O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

31 DE MARÇO DE 1960 533

O Sr. Rodrigues Prata: - Mas eu só queria saber porque é que não podem ser classificados como não amadores.

O Orador: - Fere a minha sensibilidade...

O Sr. Rodrigues Prata: - Que lhe fira em relação aos estudantes...

O Orador: - É uma situação especial que não abala as raízes, os fundamentos, da própria nacionalidade.
Nós precisamos do concurso de todos esses desportistas e todos eles não são de mais para servir a causa do desporto com o seu concurso.
Por isso a situação não fere mais do que um certo número de outras que V. Exa. está fartíssimo de conhecer e que me dispenso de enumerar.

O Sr. Rodrigues Prata: - Tenho a impressão de que o conceito não está perfeitamente definido.

O Orador: - O conceito está definido, mas eu é que talvez não saiba defini-lo capazmente.
Ora os atletas do desporto escolar são absolutamente necessários, mesmo indispensáveis, nas competições oficiais, a que emprestam, em qualquer das modalidades praticadas, frescura e vivacidade, que lhes conferem uma das mais salientes notas do seu interesse.
E, para ilustrar este meu asserto, não resisto à tentação de apontar, embora com a leveza que se me impõe, os muitos e muito assinalados serviços sempre galhardamente prestados à causa do nosso desporto, em plurifacetada actividade de muitas décadas, pela Associação Académica de Coimbra e pelos seus numerosos atletas.
Alta escola de virtudes cívicas e de solidariedade humana, cujo espírito de abnegação tem feito escrever algumas das mais belas páginas do desporto português, a Associação Académica de Coimbra não deve ser estorvada na sua benemérita obra a favor dele, nem os seus atletas havidos em qualificação diversa daquela que, de facto e de direito, lhes pertence, qual seja a de estudantes que praticam o desporto pelo desporto, e, portanto, de amadores.
Seria uma das mais negras e feias ingratidões que ao mais representativo dos organismos de estudantes deste país não se acautelasse convenientemente a sua estrutura especial ínfima, da qual se irradiam torrentes de benefícios para o desporto nacional.
Mas, a par da Associação Académica de Coimbra, também mourejam pelo desporto e com elevado teor de proveito para ele outros muito valiosos organismos estudantis ligados às academias de Lisboa e do Porto, integradas de notável plêiade de bons praticantes.
De todo este conjunto de jovens atletas cuja missão principal é a preparação intelectual, e que só por acréscimo se dão ao desporto, animando-o com o sopro vivificador de uma mentalidade esclarecida, tem este legìtimamente a esperar o impulso positivo e a dignificação sem reservas, que são os pólos essenciais do seu desenvolvimento.
Não é lícito, portanto, desviar esses obreiros, com fórmulas de duvidoso classicismo, da pureza dos seus princípios, encaminhando-os para certos horizontes já infectados pelo interesse sem medida, onde, certamente, não se sentiriam bem...
Ora nem todos estes atletas têm um poder financeiro que lhes permita frequentar os seus estudos à custa do seu património familiar.
Muitos, ou a maioria, provém de famílias económicamente débeis da sacrificada classe média, que não poderiam frequentar o ensino se não fossem ajudados.
Para estes atletas a subvenção para estudos ou para o período de preparação profissional que se segue ao termo daqueles é, portanto, apenas uma ajuda possibilitadora da elevação dos níveis científico e cultural de cada um deles, que nada tem de comum com uma remuneração de trabalho profissional, pelo que não pode assim ser considerada.
Equivale à bolsa de estudo, que não quebra nem ofende o amadorismo, segundo está entendido no conceito internacional, como fui expressamente fixado para os praticantes de futebol da Associação Académica de Coimbra pelo Comité Executivo da, Federação Internacional dos Desportos Universitários na sua reunião que teve lugar em Bruxelas a 18 e 19 de Janeiro do ano de 1958 e consta das respectivas actas, cujo traslado oficial me foi dado conhecer.
Esta circunstância apresenta, a meu ver, uma forte razão a favor do cabimento do ponto de vista que tenho procurado defender.
Sem embargo, não me parece aconselhável, para além do âmbito dos referidos organismos académicos, a possibilidade de concessão de subsídios para estudos ou para o período de preparação profissional já referidos.
São tão concludentes as razões da restrição que nem me tento a evidenciá-las. Bastará considerar, por todo o somatório dessas razões, que só no meio estudantil se encontra o ambiento específico do atleta-estudante, ambiente que nenhuma organização clubista pode criar e manter.
Dentro deste pensamento, e fazendo, embora, à Câmara Corporativa a justiça que merece por haver reconhecido que a situação dos atletas escolares deve ser salvaguardada dentro da estrutura do seu próprio condicionalismo, apenas divirjo, pelas razões apontadas, da orientarão do parecer para fixar essa salvaguarda.
Apresentarei, por isso, uma proposta de emenda à base II.
Quero tratar ainda, Sr. Presidente, de uma outra questão que se apresenta de vital interesse para os chamados clubes modestos, que são aqueles muitos que só conseguem superar as tremendas dificuldades da sua vida atribulada à custa de devoções de toda a ordem.
A incondicional liberdade das transferências dos praticantes amadores, proposta pela Câmara Corporativa como corolário lógico desse amadorismo, poderia causar a estes clubes incalculáveis prejuízos, dado que a fuga dos seus melhores atletas no fim de uma época comprometeria até ao banimento os seus grupos ou equipas.
Basta ter em conta, especialmente quanto aos grupos da província, a natural tendência e gosto emigratório da juventude, sempre tão atraída pelo fascínio das urbes, para desde logo ser muito de recear que tal tendência favoreça demasiadamente as mudanças daqueles quo, criados e ensinados com verdadeira devoção em tais clubes, revelaram boas qualidades para a prática do futebol e ciclismo, como, de resto, para os outros desportos.
Por não ser muito pujante de valores o campo de recrutamento, os habilidosos não deixarão de ser fortemente aliciados com argumentos de toda a ordem para ingressarem nos grandes clubes, seguindo, quicá, os rumos do profissionalismo.
A transferência incondicional seria, nestes casos, da mais gritante injustiça.
O facto merece a devida consideração e, em busca da atenuação ou banimento dos maiores inconvenientes apontados, apresentarei uma proposta de emenda ao n.º 3 da base IX.
E chego ao fim das minhas considerações.
Vai começar uma nova era no desporto português.