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282 - DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 80

vai lentamente agravando. Ainda não há muito procedeu-se numa povoação do noroeste do concelho a um inquérito para determinar quantas das crianças que frequentavam a escola primária careciam de alimentação gratuita a fornecer pela cantina escolar: o resultado foi que nenhuma podia deixar de ser assistida.
E na própria sede do concelho verificou-se que muitas crianças comiam a sopa que a escola dava, mas guardavam o quarto de pão que com ela se lhes servia. A explicação era que, por indicação dos pais, o levavam para casa, para o repartir com os irmãos.
Esta situação origina um intenso movimento emigratório. A gente da região é em geral industriosa, activa e inteligente. Fora da terra trabalham denodadamente e procuram, às vezes através de vidas que são verdadeiras epopeias de sacrifício, pertinácia e luta, valorizar-se em todos os campos de actividade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É um facto conhecido que os homens do Fundão e do seu termo se encontram um pouco por toda a parte, muitas vezes nas posições de relevo que souberam merecer: nas cátedras das Universidades, nos mais altos postos da magistratura, nos centros de investigação portugueses e estrangeiros, na advocacia, na medicina, na chefia de empresas comerciais e industriais.
São muito numerosos os que no ultramar se têm notabilizado como missionários, funcionários, comerciantes, arroteadores de terras, fundadores de indústrias. Mas a maior parte dos que saem das aldeias, falhos de toda a preparação técnica indispensável para o trabalho qualificado, dirige-se à Venezuela, Canadá e França, e ocupa-se ai nos labores mais humildes, naqueles em que mais rudemente se trabalha e onde menos se recolhe.
E são estas últimas direcções da emigração as que estão a acentuar-se e vão sendo origem da situação paradoxal de, por um lado, o solo não chegar para ocupar a gente e de, por outro, os homens jovens e válidos irem rareando no mercado do trabalho rural.
A taxa de escolaridade é muito elevada. Mesmo os camponeses que vivem longe das povoações mandam os filhos à escola. No último ano, 1025 crianças fizeram os seus exames de 1.º e 2.º graus. Aprendem pois tudo o que podem aprender. Mas, concluída a 4.º classe, fecham-se todas as possibilidades de promoção cultural aos que não têm meios para suportar as despesas do ensino particular ou os encargos da deslocação para uma cidade onde exista estabelecimento oficial.
Durante alguns anos os jovens ficam quase completamente desocupados e inteiramente privados de qualquer acção formativa. Logo que tenham a idade que a lei reputa bastante procurarão entrar no comércio, nos caminhos de ferro, ou buscarão em Lisboa qualquer pequeno emprego.
Muito raros permanecerão nas aldeias; os tempos mudaram muito e o ideal, romântico das cadeias de gerações secularmente agarradas aos mesmos solos pouco pode contra as duras recordações da infância, do trabalho intermitente, das invernias durante as quais o pai ficou fechado em casa, dos salários incertos e extremamente baixos, do desemprego completo durante os meses que decorrem entre a apanha da azeitona e as primeiras sementeiras.
São assim muitas centenas de rapazes os que em cada ano sobram dos quadros da vida rural e aspiram ao prosseguimento de estudos que os tornem aptos a trabalhar, em condições dignas. Ura índice que me parece muito expressivo dessa necessidade de valorização é o facto de serem disputados os lugares de aprendizes nas oficinas locais.
Todos os anos recebo pedidos de pais que pretendem ver os filhos a trabalhar - ainda que sem' qualquer salário - nos estabelecimentos e oficinas da vila. Mas a colocação é cada vez mais difícil; passam de seiscentos os menores de 18 anos que se encontram a trabalhar em fábricas e oficinas. E tenho conhecimento de que já se chegou ao extremo de pagar os lugares de aprendiz. O preço varia, mas vai até 5.000% o que os pais têm de ir pedir para que os filhos encontrem ensejo de aprender algum ofício.
A criação de uma - escola técnica viria resolver directamente este problema e contribuiria para a elevação das condições de vida da população, para a fixação de muita gente à terra, para o progresso dos métodos agrícolas e, especialmente, da rega, hoje embaraçada pela falta de operários mecânicos que instalem os motores e que lhes assistam, e, em suma, para uma maior produtividade do trabalho e uma melhor valorização dos elementos humanos.
Creio que não são precisas mais considerações para justificar a aspiração que enunciei. O Município dispõe-se a fornecer casa para a escola; mas é ao Ministério que compete criá-la.
As razoes não faltam; e elas são tão fortes que não posso acreditar que o Ministro e o Subsecretário de Estado da Educação Nacional permaneçam surdos ao apelo que, em nome do povo da minha terra, acabo de dirigir ao Governo da Nação.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Augusto Simões: - Sr. Presidente: seja-me lícito deixar aqui meia dúzia de singelas e despretensiosas palavras para realce do significado do acto importante da homologação dos estatutos da Fundação Mário da Cunha Brito, estabelecida na vila de S. Pedro de Alva, do concelho de Penacova, ontem concedida pelo Sr. Ministro da Saúde e Assistência, em cerimónia de tocante simplicidade formal, sem embargo da sua grandeza de transcendente significado moral e social.
Ao fazê-lo, Sr. Presidente, tenho os olhos postos nos radiosos ângulos de inultrapassável beleza de toda a gama de caridade provinda da forte lufada de benemerência que ultimamente se derramou no nosso país e nomeadamente no meu distrito.
E que ainda há pouco o em altura de não funcionamento desta Assembleia se instituiu na cidade de Coimbra uma outra benemérita fundação.
Refiro-me à Fundação Bissaia Barreto, instituição do mais saliente valor, que se destina a prolongar e a dilatar a obra do notável homem de bem e do professor eminente, que se desenvolve nos vastíssimos sectores que todo o Portugal conhece e admira como merece.
Integradas no sopro ardente dessa lufada bendita, como a referida, esta Fundação Mário da Cunha Brito propõe-se conceder aos povos de S. Pedro de Alva e aos seus vizinhos mais próximos todo o cortejo de socorros de assegurada estabilidade, que se define e contém no sumário impressionante das obras da Misericórdia.
Assim, a infância, a adolescência e a velhice ficarão larga e eficientemente protegidas através de uma obra de plurifacetada valência, criada por coração magnânimo, profundamente enamorado e enfeitiçado pela perenidade do bem!
Lágrimas, anseios,, sofrimentos e carências, todo esse cortejo de trágicas inibições que desfilava pelas casas e pelos caminhos dessa região do Alva, berço de homens ilustres, rincão bonito e asseado do meu distrito de