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304 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 187

responsável por uma luta de classes sui generis, por se referir a actividades económicas, e não a classes sociais...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Deve, de resto, dizer-se que, no fundo, parece ser este o entendimento comum e corrente nas medidas propostas pelos serviços ou adoptadas pelos responsáveis da Secretaria de Estado da Indústria...
Assim, tem-se como seguro que uma vez reorganizada a indústria, constituída esta por unidades eficientes e sólidas, deixará de haver quaisquer problemas de preços e de pagamento para a martirizada lavoura...
Assim, responsabiliza-se o Decreto-Lei n.º 39 178 pela deseconomia que obriga os industriais do vale do Vouga a ir buscar o leite a Monção e a Leiria, quando precisamente aquele decreto, com bastante pena da lavoura, não é ainda aplicado nessa região...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, considera-se como injustiça o não pagamento pelas cooperativas de contribuições e atira-se para a frente com os serviços e encargos que a administração pública suporta com as cooperativas por incapacidade destas...
Deve porém, esclarecer-se que o auxílio prestado noutros países, tanto na fase inicial como ainda hoje à organização cooperativa da agricultura, é muitas vezes maior do que entre nós e não deixa de incluir participações significativas em capital oferecido pelo Estado.
Ainda há poucos meses foi um governo de país amigo derrotado no seu parlamento por tentar fazer vingar uma proposta para reduzir os auxílios estaduais às cooperativas agrícolas...
Assim, entende-se dever o papel das cooperativas confinar-se quase só ao campo da polícia, no sentido tonto de fiscalização dos produtores como de educação dos mesmos.
Assim, admite-se que, por não poder estar o abastecimento de leite para consumo directo inteiramente desligado do seu fornecimento à indústria, algo de surpreendente também neste particular venha a passar-se...
Assim, aponta-se como campo em que a ideia cooperativa poderia utilmente actuar o da instalação e exploração de uma unidade destinada à laboração, extremamente- irregular, dos excedentes...
Assim, afirma-se, com coragem digna de realce, que não basta fazer consertos em concepções velhas, e para isso propugna-se o regresso à orientação do Decreto-Lei n.º 27 749...
Em todo o preâmbulo desta portaria de anunciação, que o Sr. Secretário de Estado da Indústria, pela pena do Sr. Ministro da Economia, fez publicar - na ausência das Secretarias de Estado do Comércio e da Agricultura, que talvez não sejam, de todo, indiferentes e estranhas aos problemas que suscita -, em todo o preâmbulo não perpassa uma manifesta incompreensão dos problemas da lavoura, dos esforços da sua organização cooperativa e corporativa, da luta de há longos anos travada, da experiência vivida, enfim, do problema que até chega a ser industrial.
Terá, a Secretaria de Estado da Indústria reparado que, desde 1958, aguardava a União das Cooperativas da Ilha da Madeira a autorização para instalar uma fábrica eficiente e suficientemente dimensionada e várias cooperativas, desde 1956, o alargamento da sua área?
Terá a Secretaria de Estado da Indústria notado que das 21 fábricas que laboram menos de 2000 l de leite naquela ilha nenhuma é cooperativa e que das 8 restantes se equivalem as 4 das cooperativas e as 4 dos industriais?
Terá a Secretaria de Estado da Indústria observado que das 37 fábricas que no continente laboram menos de 3000 l nenhuma pertence às cooperativas?
Terá, enfim, a Secretaria de Estado da Indústria tido presente que a única fábrica com capacidade para mais de 100 000 l é a que está em vias de conclusão pela União das Cooperativas Abastecedoras de Leite de Lisboa?
Certamente tudo isso pareceu, sob o ângulo industrial, secundário. De outra forma não se compreenderia que se apontasse o exemplo das cooperativas em outros países, onde preenchem, se não por completo, pelo menos em ampla percentagem, a industrialização do leite, e em seguida se verberasse a forma como as nossas cooperativas estão entrando no campo da indústria.
Respeito pelos interesses criados? Não, certamente, pois o respeito pelos interesses criados faria desistir de qualquer ideia de reorganização ou pelo menos de concentração. Respeito pelos interesses criados? Não, manifesta incompreensão.
E depois de tudo isto que dizer mais?
Que de um problema económico existente, que, se era importante, não era decisivo, nem vital, se está fazendo um grave problema económico, uma aguda questão social e uma perigosa fonte de perturbação política.
Dir-se-á que não é possível sair do actual estado de coisas sem levantar ondas, provocar as iras dos interesses feridos, ocasionar incompreensões e, quiçá, criar algumas perturbações.
É exacto. Mas não diz tudo nem explica o fundo da questão.
Era indispensável, neste caso, o procedimento, a desrazoabilidade das considerações, o despropósito das atitudes?
Seria este o campo que deveria preferir-se, este o ramo que deveria eleger-se e esta a oportunidade que deveria escolher-se?
Responderei afoitamente que não, redondamente que não. Estaria o País à espera -com alguma impaciência e, talvez, inquietação - que a reorganização industrial começasse a processar-se em iramos de que todos nos sentimos vítimas, pela carestia e má qualidade dos produtos, ou que, mais dia menos dia, serão sujeitos a dura competição internacional?
Tinha lógica o raciocínio, justificação a expectativa.
Eis quando, quebrado o silêncio, surge ante os nossos olhos a primeira reorganização - a de uma indústria peculiar que a lavoura legitimamente reivindica para a sua esfera, em domínio em que a actividade industrial tem o anais reduzido dos interesses, tanto sob o ângulo da exportação como sob o aspecto da futura competição internacional.
Porquê a preferência, quando se confessa e reconhece ser este dos campos mais complexos e intrincados?
Já ouvi justificar a preferência no propósito de atingir a lavoura com mais uma trovoada, mas não pode passar de anedota a interpretação. Mas, se não é verdade, parece.
Já ouvi interpretar a preferência em questões de superstição, no desejo de não começar, de não sair, como sói dizer-se, com o pé direito, mas tal não pode passar de dito de espírito.
Por mim filio-a no acaso, no acaso que vem sendo madrasta no tempo e também em algumas decisões, para não destoar.