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530 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 160

perder muito da pureza das suas virtudes iniciais, que, na síntese dos melhores pensadores, se podem condensar nas da iniciativa, da perseverança e da permanente intenção de aperfeiçoamento, sob o domínio de exclusiva compensação moral.
A maior parte das modalidades desportivas, porventura até as que mais podem contribuir para os fins específicos do desporto, passam então para um plano de subalternidade, começando a ser qualificadas de pobres...
Este surto de irreprimíveis desvios colocou as federações nacionais a braços com os mais desvairados problemas.
Os representantes dessas modalidades relegadas para um plano mais secundário começaram a sentir o forte agravamento das precárias circunstâncias a que a evolução dos acontecimentos conduziu as agremiações suas filiadas privadas de tudo ou de quase tudo. Aquela que representa as actividades espectaculares de mais projecção - o futebol - topou-se com os desencontros que o imoderado desejo de supremacia a todo o custo fez nascer e mais robustece em cada momento.
Cresceram os estádios, cada vez com mais possibilidades de acomodação de espectadores, e concomitantemente cresceu a cobiça dos dirigentes em arregimentar um escol de praticantes que pudesse garantir o espectáculo, cujas receitas pingues chegam para as maiores loucuras, compensando amplamente a preparação dos «artistas», a quem é oferecido um viver cheio de facilidades e de compensações materiais de cuja efemeridade eles se não apercebem!
Começou a caminhar-se, insensìvelmente a princípio, deliberadamente depois, para os meandros do profissionalismo, e este começou a vigorar do facto entre nós nas condições que de todos nós são bem conhecidas.
Havida a compensação material como indispensável complemento da actividade desportiva do chamado desporto-rei, criou-se um estado de espírito que, a breve trecho, se projectou em muitas outras modalidades.
Novos problemas, surgiram, novas dificuldades apareceram a tornar ainda mais confusa a grave situação do desporto nacional.
Este, cada vez mais se afastou das altas virtudes da competição do amadorismo puro, que não sofria a nefasta influência das massas ululantes das bancadas e arquibancadas dos estádios!
Algumas federações nacionais, formadas, aliás, pelos representantes dos magnates das actividades espectaculares de maior projecção, que nelas têm assento certo e lugar seguro, têm-se revelado impotentes para se oporem à caudalosa torrente de interesses que tal estado de coisas fez nascer.
Impunha-se que o Estado, com o seu alto poder moderador, viesse restituir o equilíbrio funcional que se perdera, tocando o próprio interesse nacional.
É que, já não pode falar-se simplesmente nos direitos e interesses de um sector mais ou menos restrito desta ou daquela modalidade desportiva: têm de ser tomados em conta os direitos e interesses de todas as modalidades, que todas elas são imprescindíveis elementos da valorização nacional.
A falta de coordenação entre as regulamentações parcelares e a generalizada inadaptação destas aos novos moldes da vida desportiva nacional permitiram a criação de um sistema desfocado, sem características definidas, quase inteiramente casuístico, ao abrigo do qual se têm agravado sucessivamente as já notadas incongruências.
Como não era lícito continuar-se indefinidamente acomodado a tais situações, entendeu o Ministério da Educarão Nacional, apercebido das suas responsabilidades, editar um projecto de decreto-lei, em que algumas foram consideradas. Perante a magnitude dos problemas versados, deliberou o Governo transformar esse projecto na proposta de lei que, denominada de alteração ao funcionamento de vários desportos, nos foi submetida com o douto parecer da Câmara Corporativa.
Pretende o Govêrno dar solução aos magnos problemas com que se topou, reconhecendo, definindo e condicionando o profissionalismo nas modalidades de futebol, ciclismo e boxe, editando as regras da classificação dos atletas praticantes destas modalidades.
Cumpre desde já afirmar que se deixaram sem equação muitos dos importantes problemas que o evolucionar da vida criou ao mundo do nosso desporto.
Conhecida, por exemplo, a dificuldade e a inconveniência da administração da justiça no foro do desporto, por falta de organismo de estrutura semelhante à dos órgãos judiciais e como eles nimbado de prestígio e acima das paixões clubistas, impunha-se encarar a criação desse organismo, suficientemente estruturado para emitir decisões que evitassem a grave e apaixonada discussão que perdura e as manchas de suspeição que envenenam.
Haveria também de se ter encarado o problema, tão volumosamente debatido em todos os sectores da vida nacional, da direcção de arbitragem das pugnas desportivas.
Consabido que para julgar os actos alheios nos mais comezinhos aspectos da vida se exige uma preparação técnica e especializada, como não exigir também uma preparação adequada àqueles a quem se confia o julgamento de todo o desbobinar de uma pugna desportiva, em que se não podem nem devem deixar subverter nem os conceitos normais da dignidade humana, nem as próprias leis fundamentais da modalidade praticada?
Ora, estando criado entre nós o Instituto Nacional de Educação Física, parece que não seria despropositado que aos árbitros devidamente profissionalizados se exigisse a frequência de um curso ali criado para cada modalidade, durante o qual se afeririam as reais aptidões dos candidatos.
Teriam sido problemas que a proposta de lei poderia ter incluído entre aqueles que pretende resolver com a mais saliente vantagem.
De igual vantagem se me afigurava a introdução de uma conscienciosa restrição à imoderada liberdade do recrutamento de atletas de que certos clubes usam e abusam, especialmente para a prática do futebol, originando com ela uma estagnação que é a todos os títulos inconveniente, já que, mantendo-os fora de actividade, lhes reduz a sua forma física, privando-os ainda de prestar o seu concurso a outras colectividades, onde tão desejados e necessários eram.
No entanto, quanto aos problemas que encarou, a proposta de lei, com as alterações introduzidas pela Câmara Corporativa, editou um sistema que pode vir a ser plenamente eficaz, se for regulamentado com consciência e objectividade, e fora portanto de toda a conveniência clubista.
Será um primeiro passo, se não muito avantajado ainda, pelo menos já relativamente positivo no caminho que tem de ser percorrido.
É claro que se vai abrir uma nova era no campo do desporto federado e não parece lícito supor que o novo sistema ficará restrito às modalidades consideradas: futebol, ciclismo e boxe.
São por de mais conhecidas as influências do profissionalismo de facto em que se tem vivido, nos domínios do futebol, nas restantes modalidades, onde, sob os mais especiosos ardis, se corrompeu o amadorismo.
Não parece muito fácil remediar eficientemente um estado de coisas que, na sua génese, comunga das mes