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204 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 73

águas revoltas do Atlântico Norte e todos estarão de acordo em que o Carvalho Araújo ainda que muito mais novo, já ultrapassou o viver normal dos barcos de passageiros.
A renovação da frota mercante nacional, de que tão justamente se orgulha o País e que foi levada a cabo por intervenção directa do Sr. Almirante Américo Tomás, quem a Nação rende justo respeito e vivo louvor...

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-... essa renovação - dizia eu - não atingiu a Empresa Insulana de Navegação, a não ser para a construção de pequenos barcos de cabotagem, cuja missão é a de ligar as ilhas entre si.
Diga-se, a propósito, que, apesar da crise que ameaça os estaleiros navais portugueses e da trágica circunstância de um desses barcos ter naufragado há meses, não se vê que seja prontamente substituído, conforme seria legitimo ambicionar.
Não tendo sido feita essa renovação no que essencialmente interessa aos Açores, surgem as explicações, que, mesmo onde forem exactas, apenas reafirmam a existência de dificuldades que importa remover.
Sei que a Junta Nacional da Marinha Mercante - a cuja acção presto justa homenagem - não tem descurado o problema, mas sei também quão baldados têm sido os seus esforços e não desconheço que a empresa exploradora afirma serem deficitárias as carreiras de que é concessionária. Sendo assim -se de facto assim for-, há que encarar uma solução nacional do problema, para quo, perante mais vastos horizontes, se alarguem as possibilidades de uma exploração que ao Estado cumpre regular nos termos convenientes.
O que não pode é ficar-se parado a aguardar por mu to mais tempo um milagre que é natural não se de, pois não podem alterar-se as actuais circunstâncias, a não ser por acção do Estado, que tem a seu cargo garantir a existência de carreiras de serviço público.
No relativo ao capítulo das comunicações marítimas para os Açores jam prata satia Uberunt e importa que, cora urgência, seja resolvido um problema que não pode continuar indefinidamente no plano de estudos, das sugestões, das dúvidas, das razões que a uns e outros cabem, pois tem de situar-se no plano das realidades nacionais.
E porque tanto tempo houve já de estudo, há-de ter-se pôr certo escolhido a sugestão melhor, banido as dúvidas mais salientes e seleccionado as razões mais profundas, para que muito breve se possa iniciar a construção dos barcos que hão-de estabelecer, em boas condições de conforto, rapidez e segurança, as comunicações marítimas entre as ilhas dos Açores e Lisboa - cabeça do Império.
Desta tribuna endereço ao Governo o mais vivo apelo nesse sentido.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Jorge Ferreira: - Sr. Presidente: ao jeito de apontamento, porque os apontamentos se lêem e retêm com maior facilidade do que os grandes textos, e em poucas palavras, porque em poucas palavras se pode dizer muito, levanto-me hoje para trazer a esta Assembleia um pedido que no domingo passado me foi feito por um grupo de senhoras do meu concelho - e em que termos ele me foi feito: Pela felicidade dos meus filhos o com as lágrimas nos olhos de muitas! - para que eu a esta Assembleia trouxesse uma palavra em seu favor.
Trata-se de funcionárias que há mais de vinte anos abnegada e zelosamente se vêm dedicando ao ensino primário. E o seu caso, o caso das regentes escolares.
Diziam-me elas: «Sr. Dr., quando em Portugal, felizmente, a grande maioria do funcionalismo público viu concretizadas as suas legítimas aspirações e agradece ao Governo a felicidade que levou aos seus lares, algumas parcelas desse funcionalismo - e vários casos já foram tratados nesta Assembleia - verificaram, com mágoa, que as suas situações não puderam ser devidamente vistas, compreendidas e solucionadas pelos governantes».
É o caso destas senhoras e de muitas centenas de regentes, escolares que, em igualdade de circunstancias, há mais de uma vintena de anos vêm desempenhando por esse País fora as suas funções com uma força de vontade, um cuidado e um carinho que, até certo ponto, compensam a falta do seu diploma das escolas do magistério primário.
Ufanam-se essas regentes de verem hoje os seus antigos alunos médicos, advogados, engenheiros distintos, o que, até certo ponto, demonstra que de alguma coisa lhes serviram as primeiras letras que lhes ensinaram.
O que é a sua vida, o esforço que sabemos que muitas delas fazem, tentando de todas as maneiras e o melhor que podem, ministrar aos seus pequenos alunos um mínimo de conhecimentos de que precisam e que as não envergonhe, calcorreando, debaixo de chuva ou de sol ardente, os caminhos poeirentos das nossas aldeias, para depois, e quantas vezes, chegarem a suas casas e terem de proceder a toda a lida caseira!
De uma sabemos nós que, depois de todos os seus afazeres diários como professora, tem ainda em sua casa de tratar do marido, de quem, sofredora mas dedicadamente, vem cuidando há perto de vinte anos, tantos são aqueles em que se encontra paralítico de pernas e braços, e que da cama, todos os dias, tem de ser transportado para uma cadeira de rodas e da cadeira de rodas para a cama.
Falamos neste caso porque estamos convencidos de que não é uma excepção e que uma grande parte, se não a grande maioria, das regentes escolares vive em situações, se não tão aflitivas como esta, pelo menos em situações bem delicadas também. Esta senhora não merece só que seja revista a sua situação, que é a de todas, de modo a tranquilizá-la quanto ao futuro. Esta senhora merecia até um monumento, como símbolo de virtudes da mulher portuguesa, que personifica.
As regentes escolares lamentam-se e lamentam-se tanto mais quanto é certo que vêem a sua posição em relação de inferioridade com a das serventes escolares!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nem sirva de argumento contra o que se espera desta minha intervenção o facto de se dizer que este sector do ensino está em vias de ser substituído por um corpo mais bem preparado e de modo a servir melhor a causa da instrução.
Há que ter em atenção que tais servidores há muitos anos já vêm contribuindo com certa eficiência e o melhor que podem para o combate à mancha negra do analfabetismo português.
Não sou mais extenso e aqui deixo este breve mas significativo apontamento, na certeza de que esta Assembleia se fará eco da justiça que o informa e que S. Exa., o Sr. Ministro, que tão sobejas provas tem dado de inteligência, de compreensão e de bondade, não deixará de o atender na medida do razoável.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.