843 3 DE JUNHO DE 1959
E quando nos lembramos de que nessa atitude colectiva de amor e de paz sé simbolizam as grandes virtudes do povo português, bem expressas nas admiráveis cerimónias em honra de Cristo-Rei, mais se desenha em todas as almas bem formadas o contraste com certas máscaras de ódio de conhecida populaça revolucionária e dos seus responsáveis instigadores- untes que, vivendo dentro ou fora dos nossos muros, realizam há muito, segundo normas e métodos dissolventes adequados, um profundo trabalho de dissolução social.
Têm-se imiscuído esses perniciosos agentes das forças internacionais comunistas e maçónicas no seio do honrado e devotado funcionalismo técnico e administrativo do Estado e das organizações corporativas e também ainda em algumas empresas privadas, especialmente - e parecerá esta verificação um contra-senso - naquelas que melhor vêm remunerando o seu pessoal, lançando e espalhando, sistematicamente, aleivosias e boatos, de mistura com anedotas de finalidade preconcebidamente demolidora; levam a cabo vasta acção psicológica, criando um clima de incertezas susceptível de provocar as fugas do capital, desviando este de investimentos de maior risco, anos de maior improdutividade, para outros mais seguros mas de menor interesse social; procuram também nos locais, de trabalho - escolas, oficinas e campos- provocar perturbações, dissídios e desordens e ainda movimentos precipitados de natureza reivindicativa; divulgam, por outro lado, através de publicações várias, as belezas enganadoras do paraíso soviético, de resto nunca por eles vivido, bem como das escravizadas comunas colectivizadas da China Continental ; propagam por via de edições de baixo preço erradas doutrinas, que conduzem à dissolução dos vários elementos de estrutura das sociedades; recitam incríveis poemas das glórias de lutas desleais que têm sacrificado muitas centenas de mulheres e de crianças indefesas nesse admirável país que é obra da imortal França nas paragens norte-americanas; cantam as vitórias de «fideis» e «infideis» vários que têm reconstituído, no século que decorre, bárbaras cenas do Coliseu de Roma, ultrapassando em muito os desvarios que dizem combater; servem-se dos escritos da imprensa clandestina, do Avante!, de O Militante e doutros pasquins, para divulgar escritos não menos irresponsáveis; utilizam o cinema, nos clubes ou fora deles, para confundirem, com belas imagens panorâmicas, o triste cenário da escravatura de todas as cores, e ainda a rádio, para o- sistemático elogio dos seus valores - digo melhor dos que dedicam a sua acção demolidora aos domínios das letras, das artes e das ciências; valores aparecidos, decerto, par via de geração espontânea, já que neste país, sujeito segundo afirmam a uma clorose, demolidora das manifestações do espírito, eles não poderiam ter evoluído até atingirem a maturação actual.
O Sr. Ramiro Valadão: - Muito bem!
O Orador: - Levam mesmo a cabo, quando o ambiente .é propício, acções subversivas de vária índole, como aquelas a que assistimos no decorrer do período eleitoral de Maio-Junho de 1958, seguidas pela vaga de greves de natureza política que surgiram em diferentes regiões do País e que abortaram, logo no seu início, um face da pronta reacção da grande maioria dos trabalhadores patriotas e de consciência sã.
Apertam ainda, como se fossem velhos amigos, as mãos honradas daqueles homens bons que lhas estendem, ingenuamente é um facto, numa atitude sincera de desejo de conquistar mais almas para o Reino de Deus, pois assim esperam conhecer melhor os recônditos das almas puras para, quando soar a hora da destruição, poderem vibrar golpes mortais no elevado mundo do espírito.
Tudo processos, em suma, para criar climas de agitação e situações emocionais das massas favoráveis aos seus desígnios estratégicos e tácticos.
Eis, em suma, a ofensiva a que estamos assistindo, ofensiva de uma guerra fria movida pelo império moscovita nos mais variados campos, concebida por diabólicos e hábeis estratagemas; guerra que tem consumido, nesta última década, somas avultadas de dinheiro dos trabalhadores, a maior parte dele sugado a essa multidão de escravos que labuta em cerca de um terço da superfície do globo - fruto, digo, da espoliação de operários húngaros, checoslovacos, polacos, búlgaros, romenos, lituanos, estonianos e letões e dessas dezenas de milhões de russos, ucranianos, arménios, caucasianos e tantos outros povos hoje vivendo vida mais dura que nos tempos ainda não esquecidos dos autocratas de todas as Rússias.
E já não falamos desse Celeste Império, submetido, em escala nunca vista, por leninistas ortodoxos preparados nas escolas soviéticas, a um sistema de industrialização forçada que toca as raias do desumano. colectivização e materialização da vida levada à última, expressão do retrógrado com a supressão dos próprios laços da vida familiar; regresso da vida humana u formas primitivas, acentuado aí, nas suas consequências trágicas, pela degradação do meio físico, sujeito, a milénios de intenso uso.
Eis a ofensiva monstruosa em que colaboram também, com quantias avultadas e achegas várias, alguns magnates do sórdido capitalismo internacional - o temos por cá alguns, embora felizmente raros, exemplares dessa fauna bem conhecida no mundo da iniciativa privada, esperançados talvez em conquistar a boa vontade da gente trabalhadora para a continuação da sua vil acção parasitária.
E, perante tais atitudes, apenas, como sempre tem acontecido, a nossa perigosa benevolência e o esquecimento a curto prazo, logo que as situações se tornam menos vivas, dos ataques desses lobos sequiosos de sangue e de outros, não menos perigosos, disfarçados de mansos cordeiros.
Destina-se este escrito a pôr de sobreaviso «neutralistas» - incautos uns, embora por vezes bem intencionados, e também alguns amantes da demagogia fácil, cujas atitudes têm concedido, por vezes, fortes- achegas ao inimigo. Os que lutam sempre cheios de fé do mesmo lado da barricada não necessitam da nossa palavra esclarecedora.
O que passamos a dizer demonstrará, porém, que é necessário combater sem descanso, numa frente bem unida, o inimigo-comum, nos mais variados sectores da sociedade. E preciso: o dos falsos intelectuais aparentemente inocentes, mas profundamente dissolventes do mundo do 'espírito, que assentaram já há longo tempo arraiais nas escolas, nos oficinas e no campo, com a satânica missão de deformar essa multidão de jovens indefesos, que o excepcional desenvolvimento cultural e económico do País atirou nestes últimos vinte anos para um nível onde a maturação intelectual e social, que exige sedimentação calma, não pode ainda ter dado expressão definitiva; são ainda esses ingénuos pastores também, apostados em constituir grandes rebanhos onde lobos- esfaimados, difíceis de saciar, possam viver em boa paz com a multidão de mansos cordeiros.
O mundo das gerações que despontam para a vida não admite, presentemente, na realidade, mais do que dois partidos, e estes não são também conciliáveis: o dos que são pela Nação e o dos que são contra ela.