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6 DE ABRIL DE 1961 517

Quem conseguirá levar todos os Estados africanos, acabados de sair da parcela de pressão em que foram cozinhados, a verem que Portugal é, há que séculos, tão português na Europa como mais ilhas do Atlântico, na África, na Ásia e na Oceânia.?

Quem será capaz de fazer com que a extremosa Libéria aplique a si própria o, dose total dos seus angélicos caminhos, de modo a pôr imediato cobro, ao arreganho ditatorial de uns tantos negros vindos dois Estados Unidos da América e à inefável discriminação económica a favor de uma poderosa empresa, norte-americana?

Quem terá forças para abrir os olhos da razão ao Ghana e fazer-lhe ver que não tem autoridade nem razão nenhuma na gana com que nos ataca, até pelo regime de trabalho forçado a que sujeita os seus naturais e pela curiosa atitude de recém-nascido com arremedos de gente amadurecida?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quem possuirá a forma de ensinar o Congo ex-francês, que parece não estar convencido dos actuais limites das suas fronteiras, de que são e sempre foram diferentes, ao longo de quatro séculos, os nossos métodos de colonização, invariavelmente processados através do sentido humano e cristão da integração ?

Onde estará o detentor do milagroso poder de converter as ondas erguidas pelo vento que sopra do quadrante comunista contra o nobre reduto lusitano?.

Quem? - se eles é que praticam tudo aquilo de que nos acusam e não nos acusam de tudo quanto nós fazemos e eles não são capazes de praticar!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem ? - se eles estão dispostos u guerra fria e à. guerra quente (que eufemismos, santo Deus, se usam agora neste mundo!): à guerra fria desde que ganhem todos os dias um dia; à guerra quente se virem que os dias formam, dia a dia, barreira contra as suas deliberadas e criminosas intenções.

A Rússia tem um regime despótico, possui campos de concentração, prende e deporta como e quando quer, pratica o mais feroz dos colonialismos, que é o colonialismo em relação a países civilizados e que eram independentes, intervém na vida interna das outras nações, envia tropas para as subjugar, como no caso trágico da Hungria, ou inocula-lhes armas, dinheiro, ideias e agitadores, arranca dos seus lares crianças indefesas para as educar na escola do mal, recruta nacionais de outros Estados para os preparar e treinar na arte da subversão, ameaça a paz do Murado com palavras incendiárias e actos explosivos, e Portugal é que vive em ditadura, é que prende, a torto e a direito cidadãos sem culpa nenhuma, é que é colonialista, é quê põe em perigo a paz internacional!

Francamente, às vezes a razão é tanta, que dá vontade de explodir de razão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos de mudar de métodos. A ofensiva não pode ficar eternamente a cargo deles. A história ensina-nos que todas as atitudes permanentes de defesa, tomadas como processo táctico no quadro de qualquer guerra, acabam por aniquilar o vigor dos combatentes,, designadamente o vigor psicológico. Mas quando digo temos, não me refiro a Portugal: refiro-me a este Ocidente de que Portugal faz parte, a este Ocidente que não pode nem deve ser uma palavra, vazia de conteúdo, uma palavra apelado ou nome que lhe puseram, uma, palavra meramente e sossegadamente desenhada à cabeça de um programa sem qualquer expressão tangível, ou realmente prática, ou realmente exequível.

Onde estão os países amigos?

Não os poderemos descobrir, de maneira nenhuma, entre aqueles que se movem a soldo da Rússia ou da China Vermelha. Teremos, sim, de os encontrar entre os que firmaram connosco os mesmos pactos, as mesmos alianças, e que são, ou pelo menos devem, ser, tão interessados como nós na luta contra o inimigo comum. Não estamos em tempo de perder tempo com aparências inúteis ou com atitudes sem resultado positivo.

É evidente que falo como homem que raciocina em presença dos factos que vêm à superfície. Não lido com papéis secretos, com documentos guardados nos arquivos, com instrumentos compreensivelmente mantidos no sigilo das altas secretarias de Estado. Nem me passa pela cabeça, designadamente nesta hora, pretender devassar o que se mantém e deverá manter-se no conhecimento dós responsáveis pela condução da nossa política externa, em boa e providencial hora confiada a quem tem dado mais do que sobejas provas de a conduzir com sábio acerto e patriótico fervor. Mas não serão os golpes que lios feriram, vibrados por aqueles que se dizem nossos amigos, tão vivos e profundos, que já não é possível abafar a voz perante a dor? E as realidades visíveis, palpáveis, evidentes, injustificadamente atiradas contra nós por quem tinha a natural e imperiosa obrigação de não as construir ou fabricar, não serão mais do que título legítimo para a nossa reacção? Acaso poderemos permanecer quietos perante infidelidades atrozes? Diz o povo que quem não se sente não é de boa gente e o povo está agora aqui, falando juntamente comigo, ou eu estou falando como ele ou por ele, pela sua boca honrada e intemerata.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Analisemos então o panorama com a calma indispensável e usando a concisão de termos compatível com o tempo de que disponho, mas não sem tentar aproveitar o tempo para o encher das reflexões e dos argumentos que me acudirem:

A Espanha, vizinha e amiga, compreende perfeitamente a nossa unidade geográfica, política e moral. Sabe e sente que não fechamos o nosso destino nesta estreita faixa peninsular e que vencemos o mar e os longes para os ganharmos para nós e para o Mundo. Para o Mundo especialmente, porque na medida em que povoamos e lavramos almas e terras o aumentamos realmente. Temos com a Espanha uma aliança de fé e de inteligência, decidida e pronta a combater mais uma vez, se necessário for, ombro a ombro, sem um desfalecimento da verdade e da força que nos une. O Sarraceno poderá vir - e os sarracenos agora são muitos e variados -, mas em Navas de Tolosa e no Salado eles também eram muitos e a história é ainda, e continuará a ser, a maior e a mais segura factora de história.

A França, no seguimento da sua política de abrir mão das suas posições na Ásia e na África - da sua política, sublinho, para que não se tire exemplo nem argumento -, parece fechar-se em determinado conceito que não prescinde do valor da Europa. Se não se colocou francamente ao nosso lado, o certo é que se absteve de apor o seu nome à autêntica violação da Carta das Nações Unidas por parte da inacreditável Libéria e dos seus inacreditáveis acólitos.

A Alemanha Ocidental, essa, suando por todos os poros na ladeira por onde sobe com a cruz dos seus desejos e razões mais do que atendíveis de unificação e