845 3 DE JUNHO DE 1959
O que acabamos de expor mostra bem, como já afirmámos, n estreita dependência que sempre existiu entre o comunismo português e a direcção da Internacional Comunista dominada por Estaline.
Foram assim, em última análise, os dirigentes do Kremlin, por intermédio do aparelho comunista internacional, que tentaram espalhar a desordem e a subversão na nossa terra, e se essas finalidades falharam' isso deve-se unicamente a três factores dominantes: à alergia do nosso povo a movimentos antinacionais, à acção enérgica do nosso Governo e à perfeita eficiência de actuação da Polícia de Defesa do Estado:
Vozes: - Muito bem !
O Orador: - Ao deixarem-se manobrar deste modo por Moscovo, os comunistas em Portugal só mostraram mais uma vez serem apenas traidores à Pátria.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Depois de 1941, isto é, depois da segunda reorganização do movimento antinacional comunista, essa atitude de traição à Pátria ainda mais se acentuou. Na realidade, o movimento que surgiu da reorganização de 1941 executou ainda mais fielmente, se é possível, as ordens de Moscovo. E, assim, o perigo que representava para a unidade e progresso social da Nação aumentou na medida em que os seus métodos de acção se foram torna ado mais eficazes, adquirindo crescentes características leninistas.
O perfeito alinhamento da estratégia e da táctica deste movimento antinacional português com a política moscovita foi então posto em foco por S. Ex.ª o Presidente do Conselho ao escrever estas palavras lapidares: «Mandaram-nos ser aqui germanófilos no começo da guerra, e foram; mandaram-nos ser aliadófilos depois, e foram. Mandaram-nos admitir a independência das repúblicas soviéticas, e admitiram-na; mandaram-nos aceitar a absorção das mesmas repúblicas, e aceitaram--na. São colonialistas para engrandecer o Estado socialista nisso e anticolonistas para diminuir o seu próprio país. Não procuremos lógica, mas obediência; não esperemos patriotismo, mas serviços a uma política estrangeira.»
Partido nacionalista estrangeiro eis o que é e foi sempre o movimento comunista português.
Vejamos agora, com um pouco mais de pormenor, como o' movimento comunista executou nessa época subservientemente todas as viragens da estratégia soviética.
Assim, em manifestos comunistas aparecidos nos fins de 1940 e princípios de 1941 podem ler-se violentos ataques contra os imperialistas anglo-saxões e contra a guerra imperialista que a Inglaterra e a França estavam impondo à Alemanha nazi; pode ler-se ainda uma defesa calorosa da aliança germano-russa!
Porém, logo após os primeiros dias da invasão do território russo pelo exército alemão tudo se modificou como por encanto. O que interessava realçar agora eram apenas as virtudes tradicionais do povo russo e a ajuda que estava sendo dada pelas democracias ocidentais contra os tiranos nazis. Era assim necessário, segundo a propaganda russa, auxiliar por todos os meios os exércitos aliados e, em especial, o exército vermelho. E veja-se, por exemplo, apenas para notar o tom, o elogio póstumo do Presidente Roosevelt e do povo americano publicado no Avante! da 1.º quinzena de Maio de 1945.
Toda a propaganda comunista dessa época é feita assim- sob o signo da unidade aliada e, como a táctica do comunismo internacional preconizava a constituição de vastas frentes nacionais ou patrióticas de unidade antifascista, o movimento comunista português segue obedientemente essa linha de rumo e cria sob a sua direcção, em 1943, o Movimento de Unidade Nacional Antifascista, a que aderiram inúmeras personalidades demo-liberais e mais tarde os G.A.C. (grupos antifascistas de combate), verdadeiras milícias de choque preparadas para a insurreição armada e que o movimento comunista julgava então poder realizar- em Portugal, com êxito, uma vez terminada a guerra.
Todas as greves, tumultos e actos insurreccionais que se verificaram no nosso país no decurso dos anos de 1942, 1943 e 1944 podem atribuir-se assim, na realidade, a esta intenção. Em 8 e 9 de Maio deste último ano o movimento comunista português conseguia, de facto, mobilizar em grande parte a seu favor as manifestações da vitória.
Começam, porém, a surgir conflitos graves, logo após o findar da guerra, entre a U.B.S.S. e os seus aliados ocidentais. Os comunistas portugueses fazem-se imediatamente eco dessas desinteligências. E, assim, no Avante! começam a aparecer frequentemente ataques contra o imperialismo anglo-saxão e, especialmente, contra os mais destacados governantes ingleses e
Norte-americanos. Assim, por exemplo, no Avante! da 2f quinzena de Abril de 1946 lê-se: «A Grã-Bretanha impõe um governo fascista ao povo grego» e «Churchill e os seus amigos procuram fomentar uma nova cruzada anti-soviética».
Esta viragem táctica do comunismo internacional inaugura o período da guerra fria. Devemos situá-lo, no que se refere ao movimento comunista português, em Maio de 1947, quando da reunião do seu comité central.
O Governo da Nação, que durante a guerra era acusado de ser hostil às democracias ocidentais, passou então a ser criticado precisamente pelo contrário. No Avante! da l.ª quinzena de Julho de 1947 já se lia:
O Governo enfeuda-se aos monopólios anglo-norte-americanos, e não hesitará em recorrer cada vez mais à ingerência estrangeira contra o povo português».
A táctica da guerra fria em Portugal desfez, contudo, a fraca unidade oposicionista conseguida através do M.U.N.A.F. e, depois do período eleitoral de 1945, do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.). J H os dirigentes não comunistas do- M. U. D. eram atacados como traidores num curioso folheto comunista difundido em Dezembro de 1946 e intitulado «O Partido Comunista ante algumas tendências prejudiciais dentro do Movimento de Unidade Democrática».
E esses ataques aos políticos oposicionistas intensificam-se no decurso do ano de 1948, quando se desenrolavam os trabalhos preparatórios para a apresentação da candidatura oposicionista às eleições de 1949. E hoje está perfeitamente demonstrado que a escolha definitiva do candidato da oposição foi da exclusiva responsabilidade do movimento comunista.
Personalidades demo-liberais das mais destacadas no sector da oposição, como disse, foram então grosseiramente difamadas e insultadas nas colunas dos números do Avante! dessa época; assim, o Sr. António Sérgio, por exemplo, chega a ser acusado no Avante! da 2.º quinzena de Outubro de 1949 de ser «informador da Polícia de Defesa do Estado».
Findo este período eleitoral, quebrou-se, de facto, a unidade da oposição e o movimento comunista resolveu criar uma nova organização satélite, com aparência democrática, mas inteiramente dominada por ele: essa organização chamou-se «Movimento Nacional Democrático», organização que em todas as suas manifestações, até Janeiro de 1957, data em que a direcção do partido resolveu dissolvê-la, foi inteiramente dominada pelas