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29 DE MAIO DE 1959 833

Contra essa calamidade que então dominou o País, contra esse Poder que nunca se identificou com a alma da Nação, reagiu esta por vezes e reagiu violentamente, como aconteceu com Pimenta de Castro, com Sidónio Pais, no 18 de Abril, e depois decisiva e triunfalmente com o movimento de 28 de Maio.
Às forças da anti-Nação não se consideraram desde logo e para sempre derrotadas e vencidas e tentaram ainda destruir aquilo que o 28 de Maio representava, e, por isso, procuraram impedir a marcha da Revolução Nacional.
Uma das mais violentas tentativas que contra a Revolução Nacional se levantaram foi, por certo, o 7 de Fevereiro, em que tantos, e dos melhores, lutaram e perderam a vida, em que outros jogaram tudo: a vida e o seu destino. E ainda aí há entre os vivos quem possa de alguma forma simbolizar o esforço e o sacrifício feitos nesse momento.
E perdoe-me V. Ex.ª, Sr. Presidente, e a Câmara se a minha sensibilidade de amigo e razões de outros afectos que uniram duas pessoas, uma das quais já desapareceu desta vida, me levam a evocar e apresentar aqui, como um dos expoentes da virilidade com que se lutou e do espirito de sacrifício que nessa luta se pôs, o ainda hoje tenente Moreira Lopes ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- ... a quem as balas crivaram ali no Rato e inutilizaram para o prosseguimento da sua vida profissional, e por isso eu disse e sublinho: e o ainda hoje tenente Moreira Lopes».
Sr. Presidente: mas os objectivos do 28 de Maio encontram-se realizados. Que pretendia a Nação? Quais eram os anseios que a dominavam e que a fizeram aderir desde a primeira hora a esse movimento lançado pela figura galharda e varonil do marechal Gomes da Costa, esse modelo de soldado português cuja alma se temperara nas lutas árduas e difíceis da África Portuguesa e de todas as terras do Império?
A alma nacional ansiava por um Portugal restaurado, renovado, progressivo e prestigiado. O sentimento colectivo exigia que nos deixassem viver a nossa vida em conformidade com as nossas tradições e com os nossos sentimentos religiosos. E se o Poder constituído, por várias vezes, agiu para perturbar e amarfanhar a alma da Nação, uma das formas mais evidentes e que mais magoaram a sensibilidade colectiva foi a de a não deixar praticar livremente os actos do culto, não a deixar, quer dentro, quer fora dos templos, elevar a sua alma a Deus, não a deixar viver os princípios que lhe tinham ministrado através da pia baptismal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- E, então, Sr. Presidente, podemos dizer que Portugal se encontra restaurado, renovado, progressivo e prestigiado perante nós próprios e perante o Mundo!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Mas, Sr. Presidente, para que assim fosse não bastou a força das armas, que foi, na verdade, o elemento decisivo da primeira hora.
O exército português guardou em suas mãos o Poder até que se pudesse dar satisfação aos princípios que impuseram o 28 de Maio e surgisse o homem novo, Sr. Presidente, para esse efeito. E esse homem novo surgiu no momento oportuno, surgiu vindo com o seu espirito imbuído de uma sólida formação cristã, surgiu com a sua inteligência enriquecida por uma vasta cultura que lhe merecera os mais altos títulos académicos que as nossas escolas concedem, títulos académicos que temos de pôr aqui em destaque, porque são sempre um indicativo de sólida formação científica e de altas faculdades de inteligência e de trabalho, e esse homem novo surgiu e realizou o milagre por que a Nação ambicionava.
E que contraste, Sr. Presidente, entre os momentos que tantos de nós vivemos no passado, de amargas queixas que as nossas mães nos formulavam em casa pelos insultos com que eram enxovalhadas à saída dos templos quando éramos ainda crianças, e os momentos que a Nação pôde agora viver, quando da inauguração do monumento a Cristo-Rei ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -... sem artifício, sem coacção, dando livre expansão à sua formação cristã.
E, Sr. Presidente, não quis proferir palavras de recriminação contra os homens do passado, possivelmente mais vítimas dos defeitos de um sistema do que propriamente das suas qualidades de carácter e de patriotismo, embora este deformado por falsas ideologias.
Eu queria apenas, Sr. Presidente, assinalar e pôr em destaque, como hoje já foi aqui assinalado, as horas de tristeza, as horas de desânimo que nós então vivemos - os da nossa geração - com este ambiente de paz, com este ambiente propício ao desenvolvimento de todas as manifestações de cultura que vivem as gerações do presente.
Quis apenas, Sr. Presidente, evocando ainda esse símbolo augusto que é o monumento a Cristo-Rei, que a piedade de nós todos ali fez erguer, e os princípios que informam a nossa doutrina política, em nome desses princípios que Cristo deixou no Mundo, ter aqui uma palavra dirigida ao Governo no sentido de que promulgasse uma medida de clemência transformada em instrumento jurídico, como se essa medida de clemência caísse do alto da estátua a Cristo-Rei, para todos aqueles que estão sofrendo penas por delitos políticos, mas só para os que as suportam, e não para os que quiseram cometer atrocidades e os que, com evidente atentado contra a vida de relação internacional, procuram o asilo de potências estrangeiras.
Assim se salientaria o contraste entre a nossa atitude, a nossa ideologia e a magnanimidade dos nossos princípios com o que se passa por esse mundo fora, onde as revoluções se sucedem e onde as primeiras medidas do poder novo que se alcandora são medidas de violência e de exterminação da vida dos seus semelhantes.
Sr: Presidente: podemos bem, ao comemorar; passados trinta e três anos, o 28 de Maio, afirmar a nossa força material, e designadamente a nossa força moral, e dizer àqueles que não aderiram aos nossos princípios, dizer-lhes que nós representamos a verdade política no momento que passa, dizer-lhes que a sua atitude de obstrucionismo contra a nossa obra é uma atitude contra o progresso da Nação, é uma atitude que impede a boa paz, a ordem e a harmonia indispensáveis para se realizar obra profícua, útil e duradoura.
Com os olhos postos na Pátria, com os olhos postos naquela imagem que se ergue na Outra Banda, podemos dizer que em nós não há ódios, mas sim uma convicção esclarecida e fundamentada de que a nossa acção, como quer que se manifeste, é somente determinada pelo bem da Nação e pela paz entre todos os portugueses de boa vontade.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.