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31 DE MARÇO DE 1960 531

mas razões criadoras de muitas outras situações de desequilíbrio que se notam na vida das nossas gentes: a ausência de desafogo económico s subserviência a um permanente estado de inibições.
Este teor de vida não é propício ao amadorismo puro, que, na grande maioria dos casos, ou não pode ser praticado, ou torna verdadeiramente desejável para muitos dos que se nivelaram mais aptos a ligeira compensação que não é, do modo algum, remuneração pelo servido prestado, mas achega que melhor permite manter o diferenciado nível de viria a que a prática do desporto obriga.

O Sr. Peres Claro: - V. Exa. não acha que o recurso aos jogadores estrangeiros veio realmente apressar o problema do profissionalismo entre nós?

O Orador: - Perfeitamente de acordo com V. Exa.
Eu admito a vinda do profissional estrangeiro quando ele nos pode trazer alguma coisa de útil, mas nada mais.
O problema dos jogadores estrangeiros é um problema difícil, que eu não desejaria tocar, por razões que V. Exa. certamente compreenderá.
Desta sorte, só as barreiras naturais estremarão devidamente os campos do amadorismo e do profissionalismo do desporto, e estas só serão erguidas quando um alto nível de educação cívica encontre as nossas gentes beneficiadas pelo saliente aumento do teor das suas vidas, que tanto nos preocupamos em conferir-lhes.
Até esse momento, cuja chegada é ainda imprevisível, as realidades e as necessidades do desporto nacional impõem-nos um procedimento cauteloso para aumentarmos, tanto quanto possível, o nosso depauperado nível técnico-desportivo, alheando-nos de todas as situações de exagerado puritanismo, que em nenhuma latitude do Mundo encontram já aceitação.

O Sr. Mário de Oliveira: - V. Exa. conhece o caso da modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos.
A nossa última representação foi em 1928, e isso porque, por um certo pudor da nossa parte nos quisemos abster de nos fazer representar por atletas que não fossem exactamente amadores. O pior é que nem todos os países pensaram desse modo u tanto assim que nos últimos jogos, os de Helsínquia, se deram casos muito desagradáveis, a ponto de o Comité Olímpico ter posto a reserva, de que de futuro alguns jogadores não poderiam participar nos últimos encontros por não serem amadores.
Da nossa, parte, como disse, houve sempre mais escrúpulo.

O Orador: - Agradeço muito os esclarecimentos prestados por V. Exa., os quais vêm, na verdade, ao encontro das minhas ideias.
Temos, realmente, escrúpulos em demasia ...

O Sr. André Navarro: - Em todos os países os jogadores são funcionários e, como o consideramos, o amadorismo é um puro engano, e, no entanto, não o é!

O Sr. Simeão Pinto de Mesquita: - os amadores são saudosistas!

O Orador: - Ponto é que não criemos nem deixemos que se criem desvios por tal forma aberrativos que, longe de servirem a causa do desporto, antes propiciem e favoreçam o aniquilamento dos mais fracos. Isso é principalmente o que cumpre evitar, e sê-lo-á com a regulamentação condigna e inteligente das bases que vierem a ser aprovadas por esta Assembleia.
Se um dos maiores males do nosso desporto é a falta de praticantes, falta que também avulto no próprio futebol, onde não encontramos mais de 10 000 inscritos na respectiva federação, e entre eles o valioso escol de elementos provenientes do desporto escolar, não se compreende que a estes não seja conferido o tratamento que tanto merecem pela sua situação especial.

O Sr. Urgel Horta: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Urgel Horta: - V. Exa. está a fazer afirmações sobre amadorismo que não estão dentro da realidade.

O Orador:- Que não estão dentro do critério de V. Exa.

O Sr. Urgel Horta: - Ponho a coisa nua, tal como ela é.
Não fica mal a ninguém ser subsidiado, como não fica mal a ninguém ser profissional, porque muitos médicos, engenheiros e advogados, em toda a parte, se formaram assim. Alguns médicos espanhóis, por exemplo, formaram-se subsidiados por clubes. Isso nada influi na sua honestidade e no seu valor, V. Exa. parece que confunde as coisas. O que é preciso é que a coisa seja aquilo que deve ser. Eu compreendo-o assim; foi nesta escola que fui educado.
Desculpe V. Exa. meter-me nestas coisas, mas há certas afirmações que bolem com a sensibilidade de um indivíduo. Estou dentro do espírito do muitos Srs. Deputados, mas, para, estarmos dentro desse espírito, não é preciso dizermos aquilo que não é. Hoje faz-se profissionalismo não só no futebol, mas noutros desportos. E repito: não é vergonha nem desonestidade ser subsidiado ou ser profissional.

O Orador: - Isso é o que tenho dito desde início.
V. Exa. põe a questão tal como eu a ponho.

O Sr. Urgel Horta: - Mas...

O Orador: - Se V. Exa. quer fazer segunda intervenção na generalidade. V. Exa. passa para a tribuna e eu terei muito prazer em ouvi-lo, como sempre, aliás.
Uma coisa é aquilo que eu digo e nutra coisa aquilo que V. Exa. supõe que eu digo ou penso.

O Sr. Urgel Horta: - É por aquilo que ouço que estou a interromper V. Exa. V. Exa. diz uma coisa, eu digo outra.

O Orador: - Continuo a dizer que uma coisa é aquilo que eu digo, outra coisa aquilo que V. Exa. supõe que eu digo.

O Sr. Urgel Horta: - Quer dizer, então, que eu não compreendo V. Exa.; e na verdade não o compreendo.

O Orador: - A opinião de V. Exa. é a que eu tenho desde o início, embora, talvez não coincida totalmente. Tenho dito e continuo a dizer que o amadorismo de hoje evoluiu e temos de partir de certas realidades para formarmos certos conceitos. V. Exa. fica com a sua brilhante opinião e eu fico com a minha. Eu respeito a opinião de V. Exa. e se V. Exa. não quiser respeitar a minha não me deito ao Tejo por causa disso.
Na verdade, esses atletas estudantes nunca poderiam ser considerados profissionais ou subsidiados ou não amadores. Eles não fazem do desporto qualquer profis-