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520 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 205

como, aliás, no resto da África dita descolonizada, de uma classe de políticos iletrados, de charlatães ou de falsos intelectuais, cem vezes mais duros, meãos liberais, menos esclarecidos que os chamados colonialistas franceses, ingleses ou belgas.

Nem sequer seria preciso lembrar que o pelourinho a que esta puritana república está solidamente amarrada se ergue no meio da vasta praça onde outras publicações, outros observadores e vários intervenientes nas conferências internacionais do trabalho classificam de trabalho involuntário (que delicioso eufemismo!) o trabalho na Libéria - na Libéria, que não fornece relatórios sobre as convenções ratificadas e que permite o trabalho forçado em proveito de particulares e nas obras públicas, como está escrito, para quem quiser ler, nos textos que resultaram da 44.ª sessão da Conferência Internacional de Trabalho, efectuada em Genebra no meio de Junho último.
Pois foi esta pomba branca que levou no bico até ao ninho do Conselho de Segurança da O. N. U. a importante maravalha da queixa contra o nosso país...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -..., com a qual os nossos amigos Estados Unidos da América, que nem sequer sabiam antecipadamente do solícito voo da pomba (está mesmo a ver-se!), se mostraram tão extremamente molestados que logo incharam e rufiaram no mais patético e inconcebível arrulho jamais visto na O. N. U.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que me perdoe V. Ex.ª, Sr. Presidente, e que me perdoe a Câmara o liso que estou fazendo do aço da ironia, mas só trovejando e manejando os gumes da ironia só poderá tratar estes conúbios do sim com o não, estes colapsos de senso comum, ou, o que é pior, estes erros trágicos deliberadamente e tremendamente cometidos.
A América votou com a Libéria contra Portugal em matéria estrita da nossa vida interna, em matéria indiscutível de integridade da nossa pátria.
Cometeram os dirigentes políticos da América do Norte um dos mais graves desvios da linha que lhes cumpriria seguir na sua política externa.
Para ganhar a simpatia de uns tantos negros que Portugal sempre considerou gente e a América, ao que parece, só agora pretende considerar gente e super-gente ao mesmo tempo, arriscou-se o Sr. Adiai Stevenson, como representante do seu país no Conselho de Segurança da O. N. U. - do seu país, que é membro ditatorialmente grande e democraticamente permanente d asse Conselho -, a abrir uma profunda e irremediável brecha na defesa do Ocidente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Para tanto não lhe tremeram as mãos nem se lhe ruborizaram as faces, ao admitir a queixa da Libéria à discussão no Conselho de Segurança, quando a Carta da instituição lhe vedava o direito de se ocupar de sucessos que não ameaçam a paz internacional.
Nem as mãos lhe denunciaram qualquer espécie de sobressalto, nem as faces se lhe incendiaram de qualquer espécie de vergonha, ao permitir que se discutisse, som a duvida votação prévia, a queixa, infundada e encomendada, da mais do que infundada e encomendada Libéria.
Nem a consciência, acima das mãos e das faces, lhe acusou os toques da injustiça e da ilegalidade.
Nem o senso comum o desviou de aliar o seu voto ao voto da Rússia no mais descarado apoio à consequente moção subscrita pela pretensamente ofendida Libéria e pelos não menos pretensamente ofendidos Ceilão e R. A. U.
Nem ao menos se sentiu, por natural impressão, em terreno falso ao pretender, com o seu voto, sujeitar Portugal à ditadura ignominiosa do número.
Nem a lei o deteve, nem a razão, nem a prudência, nem os pactos de aliança, nem as reais conveniências da defesa comum.
Por outro lado, um tal Sr. Williams, que dizem estar ligado a uma grande empresa norte-americana interessada na expansão comercial de produtos destinados a aplicações cutâneas, encarregou-se, como encarregado do Governo dos Estados Unidos da América, de trabalhar subcutâneamente, na própria África, os negros africanos, proclamando-lhes há poucos dias que a África é deles e só deles.
Quer dizer, dentro e fora da O. N. U. a política norte-americana está apostada em fazer do seu especialíssimo anticolonialismo uma arma de conquista de gentes e de mercados, empenhada na expulsão dos brancos europeus de todo o continente africano.
Mas fez-se uma guerra maior do que todas por causa do chamado racismo germânico!
Mas arvoraram-se e arvoram-se como argumento os sagrados direitos do homem!
E prega-se a expulsão do homem branco da África inteira ?
E incita-se a presença negra contra a presença branca ?
Em nome de que princípio, em nome de que código, em nome de que consciência, em nome de que moral, em nome de que juízo, em nome de que estado de raciocínio? Sr. Presidente: sinto que excedi o tempo regimental.
Mas continuarei, se V. Ex.ª me permitir, numa das próximas sessões. Desejo falar ainda, com mais demora, do Brasil. Vou, portanto, terminar os meus comentários de hoje, retomando-os no ponto em que os deixei:
Sou um pequeno David e vejo na minha frente um gigante. Mas tenho a certeza de que as pedras da minha funda lhe acertaram em cheio.
Li, já não sei onde, que qualquer dia a ilha de Samoa - a ilha de Samoa! - se tornará estado independente. Mais uma república a sair das fábricas de repúblicas montadas pela Rússia e pela América. O que é preciso é fazer da O. N. U. um parlamento onde os votos possam ser ganhos com tempo ou caçados nos corredores à última hora.
Realmente Portugal está a ser atacado pelo mais sinistro e ardiloso conluio internacional jamais visto na história. Até as ficções mais espantosas são mobilizadas contra nós.
Chegou-se a este tremendo paradoxo:
A O. N. U. está no ex-Congo Belga para manter a paz. Nós estamos em Angola vivendo em paz. Do território à guarda da O. N. U. vieram bandos de terroristas atacar Angola e incitar alguns nativos à rebelião. Logo a O. N. U. tem o direito de pedir contas a Portugal, por estar ameaçando a paz em Angola.
Espantosamente incrível.
E a gente tem de perguntar como se a pergunta fosse escândalo:
Se neste Mundo a loucura ainda é loucura e o juízo ainda é juízo, quem ajuizada e indiscutivelmente tem coutas a pedir não será Portugal à O. N. U. - à O. N.º U. que tem bandeira e tropas no ex-Congo