17 DE JUNHO DE 1959 973
vel princesa, cuja presença criou novas mas fundas raízes de amizade no coração dos Portugueses, seja-me permitido agora fazer um comentário que, embora não seja do agrado de muitos, justifica arreigado sentimento de amor ao meu pais, à sua gente e ao indeclinável dever de olhar determinadas questões por prisma bem diferente do adoptado por certas entidades e personalidades investidas em funções de alto relevo e merecimento.
Os factos na sua consumação e na sua repetição caprichosa tantas vezes apontados faiam mais alto que as palavras quê me sinto autorizado à proferir, e que prometo alargar, sobre a acção inconveniente de certos organismos, alguns do Estado, logo que a oportunidade se me ofereça.
Não sei, Sr. Presidente, a quem pertence a responsabilidade do traçado programa respeitante à visita da princesa Margarida a Portugal, nem esse conhecimento me interessa, e não curo de sabê-lo. Mas, pertença a quem pertencer, repetiu-se mais uma vez o que se vem praticando ha muito tempo, cometendo-se erros psicológicos que a própria imprensa inglesa anotou.
Portugal parece ser, e não é, para determinadas entidades e pessoas apenas Lisboa. O resto ... não conta para certas manifestações, na observância da vida e dos costumes do seu povo, das belezas que encerra, dos monumentos que possui, bem ligados à história do passado, de tudo quanto existe, e é muito, digno de ser visto e admirado pelos nossos hóspedes, dentro da escala das suas variadas categorias
Veio até nós a princesa, em missão especifica de natureza económica e mesmo cultural; missão de merecido interesse para a Inglaterra e para Portugal, bem documentado através do esforço representativo dessa brilhante exposição, a Feira das Indústrias Britânicas, que nos seus resultados práticos não interessa exclusivamente a Lisboa, mas interessa verdadeiramente a todo o País.
Pois muito bem: a princesa, a quem foram prodigalizadas as homenagens devidas à sua extraordinária categoria, embaixatriz de um povo que pretende garantir o triunfo da Feira através da utilidade das suas consequências, dos seus resultados práticos, abrangendo os sectores de actividade industrial e agrícola, na sua vasta complexidade, foi levada a passar seis dias da sua visita por Lisboa e arredores, observando pouco do muito magnificamente belo e produtivo que possui a nossa terra, a terra portuguesa, que devotadamente se sacrifica e trabalha.
Mas o facto repete-se e há-de continuar, esquecendo conveniências nacionais, negando a certas regiões do Pais a demonstração das suas actividades, dignas de serem vistas e admirados, não faltando por esse Pais além cenários de maravilha terrena espalhados pelas diversas províncias.
Eu não quero trazer à Assembleia Nacional, porque seria supérfluo fazê-lo, um largo descritivo claro e eloquente das prodigalidades com que a natureza nos dotou, e que todos reconhecemos, ou assinalados marcos inextinguíveis de civilização cristã, monumentos sagrados que, através dos séculos, atestarão o valor da nossa capacidade realizadora perante os povos e a história documentada do Mundo Português.
Mas seja-me permitido referir sucintamente, perante a indiferença de muitos, os motivos em que se fundamenta o meu juízo, combatendo com toda a razão o esquecimento a que a região situada ao norte do Mondego tem sido votada neste capitulo de valorização da nossa presença no convívio das nações.
Concretizemos, Sr. Presidente, os nossos queixumes: desde a Beira Litoral, marginando o Atlântico, tendo a velha cidade universitária por centro, terra de tão notáveis como interessantes características na beleza do seu conjunto arquitectónico, de uma disparidade interessante, onde avultam glórias do passado, cidade circundada por cenário de maravilhoso encantamento, tão cantado pelos nossos melhores poetas, tomando vulto a distância relativamente curta essa mata secular de inexcedível beleza e grandeza, o Buçaco, de tão belo historial, e desde Aveiro, com a sua ria, aos contrafortes do Caramulo e da Estrela, abrangendo montes e rios, vales e planuras, extasiantes de luz e de cor, ocupando a zona central dessa região a magnifica cidade de Viseu, terra de Vi-riato, com arredores de forte, expressão paisagística e panorâmica, não poderá encontrar-se motivo digno de ser visto, admirado e visitado?
E o Minho, a província mais extraordinariamente aliciante e bela de Portugal, que na sua zona rústica ou na sua parte urbana deslumbra na luxúria verdejante da sua vegetação e dos seus arvoredos, na suavidade bucólica dos seus rios e das suas pontes, estradas e caminhos marginados por intermináveis maciços de flores, com a cidade de Viana do Castelo, na plenitude da sua majestade, debruçada sobre o Lima, olhando o Atlântico, que Santa Luzia domina; ou Braga, velha, característica e monumental cidade, célebre no mundo católico, com tesouros de arte, capital ide uma região progressiva, ridente, feliz, encimada pelo Bom Jesus do Monte e coroada pelo Sameiro, místico, altaneiro e festivo, tão amados e admirados por todos que têm a felicidade de ali subir; distritos em que vilas e aldeias encerram recantos paradisíacos em toda a sua graça nada valem ou, representam perante entidades a quem faltam naturalmente as indispensáveis condições de independência, visualidade e espirito de selecção que as recomende e as indique como inteiramente merecedoras de serem conhecidas?
E toda essa região compreendendo a zona do Douro Litoral, estendendo-se ao Alto Douro, onde a imponência dos seus montes e a placidez dos seus rios, o verde das encostas cobertas de vinhedos e o dorso nu das suas montanhas se casam em contrastes de beleza e grandeza com os seus povoados graciosos e alegres e com os alcantis de altos e fragosos maciços, mais perto do céu com os seus horizontes de sedativa harmonia, que representa perante o turismo nacional?
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:-Região centrada e dominada pelo velho burgo tripeiro, o Porto, grande empório comercial e industrial, cidade portuguesa de mais firmado carácter, conhecida no mundo inteiro por múltiplas e destacadas razões, especializando o facto de haver dado o seu nome ao famoso vinho do Porto, tão apreciado, nada vale como unidade turística na conjuntura em que se pretende intensificar a vida comercial e industrial da Nação com a Grã-Bretanha e com outras nações?
Não faltam ao Porto, Sr. Presidente, atractivos e motivos de natureza arquitectónica e monumental, novos e velhos, datando alguns de períodos longínquos. Repositório expressivo da arte em toda a grandeza de outras eras, com vida social intensa, actualizada, progressiva, torra bordejada pelo Douro e banhada pelo Atlântico, burgo de historial magnifico, relicário de um passado e fautor de tudo quanto represente actividade e engrandecimento, é as mais das vezes olvidado perante acontecimentos e perante factos em que tinha direito a participar.
E, Sr. Presidente, a enumerar destes casos e de outros que com eles têm semelhança - e bem resumidamente o fiz - não será bastante para serem revistos com a melhor e a mais requerida atenção e cuidado, quebrando indi-