30 DE ABRIL DE 1960 863
De facto, quem viaja para os lados de Viqueque não pude deixar de ficar agradavelmente impressionado com a verdura promissora de riqueza dos palmares de coqueiro, que se estendem em filas intermináveis, ladeando as margens da estrada que conduz a Uatolar e Uatacarban.
Quando por lá passei, em Setembro do ano passado, pude verificar com - satisfação a excelente cultura dessas plantas, que, a continuarem nesse ritmo de crescimento, não tardarão u vir beneficiar, dentro de um prazo relevamente curto, a vida económica da província.
Exemplos desta natureza merecem ser apoiados e seguidos em toda a província.
Mas, uma vez verificada a supremacia absoluta do café no volume das exportações timorense, poder-se-ia perguntar: haverá possibilidades de melhorar a produção do café de Timor, que goza, como é sabido, de reputação mundial?
Cremos que sim. Efectivamente, se perlustrarmos os anais da província, facilmente verifica remos que já em 1880 Timor exportara 2580 t de café, incluindo assim o período áureo da sua produção, desde que ali fora introduzida a sua cultura. Em 1927 a exportação baixou ligeiramente para 2165 t, para depois ascender em 1931 a 2438 t.
Desde então começou a acentuar-se o declínio da exportação do café com as consequências dele resultantes para a vida económica da província.
Várias foram as causas que concorreram para esse declínio, tendo-se salientado entre outras a senectude das plantas, a falta de arborização adequada, o abandono parcial da sua cultura, como consequência da baixa de cotação no mercado mundial, as destruições originadas pulas revoltas d« povos insubmissos e as pragas que invadiram as plantações.
Fosse, porém, como fosse, o certo é que a província, cônscia da anemia económica de que padecia, soube reagir salutarmente contra semelhante estado de coisas, graças aos esforços dos que verdadeiramente se empenhavam no desenvolvimento da riqueza agrícola de Timor.
Com efeito, a reacção pronta e enérgica de Filomeno da. Câmara e. mais adiante, o impulso vigoroso e dinâmico de Teófilo Duarte, o homem que se inutilizou em terras timorenses ao serviço da província, que percorreu de lés a lés, a cavalo, calcorreando montanhas e vales e transpondo ribeiras, precipícios e obstáculos de toda a ordem para verificar pessoalmente in loco a existência numérica de cafezeiros, lançada no diário de serviços dos administrativos, contribuíram poderosamente não só para sustar a queda vertiginosa da produção do café, como até para elevar essa mesma produção ao máximo atingido no período áureo de 1880.
Ora, o que eles puderam, porque não poderemos nós também?
Sr. Presidente: numa província vincadamente agrícola, como Timor, que vive s continua a viver da agricultura, a menos que apareça o petróleo, é deveras confrangedor verificar a existência de enormes extensões de terreno improdutivo, onde só abunda o capim e a mata de piteiras e palavrões, que cobrem grande parte das encostas do litoral e descem mesmo até às planícies, esperando apenas que o braço do homem venha a revolvê-las para as transformar em riqueza.
Não ignoro, Sr. Presidente, que o problema económico de Timor é demasiado complexo, mas, por isso mesmo, carece de ser considerado por todos os ângulos e solucionado não unilateralmente, mas sim mima visão de conjunto.
Na verdade, o desenvolvimento da produção de natureza agrícola, ou industrial em termos de beneficiar economicamente a província supõe, em nosso entender, uma orientação técnica adequada, um plano previamente organizado com base em estudos científicos relativos ao solo, aos climas, às infra-estruturas económicas, à existência de mercador - consumidores dos produtos cuja cultura se pretende incentivar, sem o que se correria o grave risco de esbanjamento de capitais investidos, de desgaste de energias, lançando nos ânimos a descrença nas possibilidades de um futuro melhor. Para obviar a tudo isto impõe-se cada vez mais a necessidade premente da existência efectiva na província dos serviços de economia, a quem compete estudar e coordenar tais problemas, propondo para eles a solução mais adequada aos condicionamentos existentes na província.
Por outro lado, não basta criar servidos públicos. Importa acima de tudo equipá-los convenientemente e, mais ainda, dotá-los generosamente, para que possam cabalmente desempenhar a missão que lhes cabo e se não estagnem ingloriamente no recinto fechado das repartições, em evidente prejuízo do bem comum.
Sr. Presidente: se, por ura lado, a insuficiência da produção de natureza agrícola ou industrial se apresenta como factor dominante do desequilíbrio da balança de comércio do Timor, por outro, há que reconhecer e pôr em evidência também que o agravamento do saldo negativo em cerca de 560 000 patacas proveio integralmente, como se diz no relatório, do grande acréscimo nas importações, que atingiram o máximo registado até hoje, ou 12 439 000 patacas.
Não há dúvida, Sr. Presidente, do que Timor, dada a fase de reconstrução f m que ainda se encontra e a evolução das suas populações para melhor nível de vida, com tendência para maiores consumos, não pode de forma alguma prescindir das importações.
Todavia, estou em crer que mesmo neste capítulo se poderia fazer considerável redução, no tocante a certos artigos importados do estrangeiro, que poderiam, ser substituídos com vantagem por bens sucedâneos existentes na província.
Assim, por exemplo, não me parece inteiramente razoável a importação de blocos de cimento para a construção de edifícios públicos ou particulares, quando afinal temos mesmo na capital da província a indústria da cerâmica, embrionária, é certo, mas com capacidade suficiente para fornecer tijolos e ladrilhos para o fim que se tem em vista.
Porque não havemos nós de utilizar a prata da casa?
Seria esta, em nosso entender, a melhor fornia de proteger e estimular as indústrias locais, ao mesmo tempo que se contribuiria pura ajudar a resolver o problema do desemprego, sendo certo que haveria mais braços a empregar, mais pão para a boca o menos miséria nos lares.
Forçoso é reconhecer que o Governo da Nação se tem empenhado em fazer progredir economicamente a província, e a prova está inconfundivelmente no II Plano de Fomento que foi calorosamente aprovado por esta Assembleia.
Todavia, nunca é de mais lembrar que o desenvolvimento económico de Timor está intimamente ligado ao problema das comunicações, tanto rodoviárias como marítimas. Sem estradas que permitam o escoamento rápido das mercadorias pura a capital, sem comunicações marítimas mais assíduas com a metrópole, sem pontes-cais e acrescentarei ainda, sem a electrificação ao menos da capital da província, porque a electricidade é a alma de toda a indústria, não se pode pensar a sério no desenvolvimento económico de Timor.