecimento de água merece-me igualmente uma palavra de referência, tantas são ainda as povoações privadas deste benefício.
A electrificação rural é um dos pontos sobre que deve recair a atenção especial do Governo. Trata-se de factor importantíssimo para a melhoria do nível de vida nos meios rurais. A rotina de há séculos já não satisfaz os seus habitantes e, além do mais, é motivo de atrofiamento. A desagregação já em curso nos meios rurais conduzirá ao seu desaparecimento se não lhes forem facultadas condições de sobre vivência. Ora entre estas a electrificação tem foros de primordial.
Também para ela se pede um aumento substancial de verba, dado que, embora maciças, as importâncias