972 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 122
seiras e carinhos por gente amiga e de sua casa, com o firme propósito de lançar, assim, o primeiro padrão humano no meio do oceano Atlântico, de forma a perpetuar com sangue português, através dos séculos, o destino histórico de Portugal, como povo dilatador da fé e da civilização cristã ousamos sugerir a quem de direito que uma das melhores homenagens que se podia prestar a esse ilustre príncipe da Casa de Avis seria, durante as comemorações henriquinas, verificar-se o melhoramento das comunicações marítimas e aéreas dos Açores, aproximando-os, cada vez mais e melhor, da Mãe-Pátria!
Se assim acontecesse poderia o Governo estar certo de que teria feito obra da mais elevada projecção nacional, atendendo à importância dos Açores na nossa história marítima, antiga e contemporânea!
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Urgel Horta: - Sr. Presidente: nada acusa de estranho o facto de um homem do Norte, seu Deputado, vivendo com a maior intensidade as manifestações e os problemas inerentes a vida da Nação, que desta tribuna e neste instante queira proferir meia dúzia de palavras, simples e expressivas, sobre acontecimento passado, aqui focado já com o brilho de sempre por um ilustre Deputado, o Sr. Alberto de Araújo, acontecimento suscitador do mais reconhecido interesse em todos os recantos da terra portuguesa, desde as cidades da mais alta categoria às pequeninas aldeias e lugares dispersos por todas as províncias de Portugal.
Quero, Sr. Presidente, referir-me à visita, a todos os títulos feliz, que acaba de fazer-nos a princesa Margarida, de Inglaterra, parecendo-me inteiramente justo e cabido o comentário que vou traçar.
E bem o merece a estada da excelsa princesa em terras lusitanas, onde à sua volta soube, como em toda a parte, criar ambiente de invejável simpatia e justa admiração.
Essa visita, revestindo aspectos de extraordinária valia e projecção, marcou na nossa vida social e no coração de todos os portugueses data e recordações que não poderão tão cedo apagar-se, e será lembrada, quer pela sua oportunidade, quer pelo alto significado que lhe é verdadeiramente atribuído. Dias de inexcedível contentamento e comunicativa alegria foram esses em que os Portugueses tiveram a suprema honra de admirar, em todo o seu esplendor, essa encantadora embaixatriz, mensageira viva e idolatrada de um povo que à mocidade inteligente e radiosa, ao sentido e à juventude de uma mulher entregou confiadamente o facho luminoso de uma missão de alta responsabilidade, a todos os títulos delicada e difícil.
Ela soube, porém, fazer frente a todas as dificuldades, resolvendo-as com perfeito conhecimento do problema e através de factores inerentes a qualidades natas: aos primores da sua educação, da singeleza despreocupada e cativante das suas maneiras, da distinção do seu porte invejável, como verdadeira princesa de sangue real, personalidade bem vincada, aureolada por Deus nos seus desígnios, honrando e dignificando o seu pais na tarefa que lhe foi outorgada pela rainha Isabel, sua rainha, e sua irmã, a quem o povo português tanto e tão devotadamente, ama e respeita.
Foi bem a representante ideal de um povo, não lhe faltando qualquer dos predicados indispensáveis ao triunfo da finalidade que aqui a trouxe, avultando em Sua Alteza Real dotes de beleza e simpatia que lhe concederam foros e direitos à carinhosa admiração da gente portuguesa.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:- Inteligentemente primorosas e oportunas foram as afirmações cheias de propriedade contidas na alocução proferida pela princesa no banquete em sua honra e em sua despedida realizado no Estoril, sob o patrocínio da Federação das Indústrias Britânicas, homenagem em que participaram as mais eminentes e distintas personalidades da vida nacional e as mais representativas figuras da colónia britânica.
O Sr. Augusto Simões: - Muito bem!
O Orador: - O conteúdo dessa alocução, magnífica na sua expressiva simplicidade e no sentido em que foi ditada, é um hino de agradecimento, de exaltação, de confiança e de louvor aos laços da indestrutível amizade luso-britânica, mantida sem sombras com toda a firmeza e dignidade através dos séculos; é a história comum de dois povos, sempre unidos na defesa de princípios, associados em tempos difíceis de guerra e de paz; invocação ao passado glorioso das nossas descobertas e conquistas, atravessando os mares em permanente convívio, descobrindo terras, que cristianizámos e civilizámos; é o reconhecimento eterno e sentido da epopeia lusíada iniciada pelo infante D. Henrique, o maior português de todos os tempos, traçando novos rumos e novos destinos à humanidade; é a nossa camaradagem de armas, mantida desde o alvor da nacionalidade até aos dias de hoje, na justa compreensão do seu valor e da sua eficiência; é a evocação meditada è sentida à velha aliança, velha de seis séculos, mas renovada a cada instante pelo querer e pelo sentir das duas nações; é uni apelo à união, à defesa e à colaboração em todos os campos de interesses materiais e morais das duas pátrias, que hoje, mais do que nunca, é forçoso considerar e manter no plano favorecedor mas exigente das nossas actividades em desenvolvimento valioso e progressivo.
É, sobretudo, o coração generoso, agradecido e bem aberto de uma princesa que sente palpitar no mais profundo e Intimo do seu delicado ser a lembrança do passado, a vida do presente e as preocupações e anseios do futuro, numa comunidade de sentimentos, e interesses que ligam inteiramente as duas nações, que é preciso acautelar e defender.
E, Sr. Presidente, há nessa brilhante alocução uma nota verdadeiramente feminina, emocional, de uma delicada ternura, plena de sensibilizante doçura e atenção, que toca fundamente o coração dos Portugueses, quando com a maior simplicidade nos diz não poder esquecer que houve uma princesa portuguesa, Catarina de Bragança, rainha de Inglaterra, pelo casamento com Carlos II, que foi quem ensinou os Ingleses a tomar chá, sua predilecta bebida. E logo a seguir fala-nos do nosso vinho do Porto, com que os Ingleses aprenderam a deliciar-se, mostrando o quanto estes devem às duas excelentes bebidas: o chá e o vinho do Porto.
Que magnifica lição encerra essa espontânea confissão da encantadora princesa!
Louvores bem merece, quer do seu pais, quer do nosso, pela forma verdadeiramente inteligente como soube desempenhar o alto papel que lhe conferiram de embaixatriz extraordinária da sempre nobre e velha Inglaterra.
Bem haja por ter vindo. E Deus lhe conceda o favor da Sua graça, numa vida feliz e venturosa, que do coração todos desejamos para a excelsa princesa Margarida.
Sr. Presidente: e depois de tudo quanto V. Exa. acaba de ouvir, de satisfação e regozijo pela visita dessa adora-