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6 DE ABRIL DE 1961 521

Belga para manter a paz e não a mantém, à O. N. U. que ninguém sabe se disporá de tempo de vida para chegar a ter remorsos do «mal e da caramunha»?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não estou atacando uma nação, estou flagelando uma política.
Eu sei que nos Estados Unidos da América Lá muita gente que não pensa como os Srs. Stevensons.
Sei que a consciência de muitos norte-americanos está alertada pelos verdadeiros e grandes perigos que corre o Ocidente, até pelo perigo de se repetir no Panamá o que se deu no canal do Suez, como se repetiram em Cuba os processos de nacionalização do esforço e do capital alheios usados no Egipto sem temor nem rebuço.
Sei até de alguns que pensam no terrível precedente agora aberto e o relacionam, na justa medida, com a situação de Porto, Bico, do Alasca, do Hawai, das províncias do Sul dos Estados Unidos da América, onde a discriminação racial é uma chaga que supura todos os dias.
Sei, decididamente, que não é lícito pagar com os bens alheios os erros próprios.
Sei tudo isto, mas sei também que sou, acima de tudo, português, europeu, ocidental, tão ocidental como esses norte-americanos plenamente esclarecidos sobre o real conteúdo desta hora decisiva.
E sei, sei ainda que não pode continuar esta farsa de acusar as vítimas de ameaçarem a paz e de conceder aos algozes a paz propícia para fazerem mais vítimas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Portugal, quando partiu para a gesta dos Descobrimentos, também o nomearam de audacioso e obstinado. E depois viu-se que Portugal repartiu pelo Mundo o juízo da sua audácia e os frutos da sua obstinação.
Também agora não faltará quem mós acuse de temerários e teimosos. Mas amanhã será abençoada a nossa temeridade e louvada a nossa teimosia.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O sangue português derramado mas terras de Angola há-de reflorir em mais almas e mais bandeiras - mais almas e bandeiras de Portugal.
Rezo pelos nossos, pelos que tombaram já e por aqueles que não sabem se tombarão hoje ou amanhã. Mas rezo, sobretudo, pela Pátria, que nunca tombará, pela Pátria acima de tudo, pela Pátria que é feita de mortos e vivos.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Melo Machado: - Suponho, Sr. Presidente, que nós, os Deputados, na defesa da compostura que tem sido a apanágio da nossa Assembleia e na compreensão de que a política externa é assunto melindroso que deve estar ao cuidado do Governo, temos mantido uma atitude de excessiva correcção para com todos aqueles que interesseiramente têm vindo a acusai-nos e a atacar-nos, fazendo-o com uma falta de verdade e de sinceridade verdadeiramente revoltante.
É manifesto que, na essência e na forma, essas acusações e esses ataques não respeitam o estatuto das Nações Unidas, destroçando-o e falseando-o com o mesmo
à-vontade com que falseiam a verdade, tendo nós verificado que esses ataques e essas acusações têm um fim interesseiro e visam apenas a expulsar-nos de África, que nós descobrimos e pusemos em contacto com a civilização. Verificamos ainda que, apesar de todas as declarações de um pretenso interesse, só agora manifestado, pela raça negra, se não respeitam afinal aqueles que procederam como nós, que nunca expulsámos os indígenas das províncias ultramarinas do nosso convívio, e natural é que os Portugueses se sintam indignados, revoltados, contra uma atitude tão facciosa, e injusta.
Nesta Casa está a representação nacional; justo é que ela se faça eco dessa indignação, dessa revolta, amplificando os clamores que de Norte a Sul, do Minho a Timor, se formulam; é aqui que eles devem acumular-se para encontrarem volume apropriado à expressão de uma indignação nacional por de mais legítima e necessária.
Mas não só isso. Se entre os que ferozmente nos atacam estivessem apenas os inimigos naturais, e, como tais, apenas concebo os comunistas, pois sendo de paz, sempre de paz, a nossa política, praticamente não deveríamos ter outros inimigos no Mundo, teríamos apenas de desprezá-los pela sua felonia, pela descarada-impostura com que pretendem apresentar-se como democratas, como defensores dos direitos das gentes, contra os trabalhos forçados, contra a tirania e as torturas, quando são, eles sim, tirânicos e despóticos, quando devassam espionando até o pensamento dos que lhes estão sujeitos, quando reconhecidamente adoptam o trabalho escravo.
E porque sempre, por um instinto repulsivo, nos mantivemos longe do seu desagradável contacto, compreendemos que nos odeiem. Mas já não o podemos compreender, porém, da parte de todos aqueles para quem podemos ser indiferentes, mas que não têm contra nós a mais insignificante razão de queixa. Esse facto, creio, podia e devia torná-los imparciais e justos nas suas apreciações e nos seus votos.
Mas ainda menos podemos, porém, compreender que os aliados e amigos se bandeiem com os nossos e seus inimigos, falseando todos os princípios que naturalmente presidem às alianças e às amizades, apenas na ânsia falaz de lograrem as simpatias dos que agora chegam, sem garantias, sem serviços prestados à humanidade, para os contrabalançarem connosco, que temos oito séculos de existência e uma história tanto mais heróica, digna e útil quanto, na nossa pequenez territorial, pudemos superar em grandeza de alma e em feitos realizados alguns dos grandes do Mundo de agora que ao tempo não existiam sequer.
Isso não o podemos compreender por iníquo, por absurdo, e até por ser pouco inteligente. Os Estados Unidos da América têm pretendido apresentar-se como campeões da defesa do Ocidente contra os ataques da Rússia Soviética, contra a sua ânsia de predomínio, contra a imoral falsidade dos seus propósitos, e com esse objectivo congregaram à sua volta as nações ocidentais e pretendem conduzi-las. Em tão vasto campo e na congregação de tantas e tão desvairadas gentes podem compreender-se as dificuldades, podem admitir-se hesitações, pode mesmo aceitar-se de boa mente um ou outro fracasso. Mas a hesitação permanente, a deslealdade evidente para com os seus aliados, não só dá uma insegurança total quanto ao futuro do Ocidente, como tem proporcionado à Rússia Soviética ganhos constantes, que são por de mais evidentes.
Pela nossa parte creio que extravasámos a medida ao verificarmos que a América prefere pôr-se ao lado da sua figadal inimiga, que jamais lhe perdoará, que