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849 3 DE JUNHO DE 1959

cargos e missões que mostravam que continuava a ser homem de confiança do regime e dos imperialistas americanos e ingleses ...».
«O partido comunista português penso que a candidatura do Sr. General Humberto Delgado representaria um grande prejuízo para a causa democrática e anti-salazarista. Uma tal candidatura corresponderia aos objectivos divisionistas s antidemocráticos dos salazaristas e dos seus patrões americanos».
«Estas são as razões mais do que suficientes para que o partido comunista português se pronuncie contra a candidatura do general Humberto Delgado ...».
Neste documento, que se refere várias vezes ao «general fascista», o movimento comunista português sugeriu ainda a escolha de «um candidato democrático que se apoiasse num forte movimento eleitoral de massas, para cortar o passo aos aventureiros políticos e assegurar êxito às forças da oposição».
A atitude dos comunistas é então clara: contra o general fascista!
Há, contudo, neste texto a que acabamos de nos referir uma pequeno passagem sobre a qual convém chamar u atenção, porque, apesar dos ataques dirigidos contra o referido militar, entreabre uma parta para uma possível aproximação com ele. Assim, reza o texto referido.
«Se entretanto o general Humberto Delgado desejar enfileirar ao lado dos anti-salazaristas, se deseja uma mudança de regime e de governo, que o mostre publicamente, por palavras e netos ...».
Algumas semanas mais tarde, após várias tentativas de elementos grados do falhado demo-liberalismo português, o movimento de oposição democrática decidiu escolher como candidato da oposição às eleições para a Presidência da República um cidadão, advogado e artista - o Dr. Arlindo Vicente. E os comentários do Avante! continuam a manter-se desfavoráveis para o general. Censura-lhe entoo asperamente ter exercido «funções dirigentes na milícia fascista da Legião Portuguesa»: Todavia, a linguagem é já um pouco mais conciliante e os apelos mais insistentes: «Não quer em as atribuir-lhe intenções ditatoriais de tipo fascista - escreve-se -, mas 03 objectivos da sua candidatura não são claros». Mais adiante, em caracteres destacados: «Isto significa que, apesar de não ter sido possível um entendimento entre as força democráticas e anti-salazaristas para a apresentação de uni único candidato, é possível unirem-se agora na luta. por objectivos que sejam comuns às duas candidaturas e a todos os
anti-salazaristas».
O número seguinte do Avante! (n.º 254, da l.ª quinzena de Maio de 1958) não contém já um único ataque contra Delgado e renova, pelo contrário, os insistentes apelos para uma acção comum.
A estes apelos o já referido militar não ficou insensível e os necessários contactos foram estabelecidos para uma acção comum. Um bloco eleitoral único foi então constituído após a retirada estratégica da candidatura do Dr. Arlindo Vicente, e o movimento comunista apoia com calor esta decisão nos seguintes termos, que se lêem no Avante! da 1.º quinzena de Junho de 1958: «A patriótica decisão de unificar as duas candidaturas oposicionistas em apoio do general Delgado, combativo candidato, etc.».
Como vemos, a autocrítica e consequente expurgo fascista demorou pouco tempo.
E a partir de então o candidato único beneficiou em toda a sua campanha do apoio total do movimento antinacional. Por ocasião das suas reuniões eleitorais o movimento comunista pôs à sua disposição todo o seu experimentado aparelho subversivo e mobilizou as milícias do Porto, de Lisboa e de outras cidades e, aproveitando hábeis reacções psicológicas segundo as regras de uma técnica já largamente experimentada noutros países, provocou as explosões emocionais e os tumultos do Porto e de Lisboa.
Logo que terminaram as eleições o movimento comunista desejou consolidar os resultados e principalmente as suas ligações com as «massas». Tentou assim mobilizar grupos de trabalhadores por meio de greves gerais. A violência da acção originou os necessárias medidas de defesa da ordem pública e o candidato oposicionista mantém-se sempre solidário com os comunistas. Honra lhe seja feita. Paralelamente, o movimento comunista multiplica as suas tentativas para dirigir todo o movimento de resistência anti-salazarista.
Em l de Julho a comissão política do convite central do partido comunista português publica mais um apelo para a unificação da resistência e criação de uma direcção única e ao mesmo tempo provoca várias perturbações no decorrer do Verão e do Outono em todo o País:

Na reunião do comité central que teve lugar em Agosto de ]958 o «camarada Freitas», pseudónimo de Jaime Serra, membro do comité central preso depois, fez no seu relatório, a crítica das greves de Junho e julho nos seguintes termos: «a ordem de greve foi justa e oportuna, mas houve muitos erros na. sua apresentação». O movimento comunista português não podia, porém, apreciar o exacto valor da luta, das massas, porque untes de 8 de Julho não tinha organizado nenhuma luta reivindicativa de carácter económico. Além disso, a ordem de greve fez realçar, segundo Freitas, «falta de entusiasmo entre os militantes comunistas, e até nalguns quadros altamente responsáveis». Também alguns membros do partido manifestaram, segundo ele, «um sectarismo que impediu os trabalhadores de seguir em mossa o movimento». Finalmente, segundo o mesmo dirigente comunista, «o papel de motor dos comités de greve foi muitas vezes desconhecido e o movimento traduziu a grande fraqueza das organizações do partido, sobretudo na região de Lisboa».
Na l.ª quinzena de Agosto o Avante! publicava uma curta pessoal do general Delgado ao Ministro do Interior. Era o verdadeiro epílogo da triste aliança com os elementos da anti-Naçõo.
No começo de Dezembro o movimento comunista sofre mais um grande revés. A polícia prendeu numerosos instigadores dos movimentos do Verão e do Outono, entre os quais três membros do comité central: Pedro Soares, Joaquim Gomes e Jaime Serra (aliás Freitas), sendo este último o principal responsável pela agitação e pelas greves.
Numerosas casas clandestinas foram então também ocupadas no Porto, Coimbra e Lisboa, e entre elas um atelier tipográfico.
Entre os documentos apanhados encontravam-se listas de subscritores do partido e, facto característico, a documentação do M.N.I. (Movimento Nacional Independente), nova organização satélite comunista, que, em manifestos clandestinos, apontava como presidente o general Delgado.
O movimento comunista, deixado a si próprio, pouca importância teria ainda hoje em Portugal. O perigo reside apenas no facto de a Rússia se estar a interessar cada. vez mais pelo comunismo peninsular, e este interesse dá forças a movimentos subversivos e lança a confusão nos espíritos de alguns, atrai mesmo ingénuos e almas simples, que nada sabem sobre n espantosa tirania dos governos comunistas; desorienta alguns espíritos jovens ainda não completamente formados e alicia certos intelectuais desejosos de emoções fortes.